Portela encerra primeiro dia de desfiles do Rio de Janeiro com homenagem a Madureira

Do UOL, no Rio de Janeiro

Com homenagens a personagens e a história do bairro de Madureira, a Portela encerrou a primeira noite de desfiles cariocas com o enredo "Madureira... Onde meu coração se deixou levar", do carnavalesco Paulo Menezes. Na concentração do desfile, uma destaque de carro quebrou a perna depois de cair de uma altura de quatro metros, após a alegoria bater em uma árvore e a fazer desequilibrar. Anne Raquel, de 41 anos,  foi prontamente atendido pelos bombeiros e integrantes da escola.

SAMBA DA PORTELA

 

Abre a roda, chegou Madureira
A poeira já vai levantar
O batuque ginga ioiô
Ginga iaiá

E lá vou eu cantando com a minha viola
O amor tem seus mistérios
Por onde me deixo levar
Laiá
Nossa história começa por lá
No engenho da fazenda
Dos cantos de “canaviá”

Bate o sino da capela
Ôi… que é dia de santo, sinhá

Tem mironga de jongueiro
O tambor me chamou pra dançar

Tempo rodou na roda do trem e veio
A inspiração do partideiro
Que versou no Mercadão
Foi nesse chão
Que a estrela brilhou no tablado
O “Madura” pisou no gramado
O malandro charmoso dançou
No pagode com outro gingado
Quando o bloco chegou
Agitou o suingue do black
E a nega baiana girou

Cai na folia, sem grilo, meu bem vem na fé
Na ilusão da fantasia
Vai como pode quem quer

Surgiu a serrinha imperial
Em outros caminhos para o mesmo ritual
Portela, meu orgulho suburbano
Traz os poetas soberanos nesse trem para cantar
Que Madureira é muito mais do que um lugar
É a capital de um sonho que me faz sambar

Abre a roda, chegou Madureira
A poeira já vai levantar
O batuque ginga ioiô
Ginga iaiá

A Portela fez bonitas homenagens a integrantes da velha guarda. Dona Esther, mãe de santo famosa em Madureira, e Dona Dodô, passista com 93 anos, foram temas de carros alegóricos e da ala das baianas. Tia Surica, de 72 anos, que aos quatro anos já desfilava pela escola, ganhou destaque em uma das alegorias. A agremiação mostrou bastante cuidado com as coreografias de todas as alas, o que ajudou a valorizar as cores e a coreografia da escola na avenida.

Personagens do cotidiano do bairro também foram inspirações para o Carnaval da agremiação. O Mercadão de Madureira, famoso por vender itens para as religiões de umbanda e candomblé, foi homenageado com uma alegoria criada com grandes caixas de madeira.

"Madureira tem tudo a ver com Portela. Foi uma coragem um enredo sem patrocínio. Com grande dificuldade, a Portela superou ali no chão", disse o cantor e compositor Monarco, integrante da velha guarda.

Portelense, o cantor e compositor Paulinho da Viola foi homenageado com o carro-alegórico O Trem do Samba do Paulinho. "Estou muito emocionado com a homenagem da minha escola do coração", disse Paulinho, de 70 anos. "Apesar de desfilar há mais de 40 anos, sempre é como se fosse a primeira vez". O compositor lembrou  a relação da escola com o samba. "Além de ter uma importância com o samba, o bairro foi um dos primeiros a firmar um comércio. Muitas pessoas que moram lá nasceram lá. Lembro dos carnavais nos coretos do campinho e de Vila Valqueire. O Carnaval de 1970 da Portela foi um dos mais bonitos.

Os bailes de charme que acontecem embaixo do viaduto Negrão de Lima, no subúrbio carioca, foram representados por dois DJs de festas locais e uma escultura de um negro com black power. O cantor e músico Hyldon, autor de sucessos como "Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda" e "As Dores do Mundo" foi destaque na alegoria.

O desfile foi aberto por um trailer onde os atores trocavam de roupa rapidamente, com sambistas malandros se transformando em vedetes, para simbolizar o Teatro de Madureira. O carro abre-alas, que leva tradicionalmente a águia da escola, homenageou a ascendência indígena dos habitantes com Tupã em tons de azul claro. A alegoria tinha um chafariz que espirrava água de verdade nos destaques.

Uma ala com passistas jogando basquete de rua  fez uma brincadeira com o carnavalesco da Tijuca, Paulo Barros. No placar, a Portela exibia 21 títulos contra 3 da Unidos da Tijuca. Em contraponto, a escola também homenageou a Império Serrano, que tem quadra em Madureira.

Um dos mestre-sala da Portela grafitou a saia da porta-bandeira com quem dançava. A saia preta usada no início do desfile ficou tricolor e foi "pichada" com o nome da escola. Um dos carros homenageou D. João 6º com escultura de escravos e canas de açúcar em verde fluorescente.

O ator Milton Gonçalves encerrou o desfile interpretando Mestre Natal da Portela, um dos patronos da escola. Em 1988, o ator já havia interpretado o mesmo personagem no cinema.

A frente da bateria, depois do reinado de dois anos da atriz Sheron Menezzes, a nova aposta da escola é a publicitária Patrícia Nery, de 38 anos, que foge do padrão que é maioria no Carnaval carioca: celebridades ou dançarinas. Casada e mãe de duas filhas, Patrícia Nery é nascida e criada no bairro de Madureira. Em 2008, Nery estreou como rainha na União do Parque Curicica da Série A, e durante dois anos foi rainha da Renascer de Jacarepaguá, tendo em 2012 desfilado no Grupo Especial. 

Comente no Facebook