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Destruição do Cerrado está levando dengue para as cidades, mostra pesquisa

Se nada for feito, casos de dengue em MG podem praticamente dobrar, segundo principal autor do estado - Adobe Stock
Se nada for feito, casos de dengue em MG podem praticamente dobrar, segundo principal autor do estado Imagem: Adobe Stock

Roberta Jansen

No Rio de Janeiro

19/01/2022 12h16

Um estudo de cientistas da Unesp (Universidade Estadual Paulista), publicado na revista científica PLOS, demonstra que o avanço da destruição do Cerrado está diretamente ligado ao aumento do número de casos de dengue na região.

O trabalho mostra que, se o ritmo do desmatamento continuar semelhante ao atual, em 2030 toda a área do Cerrado terá um aumento considerável dos casos da doença, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, de origem africana.

"O aumento dos casos de dengue está relacionado à redução da cobertura vegetal do Cerrado", afirma o engenheiro florestal Arlindo Ananias Pereira da Silva, da Unesp, principal autor do estudo.

"Se não houver política pública específica e regionalizada, algumas regiões vão ter um impacto muito grande", diz.

O estado de maior preocupação é Minas Gerais. Dos atuais 2,2 mil casos por 100 mil habitantes, os registros da doença pulariam para 4 mil por 100 mil habitantes.

Para impedir que a projeção se concretize, alertam os cientistas, o país terá que controlar o desmatamento e adotar novas políticas ambientais e de saúde pública.

Em 2020, houve em todo o mundo 2,7 milhões de casos de dengue. Desse total, 36,5% foram no Brasil. Mais da metade deles foi registrada no Cerrado. De 2008 a 2019, a dengue matou 6,4 mil pessoas em território brasileiro.

Desmate e monocultura

O avanço do Aedes aegypti em áreas tropicais é relacionado à urbanização, sobretudo em cidades sem infraestrutura de saneamento básico. A perda do hábitat e a redução de predadores naturais "empurra" o inseto para áreas urbanizadas, espalhando a dengue.

"Quando o mosquito está inserido em ambiente florestal, há meios de controle, com os predadores e também por conta da cobertura vegetal, o microclima", explica o pesquisador.

"Com o desmatamento e a monocultura, você aumenta as temperaturas, amplia a oferta de alimento e reduz os predadores naturais; isso é tudo o que o mosquito quer para se reproduzir", diz.

O Cerrado ocupava originalmente pouco mais de 20% do território brasileiro. Mas, desde o início dos anos 70, sofre grande pressão do agronegócio, intensificada nos anos posteriores.

Desde 2005, segundo o trabalho, a taxa de desmatamento vinha diminuindo. Mas, em 2020, houve um aumento de 13,2% em comparação ao ano anterior. Atualmente, o bioma concentra a maior parte da produção agropecuária do país.

Depois da Mata Atlântica, o Cerrado é o bioma que mais sofreu alterações por causa da ocupação humana. É considerado um dos 25 ecossistemas do planeta em alto risco de extinção.

Atualmente, segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, restam aproximadamente 34% da área original do Cerrado.

Cientistas mais pessimistas temem que, até 2030, o ecossistema pode estar totalmente destruído.

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