Presidente da Nicarágua desdenha pressão global em discurso raro
MANÁGUA (Reuters) - O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, disse na quarta-feira que sanções não deterão seu governo e prometeu não libertar adversários políticos detidos acusados de crimes, enquanto cresce a pressão internacional pelo fim da repressão antes da eleição de novembro.
O governo de Ortega prendeu ao menos 15 oponentes políticos nas últimas semanas, incluindo cinco aspirantes a candidatos presidenciais, antes da eleição presidencial na qual o líder de longa data concorrerá a um quarto mandato consecutivo.
Um jornalista e ao menos mais duas pessoas também foram detidos.
"Os inimigos da revolução, os inimigos do povo, estão gritando como é possível estarem detidos, como é possível estarem aprisionados, como é possível estarem sendo processados", disse Ortega em um discurso televisionado ao vivo.
Ortega argumentou que seu governo está prendendo e processando criminosos que estavam tramando um golpe contra ele.
"É absurdo libertá-los. Tudo que estamos fazendo, estamos fazendo pelas regras", disse ele, acrescentando que a riqueza de oponentes que ele afirmou serem da "alta sociedade" não os torna intocáveis.
Ele se referiu à detenção de separatistas catalães na Espanha e à detenção de manifestantes após a invasão do Capitólio dos Estados Unidos para dizer que é hipócrita estes países pedirem para a Nicarágua libertar seus presos.
Na terça-feira, o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Ned Price, classificou as detenções e investigações como uma "campanha de terror em andamento" e disse que os EUA "usarão todas as ferramentas diplomáticas e econômicas à nossa disposição" para promover eleições livres.
O governo dos EUA diz estar preparado para analisar "atividades relacionadas ao comércio" se as eleições não forem livres e justas.
"Eles estão de joelhos pedindo sanções aos (norte-americanos), implorando por sanções... eles pensam que sanções deterão a Nicarágua. A Nicarágua passou por tempos muito mais difíceis", disse.
Ortega acusou os EUA de tentarem depor o que qualificou de governos progressistas e pediu o fim do "capitalismo selvagem", mais um lembrete de que recuou de uma estratégia anterior de coexistência com a classe empresarial do país.
Nesta semana, o grupo de direitos humanos Human Rights Watch disse que o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, deveria abordar a crise com o Conselho de Segurança.
(Por Ismael Lopez em Manágua e Anthony Esposito e Diego Ore na Cidade do México)
((Tradução Redação São Paulo, 5511 56447702)) REUTERS AC
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