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Ação policial deixa ao menos 25 mortos em comunidade do Rio de Janeiro

06/05/2021 20h31

Rio de Janeiro, 6 Mai 2021 (AFP) - Pelo menos 25 pessoas, incluindo um policial, morreram nesta quinta-feira (6) em uma operação contra o tráfico de drogas em uma comunidade do Rio de Janeiro, informaram fontes policiais citadas pela imprensa.

Segundo pesquisadores da área, se o número de mortos for confirmado, está será a operação policial mais letal da história do Rio.

Um grande número de agentes foi enviado desde a madrugada para a favela do Jacarezinho, na Zona Norte da cidade, que se transformou em campo de batalha.

Moradores relataram tiroteios intensos, com helicópteros sobrevoando casas, pessoas mortas em terraços e becos e corpos carregados por caminhões blindados da polícia, informou à AFP um líder comunitário, que pediu para não ser identificado por motivos de segurança.

Em entrevista coletiva no final da tarde, a Polícia Civil confirmou o balanço inicialmente informado pela imprensa de "24 suspeitos" e um agente morto, e garantiu que "todos os protocolos" da corporação "foram atendidos, sem exceção", antes de abrir fogo.

"Lamentavelmente teve muito confronto na comunidade. Não há de se comemorar esse resultado", afirmou um responsável da Polícia Civil. O agente morto foi baleado na cabeça "no início da operação", acrescentou.

A operação foi deflagrada por causa de uma investigação sobre uma quadrilha que recrutava crianças e adolescentes para o tráfico de drogas, roubos, sequestros e homicídios, informou a Polícia Civil, que não comunicou de imediato o balanço oficial de mortos.

Um morador contou à AFP que um jovem foi morto em sua casa, onde tentou se abrigar, ferido.

"O menino entrou baleado, como a gente mora na comunidade ninguém pode jogar alguém fora, ele ficou aqui e quando os policiais viram o sangue, eles entraram gritando 'cadê ele, cadê ele', e só tive o tempo de botar meus filhos para atrás de de mim e eles assassinaram o garoto no quarto", relatou a mulher.

- Operação mais letal -"Se pensar em chacinas com participação de policiais fora de serviço (operações de vingança ilegais) temos Vigário Geral com 22 (mortos) e Candelária com 7 (mortos), ambas em 1993", disse Silvia Ramos à AFP, pesquisadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes.

"Mas mortos em operações legais, essa de hoje do Jacarezinho bateu todos os recordes", acrescentou.

O Jacarezinho é considerado a base do Comando Vermelho, principal organização do narcotráfico do Rio.

Fotos que circulam entre os moradores nas redes sociais mostram corpos em várias partes do bairro.

Os tiroteios feriram dois passageiros do metrô, que circula na superfície daquela parte da cidade, segundo reportagens, mostrando pessoas sendo atendidas na plataforma.

Grandes grupos de policiais se espalharam pelo bairro, enquanto moradores assustados tentavam trabalhar e retomar suas atividades quando o tiroteio terminou, relatou um fotógrafo da AFP.

Integrantes de ONGs de defesa dos direitos humanos foram à favela e, junto com os moradores, fiscalizaram as casas que foram invadidas durante a ação policial, algumas com vestígios de sangue e destruição.

Segundo a plataforma digital Fogo Cruzado, que reúne dados sobre a violência no Rio, esta é a ação com maior número de mortes desde o início dos registros, em 2016.

"A polícia empilha corpos de jovens negros de favelas e diz: são todos criminosos. Mas quais são os nomes desses jovens, que dados eles tinham, onde estão as famílias desses jovens? É muito simples dizer que são todos criminosos. Não é possível seguir matando gente assim" sem apresentar provas, acrescenta Ramos.

O Instituto Igarapé, especializado em questões de segurança e desenvolvimento, considerou "inaceitável que a política de segurança pública do estado continue apostando na letalidade como principal estratégia, sobretudo em áreas vulneráveis".

Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), citados pelo Igarapé, a polícia do Rio "foi responsável pela morte de 453 pessoas entre janeiro e março deste ano", número que já representou "36% do total registrado em 2020", quando 1.245 pessoas foram mortas.

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