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Julgamento contra 'Carlos, o Chacal' chega à reta final na França

23/09/2021 13h35

Paris, 23 Set 2021 (AFP) - A Justiça francesa deve decidir, nesta quinta-feira (23), se aplica uma terceira pena de prisão perpétua ao venezuelano Ilich Ramírez Sánchez, conhecido como "Carlos, o Chacal", desta vez pelo atentado mortal contra uma galeria comercial em Paris, em 1974.

"O assassinato, esta tentativa de assassinato, com uma violência cega e inédita (...) pode ser punida apenas com a pena de prisão perpétua", exigiu o promotor do caso, em tom grave, no tribunal de Paris.

Para o representante do Ministério Público, o atentado de 1974 contra a galeria Drugstore Publicis, que deixou dois mortos e 34 feridos, inaugurou um novo tipo de ataque: os atentados "indiscriminados".

Na última aparição de Carlos, preso na França desde que foi detido em 1994 em uma operação de espionagem francesa no Sudão, usava um paletó leve e lenço de bolso.

E, nos recessos, esta figura da luta "anti-imperialista" das décadas de 1970 e 1980 não hesitou em mandar beijos, rir e conversar com os simpatizantes presentes na sala, que se despediram dele com um "até logo".

"Estou orgulhoso da minha trajetória de revolucionário", disse ele em suas últimas palavras antes do veredicto, pedindo aos juízes que "tomem uma boa decisão". Em seguida, esquivou-se: "Quem me viu jogar uma granada?".

Sinal de sua importância, o futuro Museu Memorial do Terrorismo iniciará sua linha do tempo pelo atentado de 1974 no coração de Paris. Previsto para ser erguido ao oeste de Paris, a construção deste museu foi anunciada em maio pelo governo francês.

Se os sete magistrados do tribunal impuserem ao réu uma sentença de prisão perpétua, será a terceira, após a pena aplicada por triplo homicídio em 1975, em Paris, e por quatro atentados a bomba na França em 1982 e 1983, com 11 mortos e 191 feridos.

- "Manipulador" -Os juízes devem se limitar a definir a pena, seguindo uma decisão de 2019 da Corte de Cassação.

Este tribunal anulou parcialmente a segunda sentença, que havia declarado o venezuelano culpado de assassinatos e de tentativas de assassinato por "efeito de uma potência explosiva" e por transportar "um artefato explosivo sem motivo legítimo".

Mais alta instância do Poder Judiciário na França, este tribunal considerou que o transporte da granada era "uma operação preliminar necessária para a prática dos outros crimes", entendendo, assim, que o réu havia sido condenado duas vezes pelo mesmo ato.

Ao se ver restringida a litigar apenas sobre a pena, sua advogada, Isabelle Coutant-Peyre, pediu que, se uma nova prisão perpétua for imposta por esses fatos ocorridos há 47 anos, que as três condenações fossem fundidas.

Na ausência de amostras de DNA e de uma confissão, o venezuelano foi condenado em 2018 por uma série de elementos de acusação, incluindo o depoimento de um antigo companheiro de armas, arrependido, o alemão Hans-Joachim Klein.

Para a acusação, buscava-se facilitar a libertação de um japonês detido em Orly, membro do Exército Vermelho japonês, um grupo armado de extrema esquerda que havia sequestrado, simultaneamente, reféns na embaixada francesa em Haia.

Ao longo do julgamento, iniciado na quarta-feira (22), o tribunal se concentrou no contexto do atentado e na personalidade de "Carlos, o Chacal". Para isso, ouviu várias testemunhas: de um antigo amor a um jornalista.

Sua amante à época do atentado disse que ele não era violento.

"Não o via como uma pessoa capaz de fazer isso", disse a mulher, hoje com 74 anos, que passou seis meses em prisão preventiva e tentou "esquecer".

Um agente de Inteligência descreveu este ex-membro da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) como um "combatente revolucionário" com uma forte ideia de "superioridade", "manipulador" e "sedutor".

Um relatório da prisão de Poissy, onde o réu detido, a menos de 30 quilômetros a oeste de Paris, também o descreve como um sedutor, um "contestador" e um "egocêntrico", cujo "capital da simpatia se reduz com os anos".

tjc/pc/tt

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