Segundo maior fornecedor: aço brasileiro é importante para os EUA?
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma nova tarifa de 25% sobre as importações de aço, impactando diretamente o Brasil. O país é um dos principais fornecedores de aço e ferro para os EUA e, em 2024, foi o segundo maior exportador do produto para o mercado americano, com uma média mensal de 312.239,34 toneladas métricas importadas para consumo doméstico. O aço brasileiro é relevante para os EUA para abastecer suas próprias siderúrgicas. Diante da nova tarifa, o setor siderúrgico brasileiro já avalia estratégias para mitigar os danos, segundo especialistas.
O que aconteceu
A decisão de Trump, anunciada no último domingo (9), coloca uma barreira significativa para a indústria siderúrgica brasileira, que exporta principalmente produtos semiacabados para os EUA. O impacto pode chegar a US$ 5,7 bilhões em exportações.
Em 2024, as exportações de aço do Brasil totalizaram 4,3 milhões de toneladas, representando 1,58% das exportações totais do país. O impacto é especialmente preocupante porque 48% das exportações brasileiras do setor de ferro e aço são destinadas aos EUA, um mercado que depende do fornecimento brasileiro para abastecer suas próprias siderúrgicas.
Segundo o economista Natan de Souza Marques, da Universidade Cruzeiro do Sul, os produtos semiacabados, como placas de aço e tarugos, são mais demandados pelas fábricas americanas e há uma forte dependência desse tipo de importação. "Os EUA importam esses produtos porque precisam abastecer suas laminações locais. Existe uma demanda contínua para esse tipo de insumo, e é por isso que há uma possibilidade de que as tarifas sofram algum tipo de flexibilização para os produtos semiacabados", avalia.
Já no caso do aço acabado, como chapas, vergalhões e tubos, o impacto pode ser ainda mais severo, pois esses produtos competem diretamente com as siderúrgicas americanas. Para esses segmentos, a nova taxa pode inviabilizar exportações, tornando o aço brasileiro menos competitivo frente aos concorrentes locais.
Além do volume exportado, há outro fator que torna o Brasil um fornecedor estratégico para os Estados Unidos: a proximidade geográfica e a abundância de minério de ferro. O advogado Antônio Carlos Morad, especialista em direito tributário e empresarial, explica que a logística favorece a compra do aço brasileiro e que os americanos dependem do minério sul-americano.
O aço brasileiro é fundamental para os Estados Unidos porque estamos geograficamente próximos, o que facilita a logística de transporte. Além disso, o Brasil possui uma das maiores reservas de ferro do mundo. Carajás, por exemplo, tem uma reserva estimada em 190 bilhões de toneladas. É um volume gigantesco.
Antonio Carlos Morad
Aço de qualidade
Morad também destaca que, apesar da grande disponibilidade de minério, o Brasil tem relativamente poucas siderúrgicas. "Temos cerca de meia dúzia de grandes siderúrgicas no país. Mas o nosso aço é de excelente qualidade, e os americanos reconhecem isso. Eles importam muito do nosso aço acabado, especialmente chapas, e também ferro-gusa, que usam para produzir o próprio aço nos EUA".
Segundo o advogado, a dependência dos EUA pelo aço e pelo minério brasileiro ocorre porque suas reservas internas estão praticamente esgotadas. "Os Estados Unidos e a Europa exploraram tanto suas jazidas ao longo do tempo que hoje quase não têm mais reservas significativas de minério de ferro. Por isso, dependem da América do Sul. Eles não vão recorrer à Ásia, porque os países asiáticos são pobres nesse minério".
A dependência norte-americana não se limita ao ferro. "Isso não ocorre apenas com o ferro: no caso dos metais, por exemplo, o Chile é o maior produtor de cobre do mundo. O continente americano é uma fonte estratégica de insumos essenciais para a indústria global", completa o advogado.
Para Morad, o Brasil pode negociar a revogação ou flexibilização da tarifa com base na interdependência comercial entre os países. "O Brasil é um fornecedor essencial para os EUA em diversos setores e tem um peso comercial relevante. Além disso, o Brasil importa muitos produtos de tecnologia americana, então há margem para negociação e contramedidas caso o governo brasileiro decida retaliar essa tarifa", explica o advogado.
Entre as possíveis estratégias de negociação, o especialista aponta que o Brasil pode usar sua relação com empresas norte-americanas instaladas no país como um fator de pressão diplomática. Ele também menciona que um aumento na taxação de produtos dos EUA poderia ser uma resposta viável, especialmente em setores como gás liquefeito e fertilizantes.