"A Ronda Noturna", de Rembrandt, ganha dimensões originais
O minucioso trabalho de reconstrução revelou o verdadeiro dinamismo da composição original, com os dois personagens centrais da pintura, o capitão Frans Banninck Cocq e o tenente Willem van Ruytenburch, agora posicionados mais à direita. Também foram recuperadas as figuras perdidas de dois homens e um menino que se encontravam na parte esquerda do quadro, onde foi cortada uma tira de 60 cm.
Inteligência Artificial encontra a Arte
Embora seja hoje considerada uma das maiores obras-primas da Idade de Ouro Holandesa, a tela sofreu cortes em todos os seus quatro lados durante uma mudança feita em 1715 para caber em uma parede entre duas portas. As tiras retiradas jamais foram encontradas, mas a versão original foi registrada numa cópia feita por outro artista da época. Restauradores e cientistas da computação a usaram então, combinada com o estilo de Rembrandt, para recriar as partes que faltavam.
A solução foi "enviar inteligência artificial para a escola de arte", disse Robert Erdmann, especialista do Rijksmuseum, responsável pelo projeto.
Para isso, o primeiro passo foi fotografar de forma minuciosa tanto a pintura de Rembrandt quanto a cópia, atribuída à Gerrit Lundens e datada de cerca de 1655. Em seguida, os pesquisadores redimensionaram as imagens para que ficassem do mesmo tamanho e removeram distorções de perspectiva presentes na cópia de Lundens, pois o artista estava sentado em um canto enquanto pintava a pintura de Rembrandt.
Com a ajuda da inteligência artificial, os computadores então "aprenderam" quais foram as cores utilizadas por Rembrandt e como eram suas pinceladas. Por fim, a imagem foi impressa em tela, envernizada e, em seguida, colocada em quatro armações de metal localizadas ao redor da pintura de forma a sobrepor a tela original sem tocá-la.
"Foi um verdadeiro prazer ver a pintura restaurada. Isso realmente muda toda a composição", enfatizou Erdmann.
Alvo de vandalismo
Rembrandt pintou A Ronda Noturna em 1642, sob encomenda de Cocq, o prefeito e líder da guarda cívica de Amsterdã, para representar os oficiais e outros membros do grupo.
A amputação da pintura não foi o único ato de vandalismo cometido na grande obra do mestre do claro-escuro. Ao longo dos anos, a tela já teve a camada de verniz riscada por um homem em 1911, foi atacada com uma faca por um desequilibrado mental em 1975 e borrifada com ácido em 1990.
O Rijksmuseum, que recentemente reabriu suas portas após a flexibilização das medidas contra o coronavírus, exibirá agora a obra completa, como parte de um amplo projeto de restauração da tela lançado em 2019 e batizado de "Operação Ronda Noturna".
ip/as (AFP, AP, Reuters)
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