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Aposentadoria de Raúl Castro é mera "burocracia", dizem analistas políticos

17/04/2021 02h32

Emilio J. López.

Miami, 16 abr (EFE).- A aposentadoria política de Raúl Castro como primeiro secretário do Partido Comunista de Cuba - o único do país - é uma mera "transferência burocrática de poder", e não uma verdadeira transição política, destacaram analistas políticos e opositores cubanos nesta sexta-feira.

Espera-se que o irmão de Fidel Castro anuncie que vai entregar o bastão durante o VIII Congresso do Partido Comunista de Cuba (PCC), que começou nesta sexta-feira e terminará na próxima segunda (19), mas analistas políticos e dissidentes no exílio alegam que ele, sua família e o ambiente militar continuarão a representar o poder na ilha.

"Não é uma transição política, é uma transferência burocrática de poder para uma figura (Miguel Diaz-Canel, atual presidente do país) que continuará a receber ordens da liderança militar mafiosa que controla" a nação, disse Emilio Morales, presidente do Havana Consulting Group, à Agência Efe.

ALAVANCAS DO PODER COM OS CASTRO.

Para Morales, a peculiaridade desta transferência de poder é que Raúl Castro, de 89 anos, colocou todas as alavancas de controle nas mãos de sua própria família.

Assim, disse o economista, quem controla as finanças do país é o genro dele, o general Luis Alberto López-Callejas, junto com o irmão, Guillermo Faustino Rodríguez López-Callejas. "Ambos controlam a GAE S.A. e todas as suas estruturas empresariais dentro e fora do país e em paraísos fiscais", disse o presidente da empresa de consultoria mencionada.

Já o neto Raúl Guillermo Rodríguez Castro, além de ser filho de Luis Alberto López-Callejas, é o chefe do Departamento de Segurança Pessoal, encarregado de proteger Castro e "ficar de olho no resto dos líderes do país", segundo Morales.

Em questões econômicas e sociais, a transferência de poder não significará "nenhuma mudança importante": tudo permanecerá no mesmo "status quo", sem "mudanças estruturais profundas na economia" e governado pelo "sistema econômico centralizado", acrescentou.

Essa opinião é compartilhada pela opositora Rosa María Payá, que acredita que tudo relacionado ao VIII Congresso do partido único cubano é um "grande esforço de propaganda" para apresentar como um momento de mudança o que nada mais é do que uma "mudança fraudulenta".

Filha do falecido líder da oposição Oswaldo Payá, ela acredita que o Congresso partidário, assim como a "aposentadoria" de Raúl Castro, que tem sido o líder da legenda desde que sucedeu Fidel Castro, em 2011, nada mais é do que uma "encenação projetada para o consumo internacional".

Uma mera representação, segundo a opositora cubana, "para colocar um rosto civil exclusivamente nominal na ditadura" e tentar conseguir "concessões econômicas de Washington e da Europa".

Mas "o povo cubano continua sendo o mais excluído", afirmou ela à Agência Efe.

Payá, promotora do movimento Cuba Decide, concorda com Morales que o poder permanecerá nas mãos da família Castro e do "grupo muito pequeno de hierarquias que possuem o conglomerado militar e o corpo de inteligência".

"Quando o regime cubano se submeter à vontade soberana do povo", então poderemos falar de uma mudança democrática em Cuba, ressaltou.

Por isso, segundo ela, "o protesto que se espalhou por toda Cuba horas antes do Congresso" é tão importante.

UM PARTIDO ANACRÔNICO.

O fato de que, pela primeira vez em 61 anos, os Castro não estarão mais na vanguarda da política também não é um fator relevante para John Kavulich, presidente do Conselho Comercial e Econômico Cubano-Americano.

Não, pelo menos, em um cenário com um partido comunista dominante "anacrônico", passando por um longo processo de "decadência", não querendo reconhecer que "não precisa mais lutar por uma revolução, mas para administrar um país", disse Kavulich à Efe.

Ele comparou o partido cubano ao de outras nações comunistas, como China e Vietnã, que ele apontou como capazes de "adotar o papel necessário para que seus países e cidadãos prosperem".

Cuba "só se destaca hoje por sua adesão à mediocridade", sustentada comercial e economicamente por outros países, com 11,3 milhões de cidadãos que "não precisam de nenhuma adesão ideológica" e se tornaram um país "comercialmente inóspito" ao investimento estrangeiro, afirmou Kavulich.

Orlando Gutiérrez, chefe do Diretório Democrático Cubano, disse à Efe que o Congresso do Partido Comunista Cubano é um "truque para o povo", uma "mera reorganização interna para perpetuar sua ocupação ilegítima e criminosa do poder público".

Para Emilio Morales, do Havana Consulting Group, o que pode ser previsto é um "aumento considerável da repressão e das liberdades civis, assim como uma deterioração ainda maior da economia, presa à ineficiência do modelo e ao efeito direto da pandemia".

"Uma situação que colocou o país à beira da fome", lamentou.

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