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'Otoniel', um camponês que se tornou o criminoso mais procurado da Colômbia

23/10/2021 21h43

Bogotá, 24 Out 2021 (AFP) - Dairo Antonio Úsuga, aliás "Otoniel", cuja captura foi anunciada neste sábado (23) na Colômbia, foi um camponês que passou de guerrilheiro da esquerda a paramilitar de extrema direita antes de se consolidar como o chefe do narcotráfico mais procurado pelo país e pelos Estados Unidos.

O presidente colombiano, Iván Duque, comparou sua detenção à queda de Pablo Escobar, o grande barão da cocaína, morto pela polícia colombiana em 1993.

"É o golpe mais duro desferido contra o narcotráfico neste século no nosso país", disse Duque em uma declaração pública.

Imagens divulgadas pelo governo mostraram este robusto homem de 50 anos, algemado e cercado por militares com armamento pesado.

"Estávamos atrás dele há sete anos", detalhou o general Fernando Navarro, comandante das Forças Militares.

'Otoniel' lidera o Clã do Golfo, a principal quadrilha criminosa da Colômbia. Não era procurado apenas pelas autoridades locais: os Estados Unidos ofereciam até cinco milhões de dólares por informações sobre seu paradeiro ou que permitissem sua captura.

A justiça americana o acusa de liderar uma organização "fortemente armada, extremamente violenta", que "usa a violência e a intimidação" para controlar as rotas do tráfico de drogas e laboratórios de processamento de cocaína.

Para capturá-lo, a polícia colombiana antecipou "um trabalho por satélite contra ele com agências dos Estados Unidos e do Reino Unido", explicou o diretor da instituição, general Jorge Vargas. Cerca de 500 militares, apoiados por 22 helicópteros, participaram da operação.

- Negócio familiar -Nascido em 15 de setembro de 1971 no município de Necoclí, em uma estratégica região do noroeste da Colômbia, muito próxima da fronteira com o Panamá, mas também do Pacífico e do Caribe, passou a liderar o Clã do Golfo após a morte do seu irmão, Juan de Dios, "Giovanni", em confronto com a polícia em 2012.

Montou um aparato criminoso com presença em quase 300 dos 1.102 municípios do país, principalmente no Pacífico, um local estratégico para o envio de cargas de drogas, segundo o centro de estudos independente Indepaz.

"Tem um portfólio amplo de atividades criminosas, que incluem garimpo ilegal e a passagem de imigrantes para o Panamá", explicou à AFP o especialista em segurança Ariel Ávila.

Segundo o centro de investigação do crime organizado InSight Crime, o Clã do Golfo também atua na contratação de gangues de rua locais para realizar em seu nome atividades de microtráfico, extorsão e pistolagem.

"Otoniel", sétimo dos nove filhos de Ana Celsa David e Juan de Dios Úsuga, um casal que diz ganhar a vida com a venda de porcos, galinhas e gado no departamento de Antioquia (noroeste), usava táticas de guerrilha para burlar a força pública.

O líder criminoso viajava sozinho, a pé ou em mula, e nunca dormia duas noites seguidas no mesmo lugar, relataram as autoridades colombianas.

Nos últimos dias da perseguição, adentrou na mata virgem da região de Urabá, de onde é originário, e se desfez de seus telefones, substituindo-os por correios humanos.

-"Não muito ideologizado"-Aos 18 anos, uniu-se ao Exército de Libertação Popular (EPL), uma guerrilha marxista desmobilizada em 1991. "Não era revolucionário, era o que tinha e foi embora com eles", contou sua mãe em uma entrevista ao jornal colombiano El Tiempo em 2015.

Úsuga não fez parte do processo de paz que pôs fim a 26 anos de luta armada deste grupo rebelde e entre 1993 e 1994 uniu-se às Autodefesas Camponesas de Córdoba e Urabá (ACCU), uma organização paramilitar de extrema direita, criada para combater as guerrilhas e com ligações com o narcotráfico.

"Era um camponês não muito ideologizado", afirmou Ávila.

A ACCU fez parte das Autodefesas Unidas da Colômbia, que se desmobilizaram em 2006 por iniciativa do governo de Álvaro Uribe (2002-2010).

Mas, segundo o analista, "Otoniel" se sentiu "desapontado" com o processo de submissão à justiça e decidiu se manter na ilegalidade.

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