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Em resposta a Michelle, Lula diz que Bolsonaro é possuído por demônio

do UOL

Do UOL, em São Paulo e em São Bernardo do Campo

16/08/2022 16h31Atualizada em 16/08/2022 19h40

No seu primeiro discurso de campanha eleitoral, em frente a uma fábrica em São Bernardo do Campo (SP), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que "se tem alguém que é possuído pelo demônio é esse Bolsonaro". A declaração acontece em resposta à primeira-dama Michelle Bolsonaro, que disse recentemente que o Planalto já foi "consagrado a demônios".

Um presidente que mente sete vezes ao dia, um presidente que mente para os evangélicos todo santo dia. [...] Ele está tentando manipular. Ele, na verdade, é um fariseu. Está tentando manipular a boa-fé de homens e mulheres evangélicos."

O ex-presidente afirmou ainda que foi seu governo que "garantiu" a criação do Dia da Marcha para Jesus. Lula, em 2009, sancionou o projeto que criava a data no país.

Conforme o colunista do UOL Kennedy Alencar informou, o PT avalia processar o deputado federal Marco Feliciano (PL), que divulgou notícias falsas dizendo que Lula pretende fechar igrejas.

Primeiro, para o seu público: Lula escolheu fazer seu primeiro discurso em frente à fábrica da Volkswagen, em São Bernardo do Campo (SP) —lá, relembrou que ganhou projeção nacional ao liderar os metalúrgicos em greves durante a ditadura militar. O candidato a vice, Geraldo Alckmin (PSB), e a esposa de Lula, Janja da Silva, não participaram.

No discurso, hoje, o ex-presidente se voltou inicialmente aos jovens e às mulheres —grupos em que Lula tem apoio. Em seguida, o falou de retomada econômica e fez críticas à gestão de Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição, citando a pandemia de covid-19 e a fome —como faz normalmente. Por fim, fez um forte aceno aos evangélicos —público mais ligado ao atual presidente e à primeira-dama.

Pesquisa Ipec (ex-Ibope) divulgada ontem (15) indica que Lula tem preferência de 57% dos jovens entre 16 e 24 anos e 53% entre as mulheres

Evangélicos na mira: Além de "fajuto" e "genocida", Lula chamou Bolsonaro de "fariseu" —fazendo referência aos homens que se diziam guardiões das verdades e das tradições no Evangelho, mas foram acusados de hipocrisia. A tentativa de conquistar o público evangélico acontece no momento em que a campanha de Bolsonaro usa a imagem de Michelle para manter a preferência deste eleitorado.

Os dois últimos discursos da primeira-dama, por exemplo, ganharam reações positivas dentro desse grupo de eleitores. O mesmo levantamento Ipec aponta que Bolsonaro tem 56% dos votos válidos entre eleitores do grupo que se identifica como evangélico —contra 35% de Lula. O petista chega a 59% entre os católicos (o presidente tem 30%).

"[Um presidente] que vem contando mentira sobre Lula, sobre a mulher de Lula, sobre vocês, sobre índio, sobre quilombola...Quero que ele ouça minhas palavras: não haverá mentiras, nem fake news", afirmou o ex-presidente.

Recentemente, Michelle compartilhou nas redes sociais uma publicação em que afirma que Lula "entregou sua alma para vencer essa eleição". Ao compartilhar em seu perfil, a primeira-dama ainda escreveu: "Isso pode, né! Eu falar de Deus, não!". No vídeo, Lula está em um encontro com lideranças de religiões de matriz africana.

Em uma ação coordenada, o perfil de Lula no Twitter fez uma publicação durante o discurso, sobre os discursos bolsonaristas aos evangélicos —usando as mesmas palavras do discurso no pátio da fábrica.

Pandemia de covid: Assim como na pré-campanha, o ex-presidente criticou a postura do atual chefe do Executivo no combate ao coronavírus e disse que Bolsonaro "não derramou uma única lágrima" pelas vítimas da pandemia.

Você não acreditou na ciência, na medicina, nos governadores. Você acreditou na sua mentira, porque se tem alguém que é possuído pelo demônio é esse Bolsonaro."

Trabalhadores: Como previsto, Lula usou grande parte do discurso para falar com os metalúrgicos que saíam ou entravam no turno de trabalho. O petista agradeceu e disse que desde 1969 vai à porta da Volkswagen para participar de ato com os trabalhadores.

Segundo ele, houve uma época em que as mulheres não podiam ir mais de duas vezes ao banheiro. Lula afirmou que "foi muita luta para que a gente conquistasse o direito de respeito".

Foi aqui que tudo aconteceu na minha vida. Foi aqui que eu aprendia a ser gente, que eu adquiri consciência política e foi por causa de vocês que eu acho que fui um bom presidente da República."

43 anos depois: As declarações feitas pelo petista ao longo do primeiro discurso de campanha são semelhantes às feitas por ele próprio em 1979, quando discursou aos metalúrgicos também em São Bernardo —mas no Estádio da Vila Euclides, durante uma greve da categoria.

Na ocasião, o ex-presidente disse:

Nesse país não se engana mais o trabalhador como se enganava em outros tempos. É chegado o momento, companheiros, de olharmos para frente e vermos o que está acontecendo nessa terra".

Hoje, Lula atualizou o discurso, mas seguiu na mesma linha, em diferentes pontos do discurso. Por exemplo, neste trecho: "Ele [Bolsonaro] está achando que o povo é muito besta e que pode enganar o povo. Eu fui favorável a votar o auxílio [emergencial], pedi para a bancada do PT votar. E se vocês conhecerem alguém que está precisando e cair dinheirinho na conta deles, mande pegar e comer porque se não pegar o Bolsonaro vai tomar."

Campanha oficial: O ex-presidente tem reclamado, desde o início da sua pré-campanha, sobre a nova regra de 45 dias de período eleitoral, válida desde 2018 —antes, eram 90 dias. Para ele, há uma hipocrisia em poder fazer atos e debater política, mas não "fazer campanha".

O assunto foi muito abordado ontem, último dia de pré-campanha, em ato na USP (Universidade de São Paulo) e repetido hoje, de forma bem-humorada.

Só hoje, à meia-noite que eu pude acordar e falar para Janjinha: 'Jajinha, vote em mim'. Até ontem eu não podia pedir. Tive que acordar e pedir o meu primeiro voto só hoje."

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