Organizações sociais protestam na Argentina em plena crise de governo
Buenos Aires, 16 Set 2021 (AFP) - Dezenas de milhares de manifestantes tomam as ruas de Buenos Aires nesta quinta-feira (16) para exigir melhoras econômicas, em meio a uma grave crise política do governo do presidente peronista de centro-esquerda Alberto Fernández e sua vice-presidenta Cristina Kirchner.
Enquanto grupos de esquerda convocaram protestos contra o governo, em meio a uma crise econômica que colocou mais de 40% da população na pobreza, outras organizações de tendência peronista devem se reunir diante da Casa Rosada, sede do governo, em apoio a Fernández.
O presidente enfrenta uma crise em seu gabinete, depois da derrota eleitoral sofrida no domingo pela coalizão governante Frente de Todos nas primárias das eleições de 14 de novembro, nas quais o Congresso será parcialmente renovado.
Cinco ministros e outros altos funcionários próximos a Kirchner colocaram seus cargos à disposição na quarta-feira, o que os analistas interpretam como uma pressão da vice-presidenta sobre Fernández para obrigá-lo a modificar o gabinete e se afastar de alguns de seus colaboradores de maior confiança, como o chefe de gabinete Santiago Cafiero.
"Como é difícil que exista uma negociação franca entre o presidente e a vice, tudo fica complexo, porque a esta altura ambos desconfiam um do outro e acreditam que o outro ou a outra tem cartas na manga", descreveu o analista político Carlos Fara.
Em suas primeiras declarações nesta quinta-feira, Fernández pediu o fim dos conflitos e ressaltou que é ele quem está à frente do governo.
"Nós temos que dar respostas honrando o compromisso assumido em dezembro de 2019 (quando assumiu a presidência), nos dirigindo à sociedade. Não é a hora de semear disputas que nos desviem desse caminho", escreveu o presidente no Twitter.
"Eu ouvi meu povo. A arrogância e a prepotência não me abalam. A gestão do governo continuará se desenvolvendo do modo que eu considerar conveniente. Para isso que eu fui eleito. Farei isso sempre convocando o encontro entre os argentinos", acrescentou.
Em recessão desde 2018, a Argentina enfrenta uma crise econômica que foi agravada pela pandemia de covid-19. Para amenizar os efeitos da paralisação da economia pelas restrições sanitárias, o governo realizou muitas emissões de dinheiro, especialmente em 2020.
Aos elevados índices de pobreza e desemprego, a Argentina soma uma das maiores taxas de inflação do mundo (32% de janeiro a agosto) e tem pendente uma dívida de 44 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Em 22 de setembro, deve pagar ao FMI um vencimento de capital por 1,9 bilhão de dólares e em dezembro outro também de 1,9 bilhão de dólares.
Nesse contexto, Fernández recebeu na quarta-feira o apoio explícito de vários governadores peronistas e do Movimento Evita, uma das mais importantes organizações de base do governo.
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