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Crise dos submarinos: ministra francesa diz que americanos "não são mais tão confiáveis" como antes

24/09/2021 05h01

A normalização das relações bilaterais entre a França e os Estados Unidos levará tempo, após Paris exigir ações para reduzir o mal-estar provocado pelo cancelamento da compra de submarinos franceses pela Austrália. A declaração foi dada pelos principais diplomatas da França e dos Estados Unidos, nesta quinta-feira (23), nos bastidores da Assembleia Geral da ONU, que acontece em Nova York.

Na manhã desta sexta (24), a ministra francesa da Defesa, Florence Parly, declarou em entrevista ao jornal Le Monde que "a confiabilidade dos americanos não é mais tão grande como no passado". "O comportamento dos Estados Unidos foi muito brutal, sobretudo da parte de um aliado, que ainda diz nos considerar como 'o mais antigo aliado deles'. Mas não é uma surpresa: faz muitos anos que percebemos essa tendência de fundo da parte do parceiro americano", explicou a ministra. 

O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, reuniu-se na véspera com o secretário de Estado americano, Antony Blinken, à margem da Assembleia Geral da ONU, para discutir a pior crise na relação entre os aliados desde a guerra no Iraque. "Reconhecemos que levará tempo e muito trabalho, e se traduzirá não apenas por declarações, mas também atos", declarou Blinken. 

O principal diplomata da França disse a Blinken que o telefonema do dia anterior entre o presidente americano, Joe Biden, e o colega francês, Emmanuel Macron, havia sido o início do processo de recuperação da confiança. "Ele observou, no entanto, que resolver a crise entre os dois países levaria tempo e exigiria ações", ressaltou a chancelaria da França.

Contrato bilionário

A Austrália cancelou, na semana passada, um contrato multimilionário para adquirir 12 submarimos franceses de propulsão convencional por 90 bilhões de dólares australianos (US$ 65 bilhões) e decidiu que precisava da versão nuclear americana, em meio à tensão crescente com a China. 

Blinken prometeu trabalhar para reconquistar a confiança da França, aliado mais antigo dos Estados Unidos, e citou interesses em comum, incluindo a campanha francesa contra o grupo extremista Estado Islâmico. "Estou convencido de que nossos interesses juntos são tão fortes, os valores que compartilhamos são tão inquebráveis, que seguiremos em frente e faremos um bom trabalho, mas levará algum tempo. Será um trabalho árduo", declarou.

O secretário de Estado afirmou que manterá as conversas com Le Drian, embora Biden já tenha concordado em se reunir no próximo mês com Macron. Jean-Yves Le Drian, no entanto, manteve uma distância fria de seus colegas australiano e britânico.

Austrália diz que será "paciente"

O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison prometeu ser "paciente" para restaurar as relações com a França. Em declarações em Washington, Morrison afirmou que tentou entrar em contato com Macron, mas que ainda não conseguiram conversar. "Mas seremos pacientes. Entendemos sua decepção", declarou Morrison.

Após a ruptura de contrato, a Austrália anunciou a compra de pelo menos oito submarinos de propulsão nuclear americanos ou britânicos, após vários meses de negociações secretas, o que enfureceu o governo francês. Em resposta, a França cancelou uma noite de gala em Washington que homenagearia as relações franco-americanas e convocou seus embaixadores em Washington e Canberra, acusando os dois países de uma "punhalada nas costas".

Desde então, os presidentes americano, Joe Biden, e francês, Macron, tentaram reduzir a tensão durante uma conversa telefônica de 30 minutos, que Biden considerou "amistosa".

"A Austrália decidiu não prosseguir com um contrato de defesa muito importante. E sabemos que a França está decepcionada por esta decisão, o que é compreensível", declarou Morrison. "Acredito que precisaremos de mais tempo para resolver estas questões que já foram solucionadas entre Estados Unidos e França".

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