Topo
Notícias

Em "Tempo", seu terceiro álbum solo, Dom La Nena faz viagem poética pelos ciclos da vida

23/04/2021 11h22

A cantora, compositora e violoncelista franco-brasileira Dom La Nena lançou recentemente "Tempo", seu terceiro álbum solo. Aclamado pela crítica europeia, ele traz uma mistura poética de diversos estilos musicais e transita por três línguas diferentes: uma viagem regada à delicadeza e sensibilidade típicas da artista.

Neste novo álbum do selo Six Degrees Records, Dom La Nena aborda com maestria os vários aspectos do tempo. Não por acaso, o trabalho é lançado no começo dos 30 anos da artista, composto no final de seus 20 anos. De forma inconsciente, ela diz que essa nova etapa da vida a influenciou.

"Durante o processo de composição, eu tinha a impressão de que cada música tinha sua vida própria e eu não via uma ligação entre elas. Eu só fui me dar conta de que havia um fio condutor quando o disco estava praticamente pronto. As faixas levantam reflexões em torno da vida, da morte, do nascimento, do amadurecer, do envelhecer, da solidão, enfim, sobre várias questões que têm uma ligação com o tempo", diz Dom La Nena, em entrevista à RFI.

A gravidez e a maternidade também são temáticas que vêm à tona no álbum, seja através dos batimentos cardíacos da filha mixados em algumas músicas ou pelas letras que tratam deste amor incondicional. A pequena Alma é, aliás, a protagonista do clipe "Todo tiene su fin", em que aparece ao lado da mãe.

Mistura de ritmos e línguas

"Tempo" também concretiza um particular universo criado por Dom La Nena desde o início de sua carreira. A jovem começou cedo: os estudos de música tiveram início quando tinha quatro anos, em Porto Alegre, sua cidade natal. As mudanças e vivências em três países diferentes, em pouco mais de 30 anos de vida, a levam a trasladar entre o samba e a chanson française, a bossa nova e a milonga.

"Nasci no Brasil, conheci a música no Brasil e isso foi muito importante. Lá eu tinha uma relação muito prazerosa e alegre com a música que eu não encontrei chegando aos oito anos em Paris, onde eu encontrei algo muito acadêmico e exigente. Depois, passei minha adolescência na Argentina, então tenho uma relação forte com a música da América Latina, em geral, e com a música francesa também. E tudo isso, obviamente, despertou uma curiosidade por músicas do mundo inteiro", conta.

A exemplo dos dois álbuns solo anteriores "Ela" e "Soyo", a artista continua investindo no diálogo entre três línguas diferentes, com uma impressionante naturalidade. Na faixa "Oiseau Sauvage", a artista chega a mesclar português, espanhol e francês.

"É quase como se eu tivesse três línguas maternas, elas fazem parte da minha identidade, cultura e história. O fato de eu usar três idiomas e misturá-los em minhas músicas é algo muito natural, não é como se eu estivesse fazendo algo que eu não dominasse e que fosse alheio à minha história. Acho que cada língua tem uma sonoridade própria, uma particularidade musical. Muito frequentemente percebo que uma letra que eu escrevi em português não funcionaria em espanhol, por exemplo", explica.

Novos caminhos com o violoncelo

Em "Tempo" Dom La Nena também dá um espaço maior a seu instrumento preferido, o violoncelo, que começou a tocar aos sete anos. Uma experiência similar já havia sido desenvolvida no projeto "Birds on a Wire", em 2014, junto com a cantora franco-americana Rosemary Standley, do grupo Moriarty. Mas em seu novo álbum solo, a jovem vai ainda mais longe.

"No 'Tempo', eu tinha essa vontade de fazer um disco violoncelo e voz, mas tentando levar esse instrumento para caminhos que eu ainda não tinha explorado, de uma forma um pouco mais moderna, experimental e pop. Então, eu fui construindo a cor do disco e fazendo os arranjos aos poucos, sozinha ou com o técnico de som no estúdio, experimentando maneiras de transformar o som do violoncelo e levá-lo para novas sonoridades", reitera.

Outra particularidade relacionada ao álbum "Tempo" é o seu lançamento, em plena pandemia de Covid-19. Dom La Nena conta que, diante da crise sanitária, foi obrigada a se adaptar.

"O disco ia ser lançado no ano passado, mas por causa da pandemia, fui adiando. Nesse ano decidi lançá-lo porque achei que fosse uma maneira de me aproximar do meu público. Está sendo diferente, obviamente, pelo fato de não ter shows, não poder encontrar pessoalmente o público e não ter essa troca de energia e esses encontros que são fundamentais para um músico", aponta.

No entanto, a artista encontrou outras formas de se conectar ao público. Enquanto as salas de shows não voltam a reabrir na França, a experiência, ainda que temporária, tem rendido bons frutos.

"Acabou que está sendo legal, apesar de tudo. Estou fazendo muita divulgação e tendo muito retorno de gente que me diz que o disco os acalma, que os ajuda nesse momento tão difícil para todo mundo. Isso me deixa feliz porque uma das principais razões de fazer música é fazer bem ao público", conclui.

Notícias