Retirada das forças estrangeiras da Líbia avança em Berlim
Berlim, 23 Jun 2021 (AFP) - A Líbia informou nesta quarta-feira (23) sobre o progresso para a retirada das forças estrangeiras de seu território, com Rússia e Turquia discutindo a respeito da retirada de centenas de combatentes de ambos os lados.
Todo esse avanço ocorreu durante a cúpula internacional em Berlim com os principais participantes do conflito, sob acompanhamento da ONU, focada em estabilizar o país dez anos após a queda de Muammar Kadhafi.
"Fizemos progresso com o que se refere aos mercenários e esperamos que nos próximos dias eles tenham se retirado, e acho que isso será encorajador e reforçará a confiança de ambas as partes", declarou a ministra das Relações Exteriores da Líbia, Najla al Mangoush.
Um funcionário dos Estados Unidos - país cujo chefe da diplomacia, Antony Blinken, participou da reunião - garantiu que a ideia surgiu durante a recente reunião entre o presidente americano Joe Biden e seu homólogo russo, Vladimir Putin.
"Tanto os turcos como os russos aceitaram que este poderia ser um tema de discussão", ressaltou esse funcionário, que pediu anonimato.
A ideia "é discutir se cada lado pode retirar os 300 sírios" baseados na Líbia, acrescentou.
Moscou e Ancara, cujo apoio se dá para diferentes lados na Líbia, são suspeitos de recrutar combatentes sírios para defender seus interesses nesse país do norte da África.
O funcionário americano indicou que ainda há trabalho a ser feito com turcos e russos, uma vez que "existe uma desconfiança profunda, embora eles também estejam cientes do interesse em tentar algo nesse sentido".
- Compromisso de retirada -As conclusões da reunião internacional exigem que "todas as forças estrangeiras e mercenários sejam retiradas da Líbia sem demora".
Este aspecto é fundamental por causa do enorme papel desempenhado por potências estrangeiras na guerra nesse país mediterrâneo.
"Aqueles que da última vez em Berlim se comprometeram a retirar suas tropas não respeitaram isso", lamentou o chefe da diplomacia alemã, Heiko Maas, antes da cúpula, referindo-se à Rússia, Turquia e aos Emirados Árabes Unidos.
Em dezembro, a ONU estimou em cerca de 20.000 o número de mercenários e combatentes estrangeiros na Líbia: russos da organização privada Wagner, chadianos, sudaneses e sírios.
Existem também centenas de soldados turcos em virtude de um acordo bilateral fechado com o antigo governo de Trípoli.
Mas a saída brutal dos combatentes representaria uma nova ameaça para a região, temem diplomatas da ONU. O presidente do Chade, Idriss Déby Itno, morreu em abril durante uma ofensiva dos rebeldes chadianos da Líbia.
Os participantes da cúpula também se comprometeram nesta quarta-feira a garantir a segurança fronteiriça da Líbia e controlar os movimentos de grupos armados entre as fronteiras, assim como respeitar o embargo de armas.
- Dúvidas -O outro principal ponto da reunião era de garantir a realização simultânea de eleições presidenciais e legislativas em 24 de dezembro.
O governo de transição, liderado pelo primeiro-ministro Abdelhamid Dbeibah, "reafirmou o compromisso" sobre a organização das eleições, segundo comunicado final.
Porém, antes da reunião existiam dúvidas sobre se os governantes estão realmente interessados nesses processos eleitorais.
"É necessário que a missão da ONU tome todas as medidas nesse sentido e assuma suas responsabilidades para que as eleições sejam realizadas dentro do cronograma", disse Ahmad al Misrari, porta-voz do autoproclamado Exército Nacional da Líbia (ENL), liderado pelo marechal Khalifa Haftar, com poder no leste do país.
A formação de um governo de transição sob o amparo de um processo político promovido pela ONU foi um sinal de esperança depois de uma década de fracassos em tirar a Líbia do caos.
A União Europeia conta com ele para resolver o problema dos migrantes que saem da costa líbia, muitas vezes em barcos lotados e precários, para chegar à Europa.
Mas nas últimas semanas, as divisões ressurgiram entre as duas potências rivais, na Tripolitânia (oeste) e na Cirenaica (leste).
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