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Jovens politizados lideram os protestos na Colômbia

13/06/2021 14h24

Bogotá, 13 Jun 2021 (AFP) - "Na minha casa todos diziam que não falavam sobre política, mas passei a maior parte da vida em manifestações". O conflito na Colômbia permite que os jovens expressem seu descontentamento social e nasçam politicamente nas ruas.

"Meu pai costumava dizer 'por que votar? Por que marchar se tudo vai continuar igual?' Não vemos dessa forma", acrescentou à AFP a estudante Jennifer Pedraza, de 25 anos, uma das líderes do movimento de protesto.

2019, 2020, 2021: durante três anos, o presidente Iván Duque sofreu uma sucessão de mobilizações contra seu governo e a rejeição à brutalidade policial em uma escala sem precedentes no país de 50 milhões de habitantes e um dos mais desiguais do mundo.

Em 28 de abril, a chama reacendeu quando o governo conservador lançou um criticado plano de aumento de impostos, mais tarde retirado.

Mas as manifestações não diminuíram e a revolta popular cercou o presidente mais jovem da história recente do país, um ano antes das eleições das quais sairá seu sucessor.

As mobilizações são mantidas quase que diariamente com bloqueios de estradas e, muitas vezes, confrontos violentos entre civis e policiais.

É um surto social que não se via desde a década de 1970 em um país marcado por mais de cinco décadas de conflito armado e que continua lutando para virar a página da violência, apesar de ter assinado um acordo de paz em 2016 com a poderosa guerrilha das Farc.

- Por uma sociedade mais justa -Longe do debate sobre guerra e paz, as demandas por "mais justiça social", "menos corrupção", "mais empregos e oportunidades" surgiram em 2019 e voltaram com força nos protestos atuais, enquanto a pandemia atinge 42% da população que vive em situação pobreza.

Tatiana Rodríguez, de 29 anos, participa de todos os protestos desde que seu trabalho em uma lanchonete e a educação de seus filhos permitam.

"Nós jovens, millennials, somos muitos e não temos medo", diz a mulher que mora em um bairro pobre no sul de Bogotá.

- Geração conectada -Aos 74 anos, Eduvigis Palacio não sai às ruas.

Palacio viveu o conflito armado quando deu aulas no departamento de Caquetá (sul) entre 1987 e 1991.

Ela lembra do medo de ficar presa "no fogo cruzado", entre militares e guerrilheiros. Hoje, está feliz com a "abertura ao mundo" que os jovens têm graças à internet.

"Uma geração mais atenta ao estado do país (...) vê que tem gente que ganhou com esse tipo de mobilização", diz.

"Começamos a ver que em outros países a educação é gratuita" e há melhores condições de trabalho, diz Tatiana.

"As pessoas veem que lutar é útil, como no Chile", acrescenta Jennifer.

Tatiana debate com sua irmã mais velha Viviana. Ela é empregada doméstica e embora apoie as "demandas", diz que é "prejudicada pelos bloqueios" nas ruas que a obrigam a desviar e gastar mais dinheiro com transporte para ir ao trabalho.

Ela quer que a crise seja resolvida nas urnas. O país sul-americano nunca foi governado pela esquerda e a abstenção é alta (47% nas eleições de 2018), principalmente entre os jovens.

A questão sobre o impacto dos protestos nas eleições presidenciais de 2022 está na mesa.

"Espero que a abstenção diminua, que jovens se lancem na política", conclui Jennifer.

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