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A agricultura no front de guerra no leste da Ucrânia

14/08/2022 14h25

A colheitadeira está quebrada no meio de uma plantação no leste da Ucrânia, envolta por uma marca escurecida que indica o local da explosão de uma mina. A agricultura é um setor complexo, mas trabalhar no campo sob bombardeios russos, no meio de uma guerra, "é ainda mais".

O agricultor Pavlo Kudimov explica que a máquina avariada avançava por um terreno nos arredores do vilarejo de Maidan, a cerca de 20 quilômetros da linha de frente com as forças russas, quando atingiu o artefato explosivo.

Um dia depois do incidente, o condutor da máquina permanecia internado no hospital com queimaduras graves, uma lembrança dos riscos de cuidar da terra quando esta se transforma em campo de batalha.

"A agricultura sempre foi difícil, mas agora é ainda mais", diz Kudimov à AFP.

- Uma profissão de risco -

No início de agosto, saiu da Ucrânia o primeiro carregamento de cereais desde que a Rússia iniciou a invasão no fim de fevereiro, bloqueando os portos ucranianos no Mar Negro. 

O navio zarpou graças a um acordo negociado por Turquia e Nações Unidas, com o objetivo de mitigar o aumento dos preços que provocou uma crise global de acesso aos alimentos. Antes da guerra, as exportações ucranianas representavam 10% do mercado mundial de trigo e o embargo sobre as exportações também gera uma crise para os próprios agricultores no país.

Sem acesso aos mercados internacionais, os silos estão cheios, os preços despencaram e os problemas de fluxo nas cadeias de suprimento ainda não se aliviaram. 

Ademais, para os agricultores da região de Donbass, o coração industrial e agrícola no leste da Ucrânia, a ameaça é ainda maior.

Todos os dias, soam sirenes antiaéreas, com chuvas de foguetes e aviões militares atacando alvos terrestres, regando literalmente os campos com bombas, enquanto as plantações de girassol se transformam em trincheiras defensivas. 

No ano passado, o agricultor Sergei Lubarskyi ganhava até 8 hryvnias (22 centavos de dólar) por quilo de trigo, mas, desde o bloqueio, o máximo que lhe oferecem são 3 hryvnias. 

E isso contando que ele consiga levar o trigo ao centro regional de Kramatorsk. Em Rai-Aleksandrovka, a localidade na primeira linha de combates em que ele se encontra, só é possível conseguir 1,8 hryvnia por quilo de trigo. "Os motoristas têm medo de vir aqui", explica. 

Eduard Stukalo, de 46 anos, cultiva 150 hectares nas imediações da cidade de Sloviansk. Ele explica que é uma luta convencer os trabalhadores a realizarem a colheita. "Ninguém quer ir, todos têm medo dos mísseis". 

"Nós, os agricultores, vamos quebrar este ano", ressalta.

Contudo, e apesar dos riscos, outros continuam o trabalho. "Vamos ao campo porque aqui não existe outro trabalho", diz Svitlana Gaponova, de 57 anos, enquanto colhe beringelas em um terreno próximo do assentamento sitiado de Soledar. "Dá medo, mas também me distrai", afirma, enquanto ouve o som das explosões ressoando à distância.

jts/aoc/avl/rpr

© Agence France-Presse

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