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Califórnia usa fogo contra fogo para proteger sequoias-gigantes

26/09/2021 12h47

Los Angeles, 26 Set 2021 (AFP) - Com o aumento dos incêndios na Califórnia, a preservação da "Floresta Gigante", lar das grandes sequoias nos Estados Unidos, parece trazer uma solução: usar fogo contra fogo.

"Parece um pouco estranho dizer isso, mas, na realidade, não houve incêndios suficientes na Califórnia por um século", afirma Rebecca Miller, pesquisadora da Universidade do Sul da Califórnia, em Los Angeles.

"Durante boa parte do século XX o uso do fogo era proibido para evitar incêndios na Califórnia porque acreditava-se, erroneamente, que isso era ruim para o meio ambiente", acrescentou Miller.

Os incêndios controlados têm por objetivo limpar as florestas e reduzir a vegetação seca depositada no solo, que se transforma em combustível para as chamas.

Esta prática foi essencial para proteger na semana passada a "Floresta Gigante", lar do General Sherman, que, com um tronco de 11 metros de diâmetro e 83 metros de altura, é a árvore mais volumosa do mundo, afirma Mark Garrett, um dos porta-vozes da equipe que combate o incêndio chamado de KNP Complex, que continua ativo na região.

- 'A melhor ferramenta' -As sequoias milenares exibem marcas de incêndios passados. O fogo é parte do ciclo natural dessas árvores, pois esquenta sua casca, de até um metro de espessura, de onde brotam as pinhas, que precisam do calor para liberar suas sementes, ajudando a sua reprodução.

Contudo, mesmo resistentes ao fogo, as sequoias podem ser destruídas se as chamas atingirem suas copas, o que tem se tornado mais comum com as temporadas de incêndios na Califórnia cada vez mais prolongadas e agressivas, uma consequência das mudanças climáticas que tornam o oeste dos Estados Unidos mais quente e seco.

Nesse sentido, cerca de dez mil sequoias foram carbonizadas no ano passado.

Por sua vez, a temporada de incêndios deste ano tem tudo para ser a pior da história do Estado.

As chamas do KNP Complex chegaram na semana passada a cerca de 40 metros do General Sherman, cuja idade é estimada em 2.200 anos. Por precaução, sua base foi coberta com cobertores térmicos.

Segundo Garrett, esta foi a primeira vez que um incêndio não controlado chegou tão perto da famosa árvore.

Contudo, graças às queimadas controladas, o fogo não encontrou muito combustível e perdeu intensidade, afirmou o porta-voz, que considera necessário aumentar a escala. "É a melhor ferramenta que temos", afirma.

"Estamos vendo coisas que nunca tínhamos visto antes como essas árvores de quase 90 metros de altura morrendo porque as pequenas árvores ao redor levam o fogo para suas copas", explicou.

- 'Exagerado' -A prática de queimadas controladas, no entanto, gera debate.

"Não é uma estratégia efetiva se for feita de forma exagerada", afirma o ambientalista George Wuerthner.

Ele argumenta que a queima controlada exige periodicidade. "E como não podemos refazer toda a paisagem com tanta frequência, é um pouco enganoso sugerir que é uma panaceia para prevenir grandes incêndios".

Além disso, o especialista reitera que, em condições climáticas extremas, o fogo pode sair do controle, e o impacto da fumaça deve ser considerado.

Para Andy Stahl, ex-funcionário do serviço florestal, "o maior desafio são os custos".

"Estamos falando de bilhões de dólares. E isso [queimadas controladas] não se faz uma vez a cada 100 anos. É preciso voltar em cinco ou dez anos, e fazer tudo de novo", comentou Stahl, diretor-executivo da FSEEE, uma organização dedicada ao manejo ético das florestas.

"Por isso, ninguém no oeste dos Estados Unidos está fazendo uma quantidade significativa de queimadas controladas que faça uma diferença na hora de controlar os incêndios", explicou. A exceção é o Parque Nacional das Sequoias.

Para Stahl, isso é possível "porque é um parque pequeno e os acres que foram queimados são os que estão em volta dessas árvores milenares e insubstituíveis. Então podemos fazê-lo".

Garrett, por sua vez, considera urgente o aumento das queimadas controladas no estado para reduzir a intensidade dos incêndios florestais.

"Precisamos de mais dinheiro e mais gente. Isso tem que ser feito, nas montanhas e nos terrenos federais, e também nos privados. Eles precisam queimar", frisou.

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