Opinião: Debater é bom; vacinar-se, melhor ainda
Alguns estados, entre os quais Hamburgo, Berlim e Baden-Württemberg, querem devolver seus excedentes ao Ministério da Saúde. Milhares de vacinas têm que ser eliminadas, pois seu prazo de validade expirou.
Já é suficientemente ruim que, desse modo, também estejam sendo destruídos milhões de euros do contribuinte. Pior ainda é o ceticismo ainda existente contra a vacina e a sorrateira despedida da meta de imunidade de rebanho, tão propalada no início da campanha.
Drama com grande elenco
Os participantes da tragédia são muitos, não só quem se recusa a tomar a injeção. Os céticos da vacina evocam seus direitos à liberdade pessoal, arriscando assim a restrição da liberdade de toda a sociedade.
Essa noção de liberdade à custa do interesse público não tem nada a ver com o ideal do cidadão esclarecido – defendido, com toda razão, por muitos liberais. Pelo contrário: ela mostra que se está disposto a condenar toda uma sociedade à falta de liberdade, no próximo confinamento.
Também as recomendações contraditórias quanto ao produto da AstraZeneca contribuíram para a tragédia. Enquanto Agência Europeia de Medicamentos (EMA) aconselha o imunizante irrestritamente, para todas as faixas etárias, a Comissão Permanente para Vacinas da Alemanha (Stiko) só recomenda seu emprego nos maiores de 60 anos. A Dinamarca até mesmo suspendeu as vacinações com a AstraZeneca.
Nesse meio tempo, os tomadores de decisões políticas alemães partiram para a campanha eleitoral, na qual a destruição de vacinas não é um tema adequado. E a vacinação obrigatória, menos ainda.
Outros países já obrigam
A introdução da obrigatoriedade para determinados grupos profissionais nos vizinhos europeus mostra que é possível agir diferente. Na Itália, por exemplo, desde 25 de maio o pessoal médico tem que se vacinar contra o novo coronavírus. Também está sendo debatida a inoculação compulsória para os professores.
Na França, os funcionários de hospitais e de lares para idosos ou deficientes devem comprovar até 15 de setembro que se imunizaram. E no Reino Unido, o governo passou a exigir a vacinação dos empregados de lares para deficientes.
Para mim, uma das lições da pandemia é a constatação de que debates ideológicos e dogmatismo político não salvam vidas humanas nem neutralizam vírus – já o desenvolvimento rápido de vacinas, com toda certeza. Graças a esse excepcional desempenho cientifico e à cooperação internacional, parece possível controlar a pandemia.
Isso torna ainda mais acabrunhante a destruição de vacinas valiosas. O sofrimento dos mortos pelo coronavírus e de seus familiares exigem de nós que não desistamos, apesar de todos os reveses dolorosos, e continuemos nos vacinando, lutando por cada vida humana e travando debates incômodos. E tomando decisões, em vez de nos esquivar delas – para que a tragédia tenha fim.
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Astrid Prange de Oliveira é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal da autora, não necessariamente da DW.
Autor: Astrid Prange
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