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Indígena que falará na Cúpula do Clima diz que não citará governo Bolsonaro

Sinéia do Vale, coordenadora do departamento ambiental do Conselho Indígena de Roraima -  Divulgação/Conselho Indígena de Roraima
Sinéia do Vale, coordenadora do departamento ambiental do Conselho Indígena de Roraima Imagem: Divulgação/Conselho Indígena de Roraima
do UOL

Lucas Valença

Colaboração para o UOL, em Brasília

21/04/2021 20h16Atualizada em 22/04/2021 07h40

A indígena brasileira Sinéia do Vale, convidada para a Cúpula do Clima, realizada pelo governo americano entre hoje e amanhã, deve fazer um discurso mais neutro, sem críticas diretas à atuação do governo de Jair Bolsonaro no meio ambiente.

Líder indígena da etnia wapichana, Sinéia já atacou o que chamou de falta de ação do ministério comandado por Ricardo Salles. Mas hoje, afirmou ao UOL, vai focar sua fala na perspectiva indígena sobre o aquecimento global. Sua participação, representando o CIR (Conselho Indígena de Roraima), está prevista em um debate nesta quinta (22) que será moderado pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA.

"Não quero gastar meu tempo tocando em assuntos e problemas que já estão sendo mostrados todos os dias pela mídia", afirmou à reportagem Sinéia, coordenadora do departamento ambiental do CIR, onde atua há 30 anos. A ideia será mostrar como as mudanças climáticas são percebidas pelos povos indígenas e como afetam a agricultura e a subsistência dos povos nativos.

Irei levar [à Cúpula do Clima] a estratégia dos povos indígenas com relação às questões ambientais
Sinéia do Vale, coordenadora do departamento ambiental do Conselho Indígena de Roraima

Em abril de 2020, em uma entrevista concedida à revista eletrônica Coletiva,Sinéia Wapichana, como também é conhecida, afirmou que "o Ministério do Meio Ambiente está totalmente parado".>

"Nosso enfrentamento às mudanças climáticas não para quando os governos param, quando as câmaras técnicas deixam de funcionar. Continuamos a fazer o nosso trabalho", disse à época.

A defensora da causa indígena também lamentou o aumento do desmatamento na Amazônia que, segundo ela, também tem sido sentido por indígenas. O tema deve ser citado no discurso desta quinta-feira.

"As áreas desmatadas afetam as comunidades indígenas que ficam mais quentes e começam a ter mais pragas nas roças, que antes era totalmente orgânica. As pragas passaram da plantação da soja, cheio de agrotóxico para nossas roças. Isso é um impacto", afirmou à época.

Etnia e conflitos

Sinéia integra a etnia wapichana da Raposa Serra do Sol, terra indígena localizada ao norte de Roraima. O local é foco de conflitos há décadas por conta da vasta exploração de minérios na região, em especial, de ouro.

Em março de 2009, o Supremo Tribunal Federal (STF) ordenou a imediata retirada dos ocupantes não indígenas da região de 1.7 milhão de hectares. Só que a decisão não impediu a permanência de garimpos ilegais.

A fala de Sinéia na Cúpula de Líderes sobre o Clima, comandada pelo presidente americano Joe Biden, acontece no mesmo dia do pronunciamento de Bolsonaro aos colegas — foram convidados para o evento 40 presidentes, além de outros participantes, como o papa Francisco. O encontro será feito por videoconferência devido à pandemia do novo coronavírus.

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