Armazenar carbono, a técnica agrícola para combater a mudança climática
Paris, 27 Out 2021 (AFP) - A agricultura, que produz muitas emissões de CO2, também pode ajudar a conter a mudança climática graças ao armazenamento de carbono, uma técnica que envolve uma mudança no uso do solo com agricultores pagos para isso.
- Panorama geral -Graças à luz, as árvores absorvem o dióxido de carbono (CO2) do ar e o transformam, separando o carbono do oxigênio, que retorna à atmosfera. Isso é fotossíntese.
O carbono fica armazenado nas raízes, troncos, galhos e folhas e servirá para criar a matéria orgânica necessária para o crescimento das árvores e plantas.
No entanto, a mudança no uso da terra e seu desmatamento e conversão em terras agrícolas constituem uma das principais fontes de emissões de CO2.
A agricultura foi responsável por 12% das emissões globais ligadas à atividade humana, de acordo com a ONU.
- Possibilidades para atuar -A agricultura pode, no entanto, ser uma aliada no desafio de atingir a neutralidade de carbono por volta de 2050, meta definida por dezenas de países no mundo para limitar o aquecimento global a +1,5°C em relação ao período pré-industrial.
Os solos agrícolas são o maior reservatório de carbono do planeta. Com técnicas adaptadas, podem "sequestrar" esse CO2.
A aposta em safras "intermediárias" entre duas colheitas permite evitar a erosão do solo. Essas plantas devolvem biomassa e carbono ao solo.
Outra técnica é preparar prados temporários em terras agrícolas para fornecer uma camada vegetal que aumente sua biomassa.
Plantar árvores no meio das plantações também favorece o armazenamento de biomassa e carbono.
Em vez disso, existem algumas técnicas agrícolas que devem ser evitadas.
"A pior de todas é a da sementeira", praticada em todo o mundo, diz Sandra Corsi, da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
"Libera carbono na atmosfera e o solo desestruturado sofre erosão com os efeitos do vento e da chuva", explica sobre a técnica.
A FAO clama por uma "agricultura de conservação", que altere a terra o mínimo possível, deixe-a coberta e diversifique as lavouras.
- Impacto e limites -Um estudo do instituto de pesquisa francês INRAE mostrou que graças às técnicas de armazenamento de carbono no solo, 7% das emissões de CO2 na França poderiam ser compensadas, ou seja, 40% das emissões agrícolas.
Essa aposta seria especialmente benéfica para grandes fazendas.
No entanto, tem seus "limites", destaca Jean-François Soussana, especialista em clima da ONU e vice-presidente do INRAE.
Por exemplo, se os fazendeiros deixarem suas terras sem cultivo durante o inverno, "então, perderemos progressivamente os benefícios que havíamos obtido".
- Remunerar os camponeses -Para convencer os agricultores a mudar suas práticas e costumes, incentivos financeiros devem ser fornecidos.
Estes podem ser concedidos com auxílio estatal ou com a intervenção de empresas através do mercado de carbono.
A França anunciou recentemente a criação de um certificado de baixas emissões de CO2 para empresas agrícolas e comunidades.
Muitas vezes criticada por sua baixa ambição em face da emergência climática, a Austrália também está apoiando ativamente projetos de armazenamento de carbono no solo.
Empresas estão investindo neste setor incipiente, por exemplo, a belga Soil Capital, que em 2020 lançou um programa de compensação de carbono para fazendeiros de grande escala na Bélgica e na França.
pcm/ico/eb/mar/mr
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