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Com fim de fila de idosos, quem tem comorbidade luta pela vez na vacinação

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Imagem: Fepesil/TheNews/Folhapress
do UOL

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

21/04/2021 04h00Atualizada em 21/04/2021 14h47

Com a expectativa de conclusão da vacinação de idosos a partir de 60 anos, pessoas com comorbidades consideradas prioritárias entre 18 e 59 anos passam a ser o próximo grupo para imunização. Sem vacina para todos de uma vez, associações e sociedades médicas buscam destacar a importância das "suas" patologias na fila.

Ao todo, o PNI (Plano Nacional de Imunização) contempla 21 grupos de comorbidades consideradas prioritárias, com mais de 50 patologias, condições e síndromes que atingem quase 18 milhões de brasileiros. Sem uma orientação específica sobre ordem por parte do Ministério da Saúde, cada estado tem adotado a sua.

São Paulo anunciou ontem início da vacinação de pessoas com síndrome de Down, transplantados imunossuprimidos e insuficientes renais em diálise a partir de 10 de maio. Com a falta de imunizantes, o governo paulista diz ter feito a escolha por critérios de risco e logística, mas não agradou a todos.

"Nós estávamos desde o início já inclusos no grupo de risco. Agora, estamos notando que outras patologias e setores estão passando na nossa frente, toda uma população. Como é que isso fica?", questiona Sheila Ventura Pereira, presidente da Aprofe (Associação Pró-Falcêmios), de portadores de anemia falciforme.

No dia 12, um grupo criou um abaixo-assinado online para pedir a vacinação. "Sabemos que a doença falciforme é uma doença limitante e que alguns pacientes passam por crises ligadas a problemas respiratórios (como pneumonia e síndrome torácica aguda)", argumenta o texto.

Segundo Sheila, eles também enviaram um comunicado à Secretaria de Saúde e deverão fazer um ato na Alesp (Assembleia Legislativa do estado de São Paulo) no próximo dia 23. "Estamos ficando para trás, não está certo. A doença falciforme pode causar complicações muito sérias", afirma.

"A prioridade que deram [em SP] para transplantados é para imunossuprimidos, um grupo certamente de alto risco. Nossos pacientes de endócrino, em especial diabéticos e obesos também são de alto risco", afirma Airton Golbert, secretário-executivo da Sbem-RS (Sociedade Brasileira de Endocrinologia do Rio Grande do Sul).

A inclusão de todos os tipos de diabéticos entre os grupos prioritários foi uma luta ganha pela Sbem e outras três associações. Até março, o PNI não incluía o DM1 (diabetes mellitus tipo 1) na lista.

"Todos os diabéticos têm maior risco a desenvolver complicações graves da covid-19. O DM1 requer insulina e é muito difícil ter o controle ideal. Como é só 5% da população de diabéticos, também deveriam ser prioridade para a vacinação", afirma Golbert, que sugere ainda que todas as gestantes, em especial as com diabetes, sejam vacinadas.

O endocrinologista diz que o PNI deveria priorizar todos os quadros de obesidade, não só a mórbida. "Hoje, estamos vendo que a maioria dos pacientes com quadros mais graves [de covid] tem obesidade. Para eles, o vírus é um fator de risco muito importante", diz.

A SBR (Sociedade Brasileira de Reumatologia), que, entre as prioridades do PNI, representa os pacientes com doenças reumáticas imunomediadas sistêmicas em atividade, argumenta que estar no grupo prioritário já é uma conquista e não há motivo para pânico.

"Estamos apoiando [a vacinação] e conversando sempre com o PNI e os estados. Nossa mensagem é de tranquilização. O racional é primeiro vacinar os que estão sofrendo mais. Enquanto isso, nossos imunossuprimidos já estão nas prioridades, a vez vai chegar. Até lá, é para continuar a se cuidar. Depois também", afirmou a reumatologista Gecilmara Salviato, coordenadora da Comissão de Doenças Infecciosas e Endêmicas da SBR.

Faltam diretrizes nacionais, diz SP

Ao todo, o grupo com 21 comorbidades, que contempla todos os tipos de diabetes, cirrose hepática, doença cerebrovascular, obesidade mórbida, entre outras, reúne 17,8 milhões de pessoas em todo o Brasil e não há uma orientação específica de ordem entre elas.

"Quando você olha o PNI, estão lá todas as comorbidades, mas não há o percentual e a faixa etária por estado. Então, procuramos fazer o nosso mapeamento. Mas o que sabemos é que ainda não tem vacina para todos", afirmou Regiane de Paula, coordenadora do programa de imunização de São Paulo. No estado, a expectativa é que a vacinação dos idosos a partir de 60 anos comece em 1º de maio.

Segundo o governo paulista, a seleção dos primeiros grupos entre as comorbidades prioritárias se deu por uma questão de risco e também logística, visto que algumas doenças são mais fáceis de rastrear e têm uma quantidade de pacientes que pode ser compreendida na conjuntura atual.

"É preciso balancear. Entre hipertensos, que estão entre as prioridades, há em diferentes gravidades. Quase 30% da população brasileira tem [hipertensão], parte dela já contemplada por idade. É preciso ponderar as prioridades também dentro dos grupos prioritários, é todo um processo", afirmou o nefrologista José Osmar Medina, ex-coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo.

Estados e municípios têm autonomia, diz Saúde

O Ministério da Saúde afirmou ao UOL que estados e municípios têm "autonomia" para organizar as prioridades destacadas no PNI "levando em consideração a realidade de cada local".

"O PNI prioriza tanto pessoas com síndrome de Down quanto diabéticos e hipertensos. Mas voltamos a destacar a autonomia dos gestores locais. A ordem dos grupos prioritários foi discutida com vários especialistas", disse a pasta.

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