Castro exige limites a setor privado para evitar "destruição do socialismo"
"O governo cubano não deixou de estar presente com problemas estruturais do modelo econômico que não incentivam o trabalho e a inovação", disse Castro em sua leitura do relatório central do VIII Congresso do partido único cubano, que começou hoje.
O conclave de quatro dias marcará a despedida de Castro, de 89 anos, como primeiro secretário do partido e sua substituição pelo atual presidente de Cuba, Miguel Diaz-Canel. Ambos comandam o encontro, que conta com a participação de cerca de 300 delegados e está sendo realizado a portas fechadas e sem acesso à imprensa estrangeira.
TUDO TEM SEU LIMITE.
Em seu discurso, divulgado pela imprensa oficial cubana, Castro apostou em "consolidar o processo de investimentos" e aumentar a eficiência do setor estatal "ao mesmo tempo em que as formas de gestão não estatal se tornam mais flexíveis e institucionalizadas", um processo em andamento há mais de uma década que já legalizou algumas empresas privadas, como restaurantes, casas de aluguel e salões de cabeleireiro.
Apesar desses avanços, "há limites que não podemos ultrapassar, porque isso levaria à destruição do socialismo", disse o irmão do ex-líder cubano Fidel Castro, após esclarecer que o Estado deve manter "o controle dos meios fundamentais de produção" e, portanto, o monopólio de setores-chave da economia, assim como das redes de importação e comércio.
Raúl Castro afirmou que continuará em vigor a chamada Tarefa de Ordenamento, um plano de choque aplicado desde janeiro que unificou as duas divisas em circulação, multiplicou tanto os salários como os preços, para incentivar o trabalho, e dolarizou parte do comércio, provocando a desvalorização da moeda local e o descontentamento dos cidadãos sem acesso à moeda estrangeira.
O ex-presidente cubano confirmou que as vendas de produtos em dólares - estendidas a uma grande parte da rede comercial e especialmente às lojas menos abastecidas - continuarão indefinidamente até que a economia se recupere e a convertibilidade da moeda cubana esteja garantida.
Castro ressaltou que as reformas econômicas foram elaboradas "com a participação de especialistas, economistas, acadêmicos e a experiência da China e do Vietnã", embora, acrescentou ele, com "diferenças" em relação aos dois países asiáticos.
PROMESSA DO "SOCIALISMO PRÓSPERO".
O ainda líder máximo do partido único cubano confia que a Tarefa de Ordenamento permitirá em algum momento "alcançar um socialismo próspero e sustentável", promessa formulada há seis décadas por seu irmão Fidel.
O discurso de Raúl Castro no VIII Congresso ocorreu em meio a um momento de difícil situação econômica dos cubanos, que sofrem com a escassez de todos os tipos de produtos - desde alimentos e produtos de higiene pessoal até medicamentos, eletrodomésticos e veículos - e ficam em longas filas em frente às lojas quando algo está disponível.
A pandemia do novo coronavírus e o aperto do embargo dos EUA contribuíram para agravar esta crise, enraizada no déficit crônico da balança comercial e nas grandes dívidas de um país que gasta mais do que arrecada devido a sua produção reduzida e sua alta dependência das importações.
A economia de Cuba sofreu um tombo de 11% no ano passado, de acordo com números oficiais.
"Não podemos gastar mais do que geramos em renda", advertiu Castro, que por outro lado agradeceu o entendimento demonstrado pelos credores, incluindo o Clube de Paris, quanto à reestruturação das dívidas de Cuba.
No VIII Congresso, que será concluído na segunda-feira, a economia ocupa uma das três comissões de análise (as outras duas são político-ideológicas) que discutirão os resultados obtidos desde o conclave anterior, em 2016, as projeções de desenvolvimento, o enfrentamento da crise, a conceituação do modelo econômico e a implementação de suas diretrizes.
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