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Salles torna 'inviável' recuperar imagem no exterior, diz professor da UERJ

Bolsonaro e Ricardo Salles sorrindo  - Reprodução
Bolsonaro e Ricardo Salles sorrindo Imagem: Reprodução
do UOL

Colaboração para o UOL

21/04/2021 22h28

Às vésperas da Cúpula do Clima, que vai reunir 40 líderes mundiais até sexta-feira (23), o professor de Relações Internacionais da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) Maurício Santoro disse que apesar de o Brasil parecer caminhar na "direção correta" no que se refere a diplomacia internacional, a figura do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, torna "inviável" a recuperação global do país.

Em entrevista à GloboNews, Santoro afirmou que o papel da Amazônia no meio ambiente vai ser a principal carta do Brasil para os próximos anos.

"Se jogar bem essa carta pode ser uma boa ferramenta para promover nosso desenvolvimento, atrair investimento e energias renováveis. Sem o papel que a Amazônia exerce em absorver o carbono, será impossível alcançar a meta de conter o aquecimento global. No caso brasileiro, o desmatamento é o principal responsável pela emissão de gás carbônico. Por todos os lados que a gente olha o principal compromisso que o Brasil tem que apresentar é parar o desmatamento. Por mais que a diplomacia esteja começando a acertar, tem que olhar a política feita na base, do fiscal que está ali sem poder trabalhar ou do cientista que não tem recursos. O Brasil está sendo muito olhado por isso", destacou.

O professor também criticou a anti-política indigenista com a qual o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) flerta desde o início do governo.

"Na questão indígena o governo Bolsonaro tem sido coerente desde o início, mas infelizmente é uma coerência do mal. É uma agressividade muito grande com os direitos que os indígenas conquistaram ao longo dos anos, com a Constituição. Uma frequência de querer recuar a um modelo mais antigo, próximo ao da ditadura. Esse modelo econômico baseado no desmatamento é ruim por várias razões, não é só pela questão ambiental. É ruim para economia também. Gera um produto de baixo valor agregado, que não vai chegar na Europa, no Japão e nos EUA porque não vai ter certificação internacional, gera um tipo de uso do solo, de administração dos rebanhos muito ruim. A gente tem que pensar em uma coisa diferente, com aposta em ciência e tecnologia", repreendeu.

Firmado em 2019, o acordo comercial envolvendo Mercosul e União Europeia ainda não entrou em vigor, sobretudo porque os países interessados na parceria devem cumprir padrões para o meio ambiente e os direitos trabalhistas. Sobre o tema, Santoro atribuiu a Bolsonaro o imbróglio.

"Vou colocar nesse bloco a entrada do Brasil na OCDE. Todos eles [projeto] estão na gaveta. São projetos importantes para o Brasil, mas minha interpretação é que eles não serão concluídos enquanto Bolsonaro for presidente, porque a falta de credibilidade dele é muito grande. Eles não vão aceitar as propostas que Bolsonaro colocou na mesa. O Brasil quer ser um grande ator global, mas o país precisa aceitar jogar de acordo com as regras internacionais", apontou.

Convocada pelo presidente norte-americano Joe Biden, o evento virtual visa debater a mudança climática no planeta e seus efeitos. Além de Bolsonaro, estão entre os convidados o líder chinês, Xi Jinping, e o presidente russo, Vladimir Putin.

Na semana passada, Bolsonaro enviou uma carta a Biden se comprometendo a acabar com o desmatamento ilegal até 2030. Uma semana depois, artistas nacionais e internacionais também escreveram ao comandante dos EUA pedindo que ele não feche nenhum acordo com Bolsonaro.

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