Topo
Notícias

ANÁLISE

Honda justifica fama de "inquebrável"? Veja o que esperar em um carro usado

Divulgação
Imagem: Divulgação
do UOL

Colunista do UOL

06/05/2021 04h00

A Honda tem uma imagem muito forte em todo o mundo. Por aqui, antes mesmo de começar a comercializar seus carros, já admirávamos a qualidade de suas motocicletas e vibrávamos com as vitórias e títulos de pilotos brasileiros na Fórmula 1 que corriam com seus motores.

Os carros só vieram de maneira oficial no começo dos anos 90, com a abertura das importações. Não demorou muito para que o Civic, seu principal produto até então, passasse a ser fabricado aqui, na segunda metade dos anos 90.

De lá para cá, só cresceu nossa admiração pela marca, que conquistou uma reputação quase inabalável. As poucas reclamações, geralmente, são por conta do preço alto de seus carros, seja no mercado de novos ou usados. Por outro lado, um produto que continua caro mesmo com o passar dos anos não deixa de ser atraente para quem procura um veículo com baixa desvalorização, algo que sempre foi ponto forte da marca japonesa.

Porém, nem por isso dá para comprar um Honda usado com os olhos fechados. A partir do momento que um carro ganha as ruas, os cuidados com as manutenções são de responsabilidade do dono, ou seja, cada veículo tem sua história para contar - e é preciso ter muita atenção no momento de avaliar um usado para poder decifrar essa história e concluir se é ou não uma boa compra.

Para a coluna dessa semana, contei mais uma vez com a ajuda do meu amigo e mecânico Daniel Taniguti para definirmos algumas dicas do que podemos observar num Honda usado, além das particularidades dos modelos.

Ele recebe muitos e muitos modelos da marca em sua oficina, sendo boa parte apenas para manutenções preventivas, mas alguns precisando de correções. Ele disse algo curioso sobre isso: quando um Honda está com problema, é por ser um "problema colocado", ou seja, aconteceu por alguma manutenção feita de maneira errada por alguém.

Curioso que, chegamos num consenso de que muitos Hondas estão com manutenções negligenciadas, apesar de não aparentarem isso. O carro é tão bom que os donos ficam relaxados e deixam de dar a devida atenção.

Costumo ver isso com frequência nas vistorias que faço, geralmente daquele dono que se orgulha em dizer que nunca precisou fazer nada além das básicas trocas de óleo do motor. Já o Daniel presencia Hondas com peças que já passaram muito do tempo de terem sido substituídas. São situações em que o carro até funciona, mas certamente com algum sintoma de baixo desempenho ou alto consumo de combustível.

O período da garantia de fábrica é de três anos. Geralmente as manutenções são feitas nas concessionárias nesses primeiros anos, sendo bem mais tranquilo comprar um Honda nessa condição.

A atenção começa naqueles que passaram bem desse período. Quando um Honda chega nos 40 mil km, o fabricante indica ajustar a folga das válvulas, algo incomum de ser exigido por outros fabricantes. O motivo é muito simples, os motores da marca não contam com tuchos hidráulicos, mas sim balancins, um sistema um tanto antiquado, mas que dá certo e foi mantido pela montadora em seus projetos de motores.

Carros com essa quilometragem, na maioria das vezes, já passaram do período de garantia do fabricante e, nesse caso, dependem da boa vontade de seus donos em seguirem com essa recomendação.

Caso parecido acontece com as velas de ignição. É comum pegar Honda com altas quilometragens, entre 90 e 100 mil km, em que elas ainda são as que vieram com o carro desde novo. No manual do proprietário, está muito claro que a troca das velas devem ser feitas a cada 60 mil km. Como são de iridium, um material nobre para as velas, alguns donos acreditam que elas devem chegar nos 100 mil km e seguem rodando com o carro.

Uma dica para os carros com motores flex é sobre o filtro de combustível. Carros de origem asiática geralmente vinham com esses filtros dentro do tanque de combustível, uma peça mais robusta de baixa manutenção. Porém, com a tecnologia flex, a Honda optou pelo filtro de combustível externo, e nem todo mundo sabe disso. No manual, a troca desse componente é indicada a cada 10 mil km, ou seja, junto com a troca de óleo do motor. Já nos motores somente a gasolina, essa troca se estende para 40 mil km.

A transmissão preferida é a automática. Raro são aqueles vendidos com transmissão manual, inclusive eu tenho certeza que a marca foi uma das principais a difundir esse tipo de transmissão no Brasil.

Felizmente são robustas e exigem pouca manutenção, como a troca do fluido a cada 80 mil km em uso normal ou 40 mil km em uso severo. Isso serve para qualquer tipo, seja automática com número de marchas ou do tipo CVT.

Nesse ponto lembro da opinião de outro amigo mecânico, o Breno, dono de uma oficina especializado em transmissão automática e que já me ajudou em outras colunas. Ele conta que as transmissões de Honda mais problemáticas são as do Civic 2001 e 2002 (problema corrigido no 2003), seguida pela CVT da primeira geração do Fit, que ainda usava embreagem e é diferente do CVT atual, que utiliza conversor de torque.

Outra dica é na escolha desse fluido para a troca, que é diferente para cada tipo de transmissão. Nem mesmo o fluido do CVT dos primeiros Fits podem ser aplicados nos atuais. Já o Daniel me alertou sobre o filtro externo que tem nessas transmissões e muitos esquecem de substituir quando param para fazer essa manutenção.

O sistema de arrefecimento da Honda é muito preciso, com aditivo de primeira linha, apto a trabalhar nesses motores de alumínio. Jamais troque o líquido de arrefecimento em oficinas que não são especializadas, tampouco aceite que o frentista do posto queira completar com um aditivo de péssima qualidade.

No momento da avaliação do usado para a compra, é importante que isso seja debatido com o dono do carro. Hondas com aditivos ruins apresentam problemas de vazamento, por problemas na bomba d'água e nos selos de proteção do motor.

Muitos Fit e City, modelos de entrada da marca que compartilham a mesma plataforma, sofrem com barulhos na suspensão e nem sempre isso é devidamente solucionado, mesmo com trocas de muitos componentes de maneira prematura.

Originalmente, essa suspensão é robusta e aguenta bem as irregularidades das ruas brasileiras. Ao meu ver, esse típico dono de Honda que não respeita muito os intervalos de manutenção é aquele mesmo que guia como se estivesse disputando um rali com um jipe 4x4. Nesses casos, não tem suspensão que aguente.

O Daniel tem uma dica de ouro para a suspensão desses dois carros, que é a verificação das buchas da barra estabilizadora. São peças bem baratas, mesmo se compradas na concessionária, e solucionam aquele barulho que parecia não ter fim.

Outro barulho comum, agora em todo Honda, vem do freio. Como eles utilizam pinos deslizantes nas pinças, é comum que fiquem com folga ao longo da vida do carro, o que causa barulhos. Mais uma vez é algo para ser verificado, antes de sair trocando peças de suspensão sem necessidade.

No caso dos motores 2.0, Daniel conta que tem pego muitos com vazamento de óleo na tampa de válvulas, algo facilmente resolvido com a substituição da junta de vedação, e com o aplique correto do torque nos parafusos. A dica é, caso seja preciso fazer isso, aproveite a mão de obra para regular a folga das válvulas que descrevi acima, já que a tampa de válvulas terá que ser retirada.

Por fim, a dica é para verificar o tipo de óleo que vinha sendo utilizado pelo antigo dono. Os modelos mais recentes estão utilizando o óleo 0w20, que é bem mais caro que o normal. Tem sido comum ver donos de Honda utilizando o óleo 5w30, que era utilizado nos carros mais antigos e é mais barato. Ao se deparar com isso, é melhor desistir da compra, pois essas mudanças de óleo não previstas pelo fabricante podem causar problemas no futuro.

Se atente nesses pontos acima, caso o Honda do seu interesse tenha passado dos 40 mil ou 60 mil km, e exija comprovante dessas manutenções, caso não queira levar para casa um carro desregulado, barulhento e que gasta mais combustível do que deveria.

Notícias