Alta dos juros é desastrosa e vai asfixiar a economia, diz dono da Petz
A alta de 1 ponto percentual na taxa básica de juros, a Selic, é desastrosa e vai asfixiar a economia, em especial o varejo. É o que diz o empresário Sérgio Zimerman, CEO da rede Petz, a maior varejista de produtos para animais de estimação do país. A ação da Petz opera em queda de cerca de 8% nesta quinta-feira. O Banco Central subiu a Selic para 12,25% ao ano nesta quarta-feira (11) e sinalizou mais duas altas de 1 ponto percentual nas próximas reuniões, o que levará os juros para 14,25% ao ano em março de 2025.
O que ele disse
Juros reais ficarão em patamar "inacreditável". Zimerman classifica a política fiscal do Banco Central como "desastrosa". Ele afirma que o aumento anunciado pelo BC, e a perspectiva de dois novos aumentos de 1 ponto, elevarão os juros reais do Brasil ao patamar de 10% ao ano, algo "inacreditável". "É inacreditável que a gente esteja nesse patamar", disse.
Dose do remédio pode matar o paciente. O empresário compara a situação econômica do país com a de um paciente com febre. "Um paciente com febre, você pode matar o paciente que a temperatura vai baixar. Aqui temos um pouco de febre, que é a inflação, mas, se não dosar o remédio do jeito correto, você vai matar o paciente", disse.
Patamar de juros vai "asfixiar a economia". Para Zimerman, o resultado da alta dos juros será uma asfixia da economia do país e do investimento das empresas. Ele argumenta que poucas vezes o país teve juros reais no patamar de 10% ao ano. "Mesmo quando tinha juros muito altos, a inflação era mais alta", diz.
Alta dos juros não atende a demanda do setor produtivo. Para quem gera empregos, decisão é "ponta pé na canela", diz. "Com certeza não é uma demanda do setor produtivo. Pode ser uma demanda de quem é rentista, quem vive do dinheiro aplicado. Para quem vive da produção, do comércio, de gerar empregos e investir no Brasil não atende em absolutamente nada", diz.
Varejo é penalizado duplamente. Segundo o empresário, o impacto da alta dos juros será ainda maior para as empresas de varejo que estão endividadas. De um lado, esse varejista verá uma alta nos juros de suas dívidas. Do outro, ele terá mais dificuldade em vender, pois o seu consumidor também precisa de acesso a crédito para comprar a prestação. "Para o varejo, é catastrófica uma alta de juros nessa magnitude", diz.
Setor já está asfixiado por outros fatores, como as bets e as compras internacionais. O empresário argumenta que o varejo já está asfixiado por outros fatores, como o crescimento das empresas de apostas, as bets, que comem uma fatia da renda da população, e também pelas compras internacionais, que passaram a ser taxadas, mas ainda pagam alíquota menor do que os produtos vendidos no país.
Juros nesse patamar geram mais concentração de renda. "Juros desse tamanho só geram mais concentração de renda na mão de quem tem muito. É uma transferência de renda absurda de quem não tem recursos aplicados para quem tem", diz. Segundo ele, a inflação também é perversa para os mais pobres, mas não há necessidade de juros reais perto dos 10% ao ano para controlar a inflação.
Impacto no setor
Taxas de juros elevadas comprometem o comércio. O instrumento de política monetária para conter a alta da inflação tem potencial para segurar o consumo e afetar o desempenho do segmento. Ações de empresas de varejo operam em queda nesta quinta-feira, dentre elas Carrefour (-11%) e Magazine Luiza (-9%).
"Não podemos concordar" com juros no patamar que está, diz IDV (Instituto para o Desenvolvimento do Varejo). Em nota, a entidade disse que "a taxa de juros no patamar que está a Selic, a 12,25% ao ano, é algo que não podemos concordar". "Muito provavelmente, os integrantes do Copom vislumbraram riscos para a economia, a médio e longo prazos, o que levaram a tal decisão. É necessário um alinhamento dos agentes econômicos do país para que o mais breve possível a taxa de juros caia abaixo de dois dígitos e a economia não retroceda na sua dinâmica atual", diz a nota.