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Pablo Iglesias, auge e queda de um líder de esquerda em sete anos

05/05/2021 21h09

Antonia Méndez Ardila.

Madri, 5 mai (EFE).- Pablo Iglesias, que em 2014 se tornou uma esperança para a esquerda espanhola em plena crise econômica e se tornou vice-presidente do governo, deixa a cena política, considerando-se um "bode expiatório", que mobilizou e facilitou o triunfo da direita nas eleições regionais em Madri.

"Quando alguém não é útil, tem de saber como se retirar", disse o secretário-geral do Podemos na noite de terça-feira, depois de saber os resultados das eleições em Madri, nas quais concorreu para tentar impulsionar o partido e frear a direita.

Para isso, Iglesias abandonou o posto de segundo vice-presidente no governo de coalizão espanhol, presidido pelo socialista Pedro Sánchez.

"Um militante deve estar onde é mais útil em qualquer momento", disse em março passado, quando anunciou a candidatura à comunidade autônoma de Madri.

Mas, embora o seu partido tenha obtido mais três deputados, foi amplamente ultrapassado por outro de esquerda, Mas Madrid, que emergiu de uma cisão do Podemos, enquanto o conservador Partido Popular (PP) obteve uma vitória contundente.

As últimas palavras de despedida aos apoiadores na noite de eleições foram uma citação do cantor e compositor cubano Silvio Rodríguez: "Não sei o que é o destino. Caminhando, fui o que fui".

O até então líder do Podemos, do qual foi um dos fundadores, disse estar "enormemente orgulhoso" do que foi alcançado pelo grupo desde que, há sete anos, concorreu pela primeira vez a uma eleição, uma vez que seu projeto político "mudou a história do país" e "pôs fim ao bipartidarismo".

Iglesias, professor de ciências políticas na Universidade Complutense de Madri, chegou à arena política espanhola em 2014, quando foi eleito para o Parlamento Europeu, impulsionado pelo movimento social 15-M, mobilização dos mais afetados pela crise econômica desencadeada em 2008 e que tinha Madri como referência.

Foi na Faculdade de Ciências Políticas da Universidade Complutense de Madri que Iglesias fundou o Podemos, juntamente com outras figuras como Íñigo Errejón, Juan Carlos Monedero, Carolina Bescansa e Luis Alegre, mas vários dos fundadores saíram do partido em meio a críticas em relação a Iglesias.

O objetivo do novo grupo era "assaltar os céus", como Iglesias gostava de dizer, recordando uma expressão de Karl Marx, e superar os socialistas (PSOE) para se tornar uma referência para a esquerda espanhola.

Em 2015, com um ano de vida, Podemos entrou na política espanhola e, juntamente com outros grupos de esquerda, ganhou 69 dos 350 assentos na Câmara, impulsionado por muitos eleitores desapontados com o PSOE.

A meta era romper o sistema bipartidário tradicional formado por PSOE e PP, mas foi perdendo fôlego em eleições sucessivas. No entanto, em 2020 alcançou o objetivo desejado: entrar no governo espanhol, após duras tensões com o partido socialista e o seu líder, Pedro Sánchez.

A passagem pelo governo teve pouco equilíbrio de gestão, de acordo com os seus críticos, e tensões internas com o PSOE, que frequentemente chegavam às primeiras páginas dos jornais.

Convicto de que o papel do Podemos era fazer frente aos socialistas para defender as políticas sociais, Iglesias se envolveu em diversas disputas com o partido durante o seu ano como vice-presidente: sobre o orçamento, as leis da igualdade, os escândalos da monarquia e a revogação da reforma trabalhista.

Após a convocação eleitoral em Madri, e com a perspectiva de que o Podemos teria resultados ruins, Iglesias decidiu deixar o gabinete e se candidatar às eleições de Madri, que imprimiram uma forte polarização, tornando-se o principal alvo da candidata do PP, Isabel Días Ayuso.

Com a "consciência absoluta de ter se tornado um bode expiatório que mobiliza os afetos mais sombrios e antidemocráticos", Iglesias decidiu deixar todos os seus postos, embora tenha dito que "continuará empenhado" com ideias e companheiros.

Habituado às reviravoltas dramáticas, o até então líder do Podemos ainda não revelou o seu próximo destino.

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