Topo
Notícias

Vitória de aliada no Wyoming fortalece estratégia de Trump de dar sua "cara" ao Partido Republicano

17/08/2022 07h25

Como previam as pesquisas, a deputada Liz Cheney, uma das mais contundentes críticas de Donald Trump dentro do Partido Republicano, perdeu as primárias no estado de Wyoming nesta terça-feira (16). Ela foi derrotada pela advogada da indústria de gado e novata Harriet Hageman, que contou com amplo apoio de Donald Trump. Cheney, que é vice-presidente da comissão na Câmara de Representantes que investiga o ataque ao Capitólio, recebeu apenas 29% dos votos contra 66% de sua adversária.

Leandra Felipe, correspondente da RFI em Atlanta

As primárias no estado de Wyoming foram mais um teste para medir a força política de Trump, antes das eleições parlamentares de meio de mandato nos Estados Unidos, previstas em novembro. Essas eleições podem mudar completamente a configuração do Congresso, hoje de maioria democrata.

Os resultados das primárias são importantes para que Trump possa moldar o partido e fortalecer as alas que o apoiam, minando figuras moderadas e tradicionais que não são favoráveis à sua política nacionalista. Até agora, o ex-presidente conseguiu garantir candidaturas a governos estaduais e cargos legislativos no Senado e na Câmara de Representantes nos estados de Wisconsin, Connecticut e Wyoming.  

O ex-presidente busca garantir o maior número de candidatos alinhados a ele, e diminuir a representatividade de vozes contrárias à sua candidatura pelo partido nas eleições presidências de 2024. A derrota de Liz Cheney também é uma demonstração da força de Trump entre seus eleitores. 

A deputada, filha do ex-vice-presidente Dick Cheney durante o mandato de George W. Bush, perdeu a chance de disputar o quarto mandato pelo partido. O Wyoming também representa um dos maiores redutos pró-Trump nos Estados Unidos. Há dois anos, na disputa contra Biden, o ex-presidente levou a melhor e conquistou 70% dos votos no estado.

Vingança

A imprensa norte-americana ressaltou que Cheney era a última da lista de vingança de Trump contra os dez deputados republicanos que votaram a favor do segundo impeachment que ele enfrentou. Deste grupo, oito parlamentares não voltarão ao Congresso após as eleições de novembro - quatro desistiram de se candidatar novamente, e os outros quatro, assim como Cheney, foram derrotados nas primárias.

Trump sofreu impeachment duas vezes. A primeira vez em dezembro de 2019, quando ele foi acusado de abuso de poder e obstrução no Congresso. A destituição foi aprovada na Câmara de Representantes, mas o processo não avançou no Senado, onde os republicanos apoiadores de Trump eram maioria.

O famoso segundo processo impeachment aconteceu de forma inusual, uma semana antes do término do mandato dele, em janeiro de 2021. O ex-presidente republicano foi impugnado no dia 13 de janeiro, em um julgamento de impeachment por incitação à insurreição, em referência à tomada do Congresso durante o reconhecimento da vitória de Joe Biden no Capitólio, no dia 6 daquele mês.

Trump foi o único presidente dos EUA a ser indiciado duas vezes na história. Apesar da decisão não ter tido efeito quanto ao seu afastamento do cargo, já que poucos dias depois ele seria substituído por Biden, o peso político desse processo ainda pode ser negativo para o republicano. Algumas interpretações da lei e discussões internas no país consideram que, por causa deste impeachment, há uma possibilidade de que ele possa ser impedido de ocupar cargos públicos.

Impactos para republicanos e democratas

Com a força que Trump ainda demonstra em alguns redutos e dentro do partido, a situação fica delicada para a ala republicana mais tradicional, que não apoia o ex-presidente. Primeiro porque ele trabalha claramente para eleger seus aliados e, segundo, porque mantém uma base de apoio forte entre seus eleitores. Há um problema de representatividade na definição de novos nomes para a corrida eleitoral de 2024.

A pergunta é em quem o partido apostaria para enfrentar Trump em uma disputa interna. Alguns analistas apontam a própria Liz Cheney como um nome possível. Ela ganhou projeção nacional à frente da comissão da Câmara de Representantes, por ter mantido o tom crítico e em defesa da apuração dos fatos mesmo após sofrer investidas. A deputada recebeu nos últimos meses ameaças de morte e por isso não pôde fazer campanha durante as primárias.

Com relação ao Partido Democrata, a popularidade de Joe Biden oscila e preocupa, já que não ultrapassa 40% em pesquisas gerais que avaliam sua aprovação ao lado de eleitores republicanos, democratas e independentes. A inflação elevada e as críticas sobre a política de aumento de impostos são elementos que contribuem para a baixa avaliação de Biden.

Preocupação com risco de recessão

Há uma preocupação com projeções de que o país possa enfrentar uma recessão no fim deste ano e no começo do ano que vem. Por isso, Biden e sua equipe se empenham para minimizar esses riscos.

Nessa terça-feira (16), o presidente sancionou uma lei que inclui um pacote de U$ 430 bilhões para combater a inflação, as mudanças climáticas, baixar os preços de remédios e aumentar impostos corporativos. Com o pacote, Biden espera frear a inflação e motivar os eleitores antes de novembro. Mas ainda não é possível dizer se as medidas serão suficientes para conter uma eventual crise e levantar a popularidade do democrata.

Notícias