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Ex-refugiada, modelo abandona passarelas os EUA para lançar moda para muçulmanas

19/09/2021 10h50

Nascida num campo de refugiados no Quênia, Halima Aden experimentou o glamour das passarelas nos Estados Unidos, mas no ano passado, decidiu rasgar os contratos com grandes marcas da moda para lançar a sua linha "modesta", focada na mulher muçulmana.

Americana de origem somali, Halima agora só é vista de hijab, o traje islâmico feminino que deixa o rosto à mostra, e de burkini, a roupa de banho que cobre também a cabeça das muçulmanas. "Desde que eu era pequena, a frase 'não mude você, mude o sistema' me levou a fazer tantas coisas", explicou ela à agência AFP, durante uma passagem por Istambul, na Turquia.

Para ela, dar espaço às mulheres muçulmanas na moda significa valorizá-las, em uma indústria que se transforma rápido e que, durante a sua experiência, atingia os seus valores, relata. "Quando tomei a decisão de largar tudo, foi exatamente o que eu fiz. E estou muito, muito orgulhosa", afirma a jovem de 24 anos.

A virada foi anunciada em novembro passado e pegou de surpresa o mundo da moda e das influencers, que parabenizaram a sua coragem e sua atitude pioneira no meio. Halima Aden apareceu pela primeira de burkini em 2016, durante um concurso de beleza no estado de Minnesota. Depois, já famosa, ela pousou em 2019 para a edição anual da Sports Illustrated com esse tipo trajes - que até hoje causa polêmica nos países ocidentais.

Despir-se na frente de dezenas de pessoas

Enquanto isso, ela foi se sentindo cada vez mais desconfortável com certas práticas no meio da moda, como o fato de ter de trocar de roupa na frente de uma enorme equipe. Halima diz que não poderia ter ascensão numa indústria "que não tem um mínimo respeito pelo ser humano".

"Sempre me deram um provador, um local mais privado para eu poder me trocar, mas na maioria das vezes, eu era a única a poder me beneficiar de um pouco de intimidade", conta. "Eu via as minhas jovens colegas se desvestindo em público, na frente de jornalistas famosos, cozinheiros, costureiros e assistentes. Era muito chocante", relembra.

A modelo sentia que as suas tradições, radicalmente diferentes da maioria das outras modelos, eram ironizadas e até desrespeitadas por algumas marcas. Certa vez, a American Eagle trocou o seu véu por uma calça jeans sobre a sua cabeça.

"Não era uma questão de estilo! Chegou a um ponto em que eu não conseguia nem mais reconhecer o meu hijab como eu o usava tradicionalmente", observa.

Decisão libertadora

A decisão de abandonar as sessões de fotos e desfiles a libertou, aponta. "Nunca me senti tão aliviada. Guardar tudo aquilo para mim era como um veneno", comparou ela, na época, pelo Instagram.

Em Istambul, cercada de fãs de moda do Oriente Médio, Halima Aden estava à vontade em um evento organizado pela marca turca Modanisa, para a qual agora vai desenhar coleções exclusivas e "modestas", como é chamada a moda para muçulmanas.

Essa indústria está em plena expansão e já atingia US$ 277milhões em 2019 -

um décimo da indústria mundial da moda, mas que dispõe de uma grande margem de crescimento. Nos últimos anos, Moscou, Ryad e Londres tiveram desfiles especializados para este público - uma evolução possível graças a manequins como ela.

A tendência é particularmente forte no Irã, na Arábia Saudita e na Turquia, onde Halima percebe uma grande diversidade de roupas nas ruas. "A moda modesta está decolando, é uma corrente que dura há algumas centenas de anos e continuará existindo por mais 100 anos", ressalta.

Com informações da AFP

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