Topo
Notícias

Âncora da estabilidade europeia, Merkel inicia despedida em Conselho Europeu

24/06/2021 06h09

O tradicional Conselho Europeu dos chefes de Estado e governo da União Europeia acontece nesta quinta e sexta-feira, poucos dias antes do início da temporada mais esperada do continente: as férias de verão. A reunião marca uma das últimas participações da chanceler alemã Angela Merkel na esfera política europeia.

Letícia Fonseca-Sourander, correspondente da RFI em Bruxelas

Âncora da estabilidade europeia, a chanceler alemã Angela Merkel, que sempre foi conhecida por seu empenho em buscar acordos, se prepara para deixar a cena política. Este Conselho Europeu terá provavelmente uma de suas últimas participações em uma reunião de alto nível ao lado de outros líderes do bloco. Merkel não está mais em posição de decidir grandes mudanças, e obviamente, tem menos peso político.

Ela deixa o poder após quatro mandatos (2005-2021), para se aposentar, logo depois das eleições legislativas da Alemanha no dia 26 de setembro. Certamente, a chefe de governo alemã será lembrada por sua paciência, persistência, habilidade política aguçada, capacidade de construir alianças, além da fibra para negociar questões delicadas até altas horas da madrugada em reuniões exaustivas.

Em quase 16 anos no cargo, com seu estilo pouco confrontativo, Merkel tentou manter a Europa unida apesar das inúmeras crises no bloco. Sem dúvida, a mutti, apelido de Merkel que significa mãezinha em alemão, desempenhou com eficácia o papel de mãe da Europa; protegendo e colocando limites. Às vésperas do Conselho Europeu, Angela Merkel criticou a lei recém adotada na Hungria contra a comunidade LGBT+ e puxou a orelha de Portugal por ter recebido turistas britânicos para a final da Liga dos Campeões. Por causa desta decisão, a variante Delta do novo coronavírus é agora dominante em Lisboa e no Vale do Tejo.

Controle de variantes do Covid-19 na Europa

Neste último Conselho Europeu sob a presidência de Portugal, os líderes do bloco devem discutir a questão migratória e a distribuição dos refugiados entre os países da UE, a polêmica lei húngara que discrimina a comunidade LGBT+, Rússia e Turquia. Outro destaque da agenda será o controle das variantes do novo coronavírus na Europa. Com a chegada das férias do verão no continente europeu, o passaporte de vacinação entra em vigor a partir do início do mês de julho para facilitar o trânsito dos turistas dentro do bloco.

No entanto, a variante Delta do SARS-CoV-2, identificada pela primeira vez na Índia, está bastante presente em alguns países comunitários. Para o Centro Europeu de Prevenção e Controle das Doenças (ECDC) esta nova cepa deve representar 90% das novas infecções na Europa até o final de agosto, além de dobrar o risco de hospitalizações e mortes. A agência europeia estimou que "qualquer relaxamento das restrições durante os meses de verão na Europa pode levar a um aumento rápido e significativo dos casos diários em todos os grupos etários, atingindo os mesmos níveis do outono do ano passado, se não forem tomadas medidas adicionais".

Uma média de 57,3% da população adulta europeia já recebeu pelo menos uma dose de vacina, enquanto 34% dos adultos estão totalmente inoculados. Em Bruxelas, os líderes da União Europeia também vão discutir o dispositivo Covax, coalizão global liderada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que tem como objetivo universalizar o acesso a imunizantes contra a Covid-19 aos países de baixa e média renda.

Duras críticas à polêmica lei húngara

Às vésperas do Conselho Europeu, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que vai usar os poderes que dispõe para garantir direitos de todos os cidadãos do bloco.

"A lei húngara é uma vergonha. E eu já incumbi os meus comissários responsáveis de escreverem uma carta às autoridades húngaras a esse respeito, expressando as nossas preocupações legais antes da entrada em vigor do projeto de lei", declarou Von der Leyen. Na semana passada, a Hungria aprovou uma lei polêmica proibindo que se fale sobre a homossexualidade a menores de 18 anos nas escolas e na imprensa.

Von der Leyen afirmou que a lei "discrimina claramente as pessoas com base na sua orientação sexual e vai contra todos os valores fundamentais da União Europeia". "Acredito firmemente numa União Europeia onde se é livre para amar quem quiser". Por isso, "usarei todos os poderes da Comissão para assegurar que os direitos de todos os cidadãos da UE sejam garantidos, sejam quem forem e onde quer que vivam". Por uma iniciativa da Bélgica, 13 países expressaram "profunda preocupação" e redigiram uma carta ao executivo europeu pedindo garantia ao pleno respeito dos direitos de todos os cidadãos do bloco europeu.

Notícias