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Inspirada em projeto nascido nas comunidades do Brasil, escola de moda Casa93 faz sucesso na França

25/10/2021 13h00

A escola de moda Casa93 começa a formar sua quinta turma este ano. Fundada em 2017 por Nadine Gonzalez, uma francesa que passou mais de uma década no Brasil, a iniciativa vem conquistando parceiros de peso a partir de um modelo que mistura inserção social e desenvolvimento sustentável, com programas gratuitos e abertos a todos.

"Tudo foi inspirado da criatividade brasileira", resume Nadine Gonzalez, em referência à Casa Geração Vidigal, sua primeira escola de moda, fundada com uma sócia na comunidade do Vidigal, no Rio de Janeiro. A iniciativa, que contava com participação de costureiras locais e a mobilização de outras organizações sociais, inspirou a criação da Casa93. "No Brasil eu vi essa criatividade enorme nas comunidades e isso me deu muita vontade de fazer mais. De dar um pouco de educação para esses jovens que nem sabem que são tão criativos", explica.

Casa93 tem esse nome porque fica no departamento de número 93, região situada nos arredores de Paris, em uma das zonas mais pobres da França. A escola, que acolhe alunos entre 18 e 25 anos, tem como principal característica oferecer programas gratuitos, em um setor no qual geralmente os cursos são realizados em instituições de ensino privadas.

Não precisa de diploma, apenas de criatividade

A direção não impõe a necessidade de nenhum diploma específico como pré-requisito. "Os alunos têm apenas que falar e ler francês. Privilegiamos os jovens que não têm condições financeiras para fazer escolas de moda, que são caras", diz Nadine.

As turmas têm cerca de 20 alunos e, para o ano escolar que começou em setembro, a escola recebeu mais de 600 candidaturas. Mas a diretora insiste que "para entrar na Casa93 não precisa saber desenhar ou costurar. O mais importante é a criatividade", que ela vê como um vetor de inserção profissional.

O projeto começou como uma associação, que conta com a ajuda de fundos públicos, vindos principalmente da região de Seine-Saint-Denis (o departamento 93), mas também de muitas empresas que aderiram à iniciativa. Da loja de departamentos Galeries Lafayette às marcas de luxo Louis Vuitton e Hermès, a ajuda pode vir sob a forma de profissionais que cedem seu tempo para aconselhar os alunos ou montam projetos para a realização de coleções com os jovens estilistas, até doações de tecidos ou de peças defeituosas, que não foram vendidas e que serão recicladas em novas criações, reforçando outro aspecto essencial da escola: o desenvolvimento sustentável.

"Essa nova geração já é muito engajada. Eles mesmos querem ser atores transformadores da moda do futuro", explica Nadine, lembrando que os industriais desse setor estão cada vez mais atentos à essa questão e buscam nos alunos da Casa93 inspirações para seus próprios projetos.

A formação dura um ano e, no final, os formandos apresentam uma coleção, geralmente em forma de um desfile. Este ano, o grupo preferiu fazer um filme, uma solução em sintonia com as práticas da indústria da moda nos últimos meses por causa da pandemia.

O filme foi batizado de InouÏ, algo que poderia ser traduzido como "inesperado" ou "extraordinário". A produção, que Nadine apresenta como "um hino à diversidade", ilustra bem não apenas a variedade de perfis formados pela escola, como também as preocupações dessa nova geração de estilistas, que aborda temas como inclusão, gênero e raça de forma descomplexada por meio do que vestem. O projeto fez tanto sucesso que acaba de ser selecionado para o ASVOFF, um dos principais festivais de filmes de moda, previsto para dezembro em Paris.

Veja a entrevista completa clicando na foto acima.

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