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Milhares continuam chegando à fronteira de Ceuta ante o silêncio do Marrocos

18/05/2021 17h52

Fatima Zohra Bouaziz.

Castillejos (Marrocos), 18 de mai (EFE).- A chegada maciça de migrantes de todas as idades e condições de Castillejos para atravessar a fronteira terrestre com a cidade espanhola de Ceuta, no norte da África, continuou pelo segundo dia consecutivo, sem resposta aparente da polícia marroquina e perante o silêncio oficial do governo do Marrocos.

Até agora, mais de 6.000 pessoas conseguiram entrar em Ceuta por todos os meios possíveis (seja nadando, caminhando ou forçando o quebra-mar que separa Castillejos de Ceuta), em uma crise migratória sem precedentes na história da região.

Deste total, o ministro do Interior espanhol, Fernando Grande-Marlaska, assegurou que 2.700 já foram devolvidos ao Marrocos.

A Agência Efe entrou em contato com quatro fontes oficiais marroquinas para buscar explicações sobre esta chegada maciça dos seus cidadãos por uma fronteira em teoria fechada, mas nenhuma delas quis responder às perguntas. Nem mesmo a agência de notícias oficial "MAP" fez a mais pequena alusão ao que acontece desde ontem.

O presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, que cancelou uma viagem planejada a Paris, garantiu hoje que o Executivo terá "a máxima firmeza" para restaurar a normalidade na cidade de Ceuta.

Por sua parte, a Comissária Europeia para os Assuntos Internos, Ylva Johansson, pediu hoje ao Marrocos para "permanecer empenhado" na luta contra a imigração irregular.

"As fronteiras da Espanha são europeias", salientou a comissária, frisando que a União Europeia "quer uma relação com o Marrocos baseada na confiança e em compromissos partilhados".

Grande-Marlaska deslocou-se esta manhã para Ceuta, onde foi declarado alerta máximo e onde, além da Guarda Civil e da Polícia Nacional, foram destacadas tropas do exército.

Em relação aos 2.700 marroquinos devolvidos nas últimas horas, de acordo com os números de Marlaska, a Efe pôde confirmar do lado marroquino da fronteira que os regressos foram voluntários e sem qualquer resistência por parte dos migrantes, e que não houve qualquer formalidade, uma vez que as forças espanholas simplesmente abriram a porta para permitir que os migrantes deixassem o território de Ceuta.

Desde as primeiras horas de hoje, milhares de pessoas, da região norte de Tânger, Tétouan e Castillejos, bem como outras de outras áreas do interior do país, dirigem-se para a fronteira com Ceuta em um fluxo imparável de pessoas, e, à medida que o dia avança, seu número aumenta e novos grupos seguem chegando.

Entre eles há muitos jovens que se deslocam em chinelos de dedo ou mesmo descalços, assim como em trajes de banho porque optaram por atravessar a fronteira a nado, rodeando o quebra-mar.

Famílias inteiras, mães com bebês, idosos, mas principalmente jovens e menores, saltaram ao mar e outros subiram a colina de Belyunesh, que tem vista para Ceuta, enquanto outros passaram por baixo dos buracos que fizeram na vedação metálica que serve de fronteira entre o Marrocos e o território conhecido como "terra de ninguém", antes da chegada em território espanhol.

Os migrantes penetraram na "terra de ninguém" diante do olhar passivo das autoridades marroquinas e chegaram à última cerca, enquanto as forças espanholas, do outro lado, dispararam gás lacrimogêneo contra aqueles que tentaram forçar a barreira.

Os disparos de gás lacrimogêneo foram em várias ocasiões respondidos com pedras pelos milhares de jovens que se aglomeraram na barreira, esperando pacientemente pelo momento certo para entrar.

Esta avalanche migratória sem precedentes ocorre em um ano de enorme crise tanto em Ceuta (devido ao fechamento da fronteira pelo Marrocos em março de 2020, e sem uma data para a sua reabertura) como na sua vizinha região marroquina, que já sofria antes da pandemia as consequências do fim do contrabando desde outubro de 2019, o que deixou milhares de famílias na região sem sustento.

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