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Moradores veem provas forjadas pela polícia para justificar morte em SP

15.mai.2021 - Foto de arquivo do tatuador Gilberto Tito Amâncio, de 28 anos, morto pela Polícia Civil paulista - Reprodução
15.mai.2021 - Foto de arquivo do tatuador Gilberto Tito Amâncio, de 28 anos, morto pela Polícia Civil paulista Imagem: Reprodução
do UOL

Juca Guimarães, da Alma Preta Jornalismo

Colaboração para o UOL, em São Paulo

15/05/2021 15h51Atualizada em 17/05/2021 09h13

Moradores da Favela da Felicidade, no Jardim São Luiz, Zona Sul de São Paulo, protestaram contra o assassinato de um jovem tatuador morto pela Polícia Civil quando estava a caminho do trabalho ontem (14). Segundo testemunhas, os policiais forjaram a cena do crime para incriminar o rapaz.

Gilberto Tito Amâncio, de 28 anos, não tinha estúdio de tatuagem e atendia os clientes em domicílio. Na manhã da sexta-feira, ele caminhava para a casa de um cliente, na mesma favela, quando entrou em uma viela e foi morto pelos policiais.

Segundo testemunhas, para descaracterizar o crime, os policiais forjaram uma cena de crime para dizer que o rapaz estava armado e atirou primeiro. A versão dos policiais sustenta ainda que Gilberto era traficante de drogas.

"O Gibinha nunca teve uma arma", conta um amigo à Alma Preta Jornalismo, que pediu para ter a identidade preservada.

Gilberto tinha um filho de apenas 3 anos e estava animado para o trabalho, pois o cliente faria o "fechamento do braço" —termo usado para uma tatuagem que rende mais dinheiro para o profissional.

"Era um bom rapaz, trabalhava e nunca teve qualquer envolvimento com tráfico de entorpecentes ou outro tipo de crime. Todo mundo conhecia o Gibinha e sabia que ele era trabalhador", descreve um morador da favela que conhecia a vítima.

Na noite de sexta-feira, a família tentou liberar o corpo de Gilberto no IML (Instituto Médico Legal) para prosseguir com o velório e enterro, mas descobriu que o trabalhador foi registrado como "indigente". Os familiares conseguiram a liberação do corpo apenas na manhã de hoje (15), e o enterro foi realizado no Cemitério São Luiz.

Testemunhas divergem da polícia

Segundo o boletim de ocorrência registrado no DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa), os policiais civis Cesar Augusto de Oliveira, Emiliano Aparecido Bechelani, José Ney Lopes e Ubirajara Oliveira estavam na Favela da Felicidade na sexta-feira para a entrega de uma intimação a um morador.

Os policiais contam que viram Gilberto e um amigo dele na viela, "local de tráfico de drogas de uma facção conhecida", e pediram para eles levantarem a camisa. Neste momento, Gilberto teria sacado uma arma, e os policiais dispararam pelo menos seis vezes contra o trabalhador. De acordo com o boletim, a arma que os policiais alegam ter sido sacada por Gilberto era de brinquedo. Os policiais civis apresentaram na delegacia as pistolas calibre .40 que usaram para atirar no rapaz.

Nas redes sociais, circulam imagens que contestam a versão relatada pelos policiais. Uma primeira imagem mostra que não havia arma no chão quando Gilberto foi morto. Uma segunda imagem mostra uma arma no chão durante o trabalho da perícia.

Ainda segundo familiares, o corpo de Gilberto foi retirado da viela onde ele foi morto pelo IML, mas a versão dos policiais dá conta de que o Samu foi acionado por eles para resgatar o jovem baleado.

Após o assassinato de Gilberto, moradores da Favela da Felicidade fizeram um protesto bloqueando uma parte da avenida Guido Caloi, às margens do Rio Pinheiros, na Zona Sul da capital. Um ônibus foi incendiado, o ato foi reprimido pela Tropa de Choque e seis manifestantes foram detidos e levados para o 47º Distrito Policial. Um novo ato está marcado para a segunda-feira (17).

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do estado de São Paulo afirmou que Gilberto "foi atingido e socorrido, mas não resistiu aos ferimentos". O órgão também disse que a Polícia Militar "prendeu três criminosos com coquetel molotov" após o incêndio do ônibus no protesto de ontem, e que um policial foi ferido e socorrido.

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