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O agronegócio brasileiro está pondo sua posição em jogo

Alexander Busch

12/05/2021 10h25

O agronegócio brasileiro está pondo sua posição em jogo - Nenhum outro setor no Brasil teve tanto sucesso no mercado mundial nos últimos 15 anos. Mas isso está ameaçado porque a maioria dos agricultores parece não reconhecer os sinais dos tempos, escreve Alexander Busch.É impressionante como a agricultura brasileira se desenvolveu nos últimos 15 anos. Transformou o Brasil, um país autossuficiente que importava muitos produtos agrícolas, no maior agroexportador do mundo. E isso apesar de o volume do mercado mundial de produtos agrícolas ter, paralelamente, triplicado entre 1995 e 2019.

O Brasil tem hoje, de longe, a maior exportação líquida de produtos agrícolas do mundo. O país não está produzindo muito apenas em seus campos: também é cada vez mais capaz de exportar muito e mais a cada ano. É diferente dos EUA, a maior potência agrícola do mundo: o país produz e exporta muito, mas é também o maior importador mundial de produtos agrícolas.

O Brasil não só fornece metade da soja comercializada no mundo. O Brasil é também o principal fornecedor de carne, açúcar, milho, café, suco de laranja e algodão. É menos conhecido, mas o Brasil é também um dos mais importantes exportadores mundiais de melancias, castanhas de caju e tabaco. O Brasil está entre os cinco maiores exportadores de 30 produtos agrícolas.

No ano passado, o Brasil conseguiu equilibrar sua balança comercial sobretudo graças às exportações de bens agrícolas, que atingiram o montante de cerca de 100 bilhões de dólares. Especialistas esperam outro aumento neste ano. Sem o agronegócio, a crise econômica do Brasil seria muito mais grave.

O Brasil alcançou esta posição de liderança principalmente por meio de sua própria pesquisa e de tecnologia autodesenvolvida. Isso se deve a institutos como a Embrapa, que é líder mundial em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia de ponta para a agricultura nos trópicos e subtrópicos.

No entanto, os agricultores brasileiros também devastaram floresta tropical e Cerrado para plantar soja e abrir espaço para o gado.

E é justamente por esta razão que a continuação da impressionante história de sucesso da agricultura brasileira no mercado mundial está ameaçada. As influentes associações agrícolas parecem ignorar o cenário ameaçador que está atualmente se formando contra o Brasil no mundo inteiro.

Isso vale sobretudo num momento em que se debate a mudança climática e a proteção das florestas tropicais. Durante as discussões das últimas semanas sobre como o Brasil deveria se posicionar sobre estas questões, quase nada foi ouvido das associações agrícolas.

Pelo contrário: o governo e o Congresso querem agora aprovar uma lei que deve legalizar retroativamente a tomada de propriedade na Amazônia. O principal objetivo é legalizar as ocupações ilegais dos últimos anos por parte dos grandes proprietários de terras na região.

Em carta aberta ao Legislativo, 40 redes varejistas europeias advertiram que não comprarão mais produtos do Brasil se as operações de corte e queima não forem reduzidas. A carta é assinada por marcas como Aldi, Lidl, Metro, Migros, Sainsbury e Tesco.

Há muito tempo existe uma feroz guerra de trincheiras em associações agrícolas e grupos lobistas no Brasil. A linha de fronteira passa pela chamada "Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura", que vem tentando unir agro e meio ambiente desde a cúpula climática de 2015. Do outro lado, estão as associações tradicionais de agricultores, que consideram isso supérfluo ou sem sentido. Atualmente, os agricultores conservadores estão dando os primeiros passos tanto no Congresso quanto no governo.

A médio prazo, isso se tornará um problema para o agronegócio brasileiro: os concorrentes no mercado mundial estão só esperando que o setor agrícola brasileiro abra seus flancos para que possam escantear os concorrentes indesejáveis da América do Sul ou exigir preços mais baixos.

E até agora, a floresta tropical em chamas é só o argumento mais forte para desacelerar as exportações agrícolas brasileiras. Há também outros pontos-chave: a abertura de reservas indígenas a agricultores, por exemplo, ou as condições de trabalho análogas à escravidão nas fazendas, que são cada vez mais controladas de forma laxista pelas autoridades.

Atualmente, os agricultores brasileiros estão oferecendo a seus concorrentes no mercado agrícola mundial os argumentos em uma bandeja de prata. É como se eles não estivessem percebendo os sinais dos tempos.

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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.
Autor: Alexander Busch

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