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OPINIÃO

Depois de duas altas mais fortes, BC deveria reduzir o ritmo da Selic

do UOL

05/05/2021 19h25

Era consenso, na verdade, quase unanimidade, que o Copom (Comitê de Política Monetária), colegiado que reúne os diretores do Banco Central, decidiria por mais uma elevação de 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros (taxa Selic), na reunião desta quarta-feira (5), chegando agora em 3,5% nominais ao ano.

Onde ainda não há entendimento é em relação ao ritmo e o nível dos próximos passos da política monetária. Repetindo o que fez no no comunicado da reunião de março, quando anunciou que projetada nova alta de 0,75 ponto em maio, o Copom voltou a indicar uma nova alta de 0,75 ponto, na reunião de junho.

Manteve também, no comunicado divulgado no encerramento da reunião, a indicação de que está promovendo "normalização parcial" dos estímulos monetários. No entendimento de analistas, embora ressalve que a manutenção de tal estratégia dependerá de como evolua a conjuntura, a mensagem é a de o BC tem na mira um teto para o atual ciclo de alta dos juros básicos.

Imagina-se que o BC prossiga na estratégia de correr mais rápido com os ajustes para depois acalmar o passo. Mas, na medida em que as incertezas ainda são muitas, mais prudente seria não se comprometer com decisões futuras.

Não há dúvida de que o ciclo de ajuste ainda está a meio caminho. Mas ainda não é certo que a economia apresentará recuperação mais consistente, nem que a inflação continuará tão pressionada. O BC poderia, a partir de agora, reduzir o passo, levando os juros básicos a fechar 2021 nos 5,5% projetados no boletim Focus. Nessa direção, poderiam vir altas de 0,5 ponto, nas próximas três reuniões, e de 0,25 ponto, nas duas restantes do ano.

Este nível de taxa Selic ainda seria, em alguma medida, estimulador da atividade econômica. Isso porque há uma convergência para a avaliação de que a taxa de juros real neutra - ou seja, aquela que estabiliza a inflação - se situa em torno de 2,5%, chegando, em termos nominais, a 6% ou 6,5%.

É fato que são muitas as incertezas no horizonte e o BC navega em ambiente de baixa visibilidade. Para retomar um ciclo de altas da Selic em março, o Copom turbinou o comportamento da atividade econômica, elegendo o comportamento mais favorável dos últimos meses de 2021 e as indicações do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que mede apenas uma parte do mercado formal de trabalho, para se sentir confortável em elevar os juros básicos.

Mas a evolução da economia deu uma esfriada depois de fevereiro, com o recrudescimento da covid-19, do que resultou um novo período de restrições de mobilidade e de funcionamento dos negócios. Com o avanço da vacinação, só que ainda em ritmo lento e intermitente, e melhora nas contas externas, é possível vislumbrar melhor na atividade econômica mais à frente, mas não está fácil prever como a atividade econômica evoluirá ao longo de 2021.

Também há dúvidas sobre o roteiro que a inflação vai seguir. A atividade continua dependente do quadro sanitário, com o desemprego e a subutilização de trabalhadores em níveis recordes, dentro da atual série histórica da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua. Isso permite imaginar que a pressão sobre os preços possa se dever mais a choques de ofertas do que a pressões de demanda.

Igualmente complicado é estabelecer até que ponto a alta das cotações internacionais das commodities, que está na base da subida da inflação, não contamina os demais preços. Mais do que isso, até que ponto influenciam, negativamente, as expectativas de inflação.

Quanto à influência das cotações de commodities na marcha da inflação brasileira, não se pode deixar de considerar a própria trajetória da taxa de câmbio. Até recentemente, a combinação de alta dos preços externos com câmbio muito desvalorizado era elemento de pressões inflacionárias adicionais, mas o recuo da cotação do dólar, se persistir, pode acalmar essas tensões.

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