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Jornal pró-democracia Apple Daily de HK está com os dias contados

22/06/2021 09h47

Hong Kong, 22 Jun 2021 (AFP) - Uma onda de demissões abala o jornal pró-democracia de Hong Kong Apple Daily, que as autoridades querem silenciar, e seus funcionários hesitam em sair ou ficar até o último dia de sua publicação.

Na tarde de segunda-feira (21), os mil funcionários do tabloide crítico souberam da temida notícia: o Apple Daily está com os dias contados.

Quatro dias depois de uma grande batida policial na redação, da prisão de cinco de seus responsáveis e do congelamento de bens, a diretoria do jornal se reuniu.

Criado em 1995, o veículo decidirá na sexta-feira se fechará suas portas.

Os funcionários foram reunidos e poderão decidir pela demissão, ou por ficar até o último dia, qualquer que seja ele, relataram três trabalhadoras à AFP.

"Decidi apresentar minha carta de demissão", disse Joanne, uma jornalista que preferiu não revelar seu sobrenome. "O risco de ser presa é real", completou.

O Apple Daily mostrou seu forte apoio ao movimento pró-democracia ao longo dos anos e nunca parou de criticar abertamente os líderes chineses.

Pequim, por sua vez, sempre quis ver o jornal desaparecer.

A chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, defendeu nesta terça as medidas tomadas contra o jornal e rejeitou as críticas dos Estados Unidos sobre os ataques à liberdade de imprensa no território.

"Criticar o governo de Hong Kong não representa problemas, mas se há intenção de organizar ações que incitam a subversão (...) é algo diferente", disse Lam em entrevista coletiva.

- Sem poder pagar os salários -O proprietário do Apple Daily é o empresário Jimmy Lai, de 73 anos, atualmente na prisão e condenado a várias penas por seu envolvimento nas manifestações pró-democracia de 2019.

Em 17 de junho, as autoridades congelaram os ativos do jornal no âmbito da polêmica Lei de Segurança Nacional em vigor há quase um ano. Como resultado, o veículo afirma que não pode pagar seus trabalhadores ou fornecedores.

Anunciantes e indivíduos desejam fornecer apoio financeiro ao jornal, mas não podem transferir dinheiro para as contas bancárias da publicação.

Dois funcionários do jornal, o editor-chefe, Ryan Law, e seu diretor-geral, Cheung Kim-hung, foram acusados de "conluio com um país estrangeiro" por artigos que, segundo a polícia, pediam sanções internacionais contra os líderes da China e Hong Kong.

As autoridades rejeitam as acusações segundo as quais agem contra a liberdade de imprensa, mas não quiseram especificar quais os artigos que vão contra a lei de segurança nacional.

Nesta terça-feira, o número de funcionários do Apple Daily que pediram demissão não aumentou, mas muitos foram filmados no dia anterior com caixas de papelão do lado de fora dos escritórios.

O serviço de informações financeiras do jornal e sua edição em inglês também anunciaram que deixarão de publicar.

Uma jornalista, Peggy, explicou que seus colegas passaram na redação na segunda-feira para se despedir de quem decidiu ir embora.

"Foi como uma cerimônia de entrega de diploma, com alguém sempre chorando", contou Peggy, que pediu demissão e quer mudar de profissão.

"Vou ficar até a última" edição, disse Kitty, de 40 anos. Embora tenha garantido que, se tiver a sorte de encontrar trabalho em outro jornal, terá que ser "muito mais cautelosa".

Essas três jornalistas expressaram seu orgulho por terem trabalhado no Apple Daily.

Pensando no futuro do território, Joanne se pergunta se terá permissão para "dizer algo em que realmente acredita".

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APPLE INC.

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