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Após receber milhares de migrantes em enclave africano em um dia, Espanha promete "reestabelecer a ordem"

18/05/2021 15h42

O enclave espanhol de Ceuta, no norte de Marrocos, recebeu, apenas nesta segunda-feira (17), cerca de 8 mil migrantes clandestinos. Mesmo se boa parte deles foram expulsos imediatamente e enviados de volta para o lado marroquino da fronteira, o episódio provocou tensões diplomáticas entre Madri e Rabat. O chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez, fala de uma verdadeira "crise".

"Vamos restabelecer a ordem na cidade e nossas fronteiras com a máxima celeridade", afirmou Pedro Sánchez, pouco antes de desembarcar em Marrocos nesta terça-feira (18). O chefe do governo visita Ceuta e também Melilla, outro território espanhol no norte marroquino. "Esta chegada súbita de migrantes irregulares representa uma grave crise para a Espanha e também para a Europa", completou Sánchez, uma referência ao fato de que Ceuta e Melilla são as únicas fronteiras terrestres da União Europeia (UE) com a África.

"Marrocos é um país sócio, um país amigo da Espanha e assim deve continuar sendo", destacou Sánchez. "Mas para que seja efetiva, esta cooperação deve ser baseada, sempre, no respeito às fronteiras mútuas".

Segundo números atualizados nessa terça-feira, dos cerca de 8 mil migrantes que desembarcaram em Ceuta na véspera, alguns deles a nado, 4 mil foram enviados de volta para o Marrocos.

Esta é uma situação sem precedentes, mesmo se a cidade costuma receber entradas maciças de pessoas, pulando sua cerca de fronteira. Em julho de 2018, cerca de 600 migrantes conseguiram entrar ilegalmente em Ceuta após um violento ataque, no qual atiraram cal, pedras, paus e excrementos para intimidar a polícia de fronteira. Entre o final de 2016 e o início de 2017, o enclave também sofreu várias incursões de centenas de pessoas que conseguiram atravessar sua cerca de fronteira.

Tensão diplomática

O governo espanhol convocou a embaixadora marroquina no país e expressou sua "insatisfação" diante dessa nova onda de migrantes. "Disse para ela que o controle das fronteiras foi e deve continuar sendo uma responsabilidade compartilhada por Espanha e Marrocos", declarou a ministra espanhola das Relações Exteriores, Arancha Gonzalez Laya. A representante diplomática marroquina foi em seguida convocada por Rabat.

A União Europeia expressou solidariedade com Madri. Bruxelas afirmou que o governo marroquino deve impedir a saída de migrantes de seu território.

A crise acontece em um momento de tensão diplomática entre Espanha e Marrocos, um aliado crucial no combate à imigração irregular. Rabat se irritou com a decisão do governo espanhol, em abril, de receber o líder do movimento independentista saharaui da Frente Polisário, Brahim Ghali, para que recebesse tratamento por Covid-19 em um hospital.

O governo marroquino convocou o embaixador espanhol no fim de abril para expressar sua "irritação" com a presença em território espanhol do ativista que defende a independência do Saara Ocidental, uma ex-colônia espanhola que Marrocos considera parte integral de seu território.

"Tratava-se e continua se tratando de uma simples questão humanitária", reiterou nesta terça-feira a ministra espanhola das Relações Exteriores ao defender a decisão de receber Ghali.

Em dezembro passado, o governo espanhol também convocou o embaixador marroquino com urgência para pedir explicações sobre algumas declarações do primeiro-ministro Saad Dine El Otmani. Nelas, ele se propunha a abrir a questão sobre sua soberania.

Presídios coloniais

Cidades portuárias com um comércio próspero com a África, os dois enclaves são rotulados de "presídios coloniais" pelo Marrocos, que os considera parte integrante de seu território, assim como a Espanha.

Ambos os territórios foram conquistados pelos reis católicos como postos avançados, após a expulsão de mouros e judeus da Espanha, em 1492. Madri exerce soberania sobre Melilla desde 1496 e, sobre Ceuta, desde 1580.

Com cerca de 84.000 habitantes em menos de 20 km2, Ceuta fica 50 km ao leste de Tânger, em frente a Gibraltar. Localizada a 150 km da Argélia, a cidade de Melilla (12,5 km2) abrigava uma população cosmopolita de mais de 87.000 habitantes no final de 2020, metade muçulmana.

(Com informações da AFP)

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