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Serviço criado por angolano no Brasil oferece aula de inglês para surdos

Robson Alberto, criador da Unmaze. Plataforma recebeu investimento do Black Founders Fund do Google - Divulgação/Unmaze
Robson Alberto, criador da Unmaze. Plataforma recebeu investimento do Black Founders Fund do Google Imagem: Divulgação/Unmaze
do UOL

De Ecoa, em São Paulo

11/08/2022 11h00

Descomplicar, sair do labirinto. É esse o sentido da palavra Unmaze (se pronuncia "ãn meiz"), que dá nome à plataforma de ensino de inglês criada por Robson Alberto em 2020.

A Unmaze nasceu para conectar alunos e professores particulares do idioma e, ao mesmo tempo, livrar os profissionais das tarefas administrativas com as quais têm que lidar quando trabalham por conta própria.

Mas a empresa tem feito mais do que isso: desde a criação, a plataforma destina parte de sua receita para ensinar inglês a pessoas surdas de baixa renda de forma gratuita. Atualmente, atende mais de dez alunos com bolsa integral. Há também alunos surdos pagantes, que podem escolher contribuir com um preço social ou equivalente ao que é pago por ouvintes.

O curso consiste em aulas de escrita e leitura da língua inglesa, além de disponibilizar um fonoaudiólogo para os alunos que queiram se oralizar no idioma.

"Eu queria democratizar. Sou aquele tipo de pessoa que acha que todo mundo precisa falar inglês, todo mundo mesmo. Foi daí que surgiu [o oferecimento de aulas para surdos]", diz a Ecoa.

A Unmaze também pretende expandir o serviço para alunos cegos. Atualmente, além do Brasil, as aulas da plataforma estão disponíveis também para pessoas surdas de Angola, país natal de Robson.

Plataforma tem mais de 300 alunos

Robson nasceu e viveu em Angola até os 24 anos. A conexão com o Brasil veio desde o batismo: seu nome do meio, Leandro, foi uma homenagem de sua mãe à dupla sertaneja Leandro & Leonardo.

O criador da Unmaze estudou até o último ano do ensino médio técnico em mecânica industrial, mas não concluiu o curso. Em 2016, ele veio para o Brasil, mais especificamente para Belo Horizonte (MG). Pretendia se casar e retornar ao país de origem, mas acabou ficando.

Trabalhou inicialmente em um sacolão na capital mineira, mas se apaixonou por tecnologia e inovação, passando a estudar esse ecossistema. Em seguida, participou de alguns processos seletivos na área e foi contratado em 2018 no setor de atendimento da Hotmart, plataforma de conteúdo digital. Em paralelo, ele dava aulas particulares de inglês.

Foi depois de duas demissões — primeiro da Hotmart e depois de uma escola de inglês — que o angolano decidiu criar um serviço para simplificar a vida de professores particulares como ele.

A primeira versão da plataforma foi lançada no fim de 2020, e a mais recente, de 2021, foi desenvolvida com o apoio do Black Founders Fund, fundo de investimento do Google para startups fundadas e lideradas por pessoas negras. "Nos ajudou muito, mudou nosso negócio e todo o curso da nossa história", conta o fundador da Unmaze.

unmaze aula - Divulgação/Unmaze - Divulgação/Unmaze
Aula da Unmaze
Imagem: Divulgação/Unmaze

Atualmente, a plataforma conta com 38 professores de inglês - três deles especializados no ensino de inglês para surdos - e mais de 300 alunos. Agora, a Unmaze quer aumentar a escala do negócio vendendo o serviço para empresas, trazendo mais professores (incluindo fluentes em Libras e migrantes) e alunos, sem deixar de "continuar fazendo nossa parte para mudar essa questão [da falta de oferta de cursos de línguas para pessoas com deficiência] na sociedade".

Como um surdo aprende inglês?

Para construir a área de inglês para surdos da Unmaze, Robson contou com a expertise de Bárbara Lima, intérprete de libras e professora formada em Letras-Inglês.

Em 2020, eles iniciaram um piloto do curso com um único aluno, Felipe, e desenvolveram o método de ensino. Hoje, segundo a professora, o primeiro aluno surdo da Unmaze se comunica muito bem na língua estrangeira, com um nível de proficiência suficiente para escrever, ler livros e jogar games.

Com o tempo, a plataforma foi recebendo mais alunos com demandas que tornaram ainda mais evidente a necessidade do inglês para surdos: pessoas que precisavam do idioma para concorrer a vagas em grandes empresas, ingressar no mestrado ou doutorado, aprender programação.

"É um serviço extremamente útil e escasso no mercado. A gente conseguiu fazer uma diferença", diz Bárbara a Ecoa.

Barbara Lima - Divulgação/Unmaze - Divulgação/Unmaze
A professora e intérprete de Libras Bárbara Lima
Imagem: Divulgação/Unmaze

A metodologia da plataforma, que envolve o uso de imagens e se expressar diretamente em inglês em vez de traduzir, se mostrou adequada às necessidades dos alunos surdos. "O surdo é muito visual e o método da Unmaze também", explica.

Nas aulas, os professores usam a Língua Brasileira de Sinais e trabalham principalmente com a associação entre imagens e palavras ou expressões. Isso é feito por meio de hiperlinks: para aprender o significado de "tree", árvore em inglês, o aluno clica na palavra e é direcionado a uma imagem correspondente, sem precisar do português. Quando o vocabulário é abstrato, os professores recorrem ao dicionário ou buscam sinônimos em inglês, de acordo com o nível do aluno.

Além da formação na área, Bárbara também é filha de pais surdos. "Eu cresci com a língua de sinais, cresci dentro da comunidade surda. Tudo que eu vou fazer na minha vida eu penso 'e pro surdo, como é?'", diz. Ela começou a aprender inglês na adolescência, com o incentivo do pai: "Eu gostava e via que meu pai também gostava muito, mas não havia aulas pra ele. Quando eu entrei na faculdade de Letras, comecei a pesquisar como era o inglês para o surdo".

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