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Monteiro recebia adolescente ao som de Galinha Pintadinha, diz ex-assessora

Vereador do Rio Gabriel Monteiro (PL) em sessão na Câmara Municipal - Câmara Municipal do Rio de Janeiro
Vereador do Rio Gabriel Monteiro (PL) em sessão na Câmara Municipal Imagem: Câmara Municipal do Rio de Janeiro
do UOL

Tiago Minervino

Colaboração para o UOL, em Maceió

15/08/2022 11h34

Luísa Caroline Bezerra Batista, que trabalhou por sete meses ao lado do vereador Gabriel Monteiro (PL-RJ), declarou em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro que uma menor de idade filmada em ato sexual com o parlamentar era recebida na casa dele ao som da "Galinha Pintadinha", personagem musical infantil. O UOL teve acesso aos depoimentos dos ex-funcionários que acusam o vereador.

Na semana passada, o Conselho de Ética da Câmara do Rio decidiu, por unanimidade (7 votos a 0), aprovar o texto do relator Chico Alencar (PSOL-RJ), que determina a cassação do mandato de Gabriel Monteiro por quebra de decoro parlamentar. A decisão deverá ser submetida ao plenário para análise e votação nesta semana.

Segundo Luísa disse aos parlamentares do Rio, quando a adolescente de 15 anos chegava na residência de Gabriel Monteiro, o chefe de gabinete do vereador, Rick Dantas, colocava música da "Galinha Pintadinha" por ela ser menor de idade. Em nota ao UOL, o parlamentar nega as acusações da ex-assessora.

"Eu tenho foto com ela [a adolescente]. [Ela] sempre frequentou [a casa do Gabriel]. Tanto é que, às vezes, chegava no estúdio a gente tava fazendo reunião... O Gabriel juntava todo mundo para querer ideia de vídeo [...], mas na lógica dele", disse a ex-funcionária.

Ela chegava e o Rick Dantas colocava até a música da Galinha Pintadinha porque ela era menor de idade, era criança. Luísa Batista, ex-funcionária do vereador Gabriel Monteiro.

Conforme a depoente, Monteiro tratava a adolescente de 15 anos como "namoradinha dele". "Mas todo mundo sabia que era errado, que ela era uma menor de idade e que ele, além de ser maior de idade, é um parlamentar, não podia tá [sic] com essa conduta, mas...", acrescentou.

De acordo com a ex-funcionária, Gabriel dizia gostar apenas de "novinha", e falava que iria "abrir uma creche". Luísa relatou que o vereador se referia a ela como "coroa", por ela ter 26 anos, e, por esse motivo, chegou a acreditar que estaria imune às investidas sexuais do parlamentar, mas alega ter sido assediada pelo político.

"A gota d'água foi no dia que aconteceu no carro, né? [...] O Gabriel pediu meu pé para fazer massagem. Aí ele ficou fazendo massagem, eu puxei o pé e ele trocou de lugar. Pediu pro Rick trocar de lugar com ele. Aí, foi pro banco de trás. E no banco de trás, ele começou a me agarrar, a lamber as minhas costas, a me morder e ficar falando algumas coisas, sabe? E eu pedia pra ele parar, falava que não gostava dessas brincadeiras, e ele sempre fala que só tava brincando", declarou, ressaltando que chegou a pedir por "socorro" e que pediu ajuda a Rick a fim de "parar" as atitudes do vereador, mas que o chefe de gabinete deu a ela um punhal. "Mandou eu furar ele, que parava".

"O Rick mandou eu... Deu o punhal e falou: 'ah, fura ele que ele par'. E eu não ia furar o Gabriel [...] 'Ah, mas por que você não fez nada?' O que eu iria fazer? Dois policiais armados dentro do carro, o Gabriel e o Rick, só homem dentro do carro, e eu no meio. Eu ia abrir a porta do carro e me jogar no meio da pista?", acrescentou.

Questionada se tinha conhecimento sobre outros casos de assédio sexual praticados por Gabriel Monteiro, Luísa citou uma garota que teria iniciado ato sexual consensual com o vereador, mas ele "começou a praticar sexo anal, ela pediu para parar, e ele não parou e machucou ela", o que teria deixado a jovem "horrorizada".

'90% das frequentadoras da casa do vereador são menores'

O ex-assessor Heitor Monteiro de Nazaré Neto contou ao Conselho de Ética da Câmara do Rio que "90%" das meninas que frequentam a casa de Gabriel Monteiro "são menores de idade".

"O Gabriel só gosta de pegar mulheres menores de idade, né. Ele mesmo dizia isso abertamente para todos da equipe. Uma coisa que não é novidade para ninguém. Todo mundo sabe", afirmou.

Conforme o ex-assessor, o parlamentar tinha o hábito de transar na frente de seus funcionários, mandar as garotas ficar "alisando" ele e "coisas do tipo", o que deixava algumas garotas "constrangidas".

Em relação a menor de idade que aparece na gravação com Monteiro, Heitor destaca que o vereador "sabia, sim, que ela era menor".

[Ele] se vangloriava por cada menor de idade que ele pegava [...] Ela falava que [a adolescente do vídeo] era namoradinha dele, né? Ela saía da escola, ia direto pra lá pra casa do Gabriel, fardada com... Quer dizer, com uniforme de escola.

Segundo Heitor, em determinada ocasião, Monteiro chegou a pedir "que eu saísse com outra menor que estava na casa, fingindo que eu estava ficando com ela, para que [a adolescente da gravação] não achasse que a menina estava com ele".

Acusação é 'fantasiosa', diz Gabriel Monteiro

Ao UOL, a assessoria de imprensa de Gabriel Monteiro disse que o depoimento de Luísa sobre a relação dele com a menor de idade é "fantasioso" e que suas declarações "foram desmentidas nas oitivas realizadas durante o processo".

Ele ainda alega que a ex-funcionária teria proposto o pagamento de R$ 100 mil "para que não prestasse a entrevista sobre as acusações ao 'Fantástico', da TV Globo, o que foi devidamente registrado na delegacia de polícia".

"A senhora Luísa, assim como os demais ex-assessores do vereador, fazem parte de uma organização criminosa formada por pessoas ligadas à máfia do reboque, que receberam mais de R$ 100 milhões através de contratos com a Prefeitura, findado após o parlamentar negar o recebimento de valores mensais para que não denunciasse as atividades da empresa".

Em relação às acusações de assédio moral e sexual, Monteiro destaca que o relator, Chico Alencar, "propôs a retirada da acusação de assédio moral e sexual contra assessores de seu parecer final", o que foi acatado por unanimidade pelos membros do Conselho. "Desta forma, a acusação de assédio moral e sexual contra a senhora Luísa não pesa mais contra o parlamentar".

Na nota, Gabriel Monteiro não comentou especificamente sobre as relações sexuais com a menor de idade que teria sido filmada.

Quando depôs no curso do processo parlamentar, Gabriel Monteiro disse ter ciência de que filmar menor de idade em ato sexual é crime, mas afirmou não ter conhecimento da idade da adolescente, e acreditava que ela fosse maior de idade.

"O que que é crime? Todo fato típico, ilícito e culpável. Para ter crime, eu tenho que ter conhecimento, entendeu? É porque o indiciamento é... materialidade e autoria. Existe materialidade? É o vídeo. Existe autoria? Sim. Eu falei... Eu fui lá, por livre e espontânea vontade, na delegacia, falar que havia... que tinha filmado", declarou. "Infelizmente, eu não sabia da menoridade da (...). Ela poderia ter um filho comigo? Poderia. Não era crime. Poderia sair comigo? Poderia. Poderia ficar comigo, poderia ter tudo comigo. Só não poderia uma coisa: filmar. Poderia ter tudo comigo, só não poderia filmar. Mas esse 'filmar' é se eu soubesse que ela era menor de idade, e eu não sabia", completou.

A defesa de Gabriel Monteiro recorreu hoje da decisão do Conselho de Ética da Câmara que pediu sua cassação.

O vereador vai disputar nas eleições deste ano uma cadeira na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) pelo PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, e é apontado como um dos nomes fortes da legenda para angariar votos no estado.

Mulher diz que foi ameaçada com arma em nova denúncia

Uma mulher contou em depoimento à polícia que o vereador do Rio Gabriel Monteiro puxou a arma e apontou para a cabeça dela, após o político apresentar comportamento agressivo durante relação sexual, em princípio consentida, em 2017. As informações foram reveladas ontem pelo Fantástico, da TV Globo, que obteve o depoimento dela à polícia.

Segundo a reportagem, a nova vítima —que não teve a sua identidade revelada— foi à delegacia e registrou o boletim de ocorrência no início do mês, depois que denúncias já haviam sido feitas por outras mulheres.

À polícia ela contou que saiu de uma casa noturna com Monteiro no dia 14 de maio de 2017. Na sequência, os dois entraram no carro, começaram a se beijar e, poucos minutos depois, o vereador começou a demonstrar comportamento agressivo.

A vítima diz que o parlamentar começou a dar tapas no rosto e socos na costela durante a relação sexual e que ele ignorou pedido para usar camisinha. Ela afirmou à polícia que pediu que o político parasse e que, nesse momento, ele pegou uma arma e apontou para a cabeça dela.

A mulher afirma que, sem o consentimento, Monteiro começou a filmá-la durante o ato sexual e a mandar para o WhatsApp. No dia seguinte, ela foi a um hospital e recebeu o diagnóstico de "violência sexual".

Pedido de cassação

Nesta semana, o pedido de cassação será levado ao plenário da Câmara para ser votado, onde precisa de voto favorável de 2/3 dos parlamentares para ser aprovado. Monteiro é candidato a deputado federal. No entendimento do conselho, a legislação eleitoral em vigor não impede que ele dispute um eventual mandato na Câmara dos Deputados, caso seja cassado, uma vez que uma eventual decisão será posterior à homologação da candidatura do vereador.

Os membros do conselho são Alexandre Isquierdo (União Brasil), presidente, Rosa Fernandes (PSC), Luiz Ramos Filho (PMN), Teresa Bergher (Cidadania), Zico (Republicanos) e Wellington Dias (PDT), além do relator Chico Alencar.

As condutas de Gabriel Monteiro que ferem a ética, de acordo com o relator, são:

  • Filmagem e armazenamento de vídeo em que o mesmo pratica sexo com adolescente;
  • Exposição vexatória de crianças por meio da divulgação de vídeos manipulados;
  • Exposição vexatória, abuso e violência física contra pessoa em situação de rua;
  • Assédio moral e sexual contra assessores do mandato;
  • Perseguição a vereadores com a finalidade de retaliação ou promoção pessoal;
  • Uso de servidores de seu gabinete parlamentar para a atuação em sua empresa privada;
  • Denúncias contundentes de estupro por quatro mulheres que relatam o mesmo modus operandi.

Chico Alencar afirma, com base nas provas e testemunhas, que Monteiro usava seu mandato para obedecer a uma lógica própria, "dependente do tipo de atuação exibicionista e sensacionalista adotada por ele".

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