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Carros brasileiros estão mais seguros, mas só para quem paga caro

do UOL

Julio Cabral

Do UOL, em São Paulo

19/08/2022 04h00

Os assistentes de segurança vieram para ficar. Mesmo os hatches e sedãs compactos contam com tecnologias que eram restritas até pouco tempo atrás a modelos de luxo, mas muitas delas só estão disponíveis em versões de topo.

As tecnologias ativas ou reativas são responsáveis por ajudar o motorista a evitar ou mitigar os efeitos de uma colisão. UOL Carros conversou com especialistas para falar um pouco mais sobre a popularização e também como conscientizar os clientes.

Tecnologias passivas são diferentes das ativas, pois servem para dar maior segurança em caso de impactos. Tanto uma quanto a outra são avaliadas em teste de impactos de institutos como o Latin NCAP, instituição latino-americana responsável pela avaliação de carros vendidos no mercado latino.

Como os protocolos estão cada vez mais rígidos, os fabricantes correram para atender os requisitos dos testes de impacto, que estimularam a adoção de materiais de construção mais refinados e recursos mais avançados, caso como airbags laterais dianteiros e do tipo cortina, este último capaz de proteger todos os passageiros laterais. Todos vêm de série em carros como o Chevrolet Onix ou foram adotados recentemente por outros, caso do HB20.

Oferecer tais salvaguardas desde os modelos mais baratos já é algo a ser comemorado. Porém, o mesmo não acontece com os dispositivos de segurança ativa.

Estamos falando de recursos como sensor de ponto cego, frenagem automática, monitoramento e correção de permanência na faixa de rodagem, entre outros. Nem todos estão disponíveis em cada modelo, logo, você teria que optar por um carro que conta com alguns e dispensa outros.

Outro ponto crítico é o fato que muitas dessas tecnologias ativas - aquelas que reagem para evitar um acidente - estão restritas às configurações mais caras destes carros. É o caso de alguns hatches e sedãs compactos, caso dos dois modelos mais vendidos do mercado, o Hyundai HB20 e o Chevrolet Onix, que, em suas versões sedãs, repetem o mesmo efeito visto nas configurações de dois volumes.

Por mais que a popularização de tais itens de segurança ativa seja notável, você terá que gastar mais dinheiro para tê-las em seu carro, uma vez que as configurações top ficam acima dos R$ 100 mil, cerca de R$ 20 mil ou R$ 30 mil a mais do que as versões básicas. É o preço da segurança. É bem diferente da realidade do continente europeu, onde alguns países já cobram a frenagem automática de série.

Chevrolet Onix Premier traz detector de ponto cego - Reinaldo Canato/UOL - Reinaldo Canato/UOL
Chevrolet Onix Premier traz detector de ponto cego
Imagem: Reinaldo Canato/UOL

A realidade é que o custo dos equipamentos de segurança ativa é muito alto. "Esses sistemas eletrônicos embarcados são ferramentas extremamente eficientes para essas situações de trânsito e também a possibilidade de atropelamentos. O problema é que a pesquisa e desenvolvimento tiveram um custo, a maioria dos dispositivos é importada e tudo precisa ser homologado. É natural que haja um custo embarcado", enumera Jairo de Lima Souza, da Engenharia Mecânica da FEI.

A questão do tamanho do nosso mercado também não dá escala para localizarem tais equipamentos, termo que a indústria utiliza para se referir ao processo de nacionalização de produção. Sem falar na dificuldade de fornecimento de semicondutores.

"Tem algumas variáveis. Primeiro é o volume do nosso mercado, pois você não tem no Brasil os grandes produtores de novas tecnologias que têm nos mercados chinês, europeu e americano", explica Marcus Vinícius Aguiar, vice-presidente da AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva, em entrevista sobre itens de segurança.

Há um bom exemplo recente da limitação da oferta de itens versão a versão. O renovado HB20 traz um belo arsenal de itens de segurança ativa, equipamentos que incluem frenagem automática, detector de ponto cego (presente também no Onix), assistente de manutenção de faixa e assistente de tráfego cruzado traseiro, uma solução que evita colisões ao sair de marcha ré de uma vaga.

Porém, o pacote completo está disponível apenas na Platinum Plus, justamente a mais cara. O Onix Premier tem dois diferenciais em relação ao HB20 top: sensores de estacionamento dianteiro e assistente de estacionamento.

Outros compactos nem contam com isso nas versões mais caras. É o caso do Volkswagen Polo, cujo pacote de segurança ativa é deficiente e até airbags do tipo cortina são dispensados, pontos remediados no primo Nivus. São falhas que devem ser sanadas na reestilização, evento que está marcado para acontecer ainda em 2022.

Algumas das tecnologias se baseiam em soluções mais simples do que em modelos mais caros, exemplo do controle de ponto cego, assistente que utiliza os sensores ultrassônicos traseiros para verificar se há um veículo vindo ou não. Para ter um pacote mais avançado de segurança ativa, o HB20 se vale de uma câmera dianteira, algo que deve se popularizar cada vez mais no nosso mercado. Segundo a ZF, famosa fornecedora de tecnologias automotivas, até 26% dos carros brasileiros zero km terão frenagem automática até 2025.

A adoção das tecnologias de segurança ativa mais recentes se soma aos assistentes já popularizados, caso dos controles de tração e de estabilidade, ambos de série na maioria dos carros vendidos no mercado brasileiro, mas que só serão obrigatórios para todos os carros em 2024.

Ainda não será agora que a legislação vai obrigar os fabricantes a instalarem a maioria dos itens citados no texto, contudo, a mudança pode ser mais rápida com a conscientização dos consumidores. No entanto, não basta conscientizar. Tem que ter dinheiro para pagar.

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