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Dom Odilo Scherer diz enxergar risco de ditadura no Brasil com radicalismo

Dom Odilo Scherer participa do programa "Roda Viva", da TV Cultura - Reprodução/TV Cultura
Dom Odilo Scherer participa do programa "Roda Viva", da TV Cultura Imagem: Reprodução/TV Cultura
do UOL

Do UOL, em São Paulo

13/04/2021 00h19

Chamado de "comunista" por alguns, o arcebispo Metropolitano de São Paulo, Dom Odilo Scherer, disse hoje que enxerga "risco de ditadura" no Brasil devido ao radicalismo promovido por grupos extremistas.

"Eu enxergo o risco de uma virada política para uma ditadura. Ou então para uma tendência a um certo fascismo que vai se afirmando sempre mais. Esse é o risco concreto que vejo. Elas levam nessa mesma direção: vão ajudando a criar, digamos assim, confirmar certas tendências à polarização e fanatismos", disse o cardeal-arcebispo, em entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura.

Em 2016, o próprio religioso foi atacado durante uma missa na Catedral da Sé, em São Paulo, por uma mulher que o acusou de ser um comunista infiltrado na Igreja Católica.

Aos gritos ela dizia: "Você e a CNBB [Conferência Nacional dos Bispos do Brasil] são comunistas infiltrados; não podem fazer isso com a minha Igreja".

Depois avançou sobre ele, arrancou sua mitra, derrubando-o no chão e arranhando seu rosto. Dom Odilo Scherer levantou-se com a ajuda de outras pessoas e seguiu caminhando e abençoando os presentes na catedral.

"Os radicalismos não nascem de um momento para outro e sem motivos. Existem ideólogos de certas ideias radicais, fanatismos irracionais que acabam entusiasmando gente. Estas ideias muitas vezes são misturadas com certo ar religioso, pretensão religiosa. Ao longo da história sabemos que as ideias movem os canhões. Então, se tem pregador fazendo seguidores fanatizados, depois estoura em conflitos sociais", disse o religioso, sem citar nomes, ao relembrar o incidente.

Evangélicos na política

Durante o programa, o cardeal traçou ainda uma comparação entre católicos e evangélicos na política, e questionou em momento de reflexão se o envolvimento de religiosos não seria um caminho perigoso para o futuro da democracia.

"O percentual de evangélicos no Parlamento ou nas representações políticas é proporcionalmente muito maior do que a quantidade de evangélicos na população. A que se deve isso? Se deve ao fato de haver uma ação política das igrejas evangélicas, isso está muito claro. Igrejas que fazem candidatos bispos, pastores, líderes de igrejas, que se propõem para cargos políticos", afirmou o cardeal.

"Esses são métodos que nós, na igreja Católica, não adotamos e conscientemente, por isso, pode parecer que perdemos espaço político. Talvez perdemos. Agora eu pergunto se de fato este é o modo sadio das igrejas e religiões estarem atuando na vida social. A religião atuando diretamente na política será que é a melhor forma? Será que isso não é um caminho perigoso para o futuro da democracia?", pontuou.

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