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Eleição no Peru é marcada por ampla gama de candidatos de direita

10/04/2021 00h22

Álvaro Mellizo.

Lima, 9 abr (EFE).- Uma nova extrema-direita sem complexos, uma direita autoritária e tradicional, uma direita ultraliberal e várias expressões de fundamentalismo religioso, conservadorismo social e ortodoxia de mercado disputam as eleições para a presidência do Peru no próximo domingo (11).

Dos 18 candidatos, sete são claramente conservadores dos pontos de vista social, político e econômico. Outros três poderiam ser considerados de centro-direita, com nuances, e dois como "antissistema" de cunho ultranacionalista, militarista, antifeminista, xenófobo e pouco amistoso em relação à comunidade LGBT.

Além disso, dois candidatos que se identificam com a esquerda têm características de um nacionalismo excludente pouco comum em posições dessa ala política fora do Peru.

LONGA LISTA.

A lista de candidatos é longa e cheia de nuances ideológicos e culturais. Os nomes mais fortes nas pesquisas são:.

- Rafael López Aliaga (ultradireita).

- Keiko Fujimori (direita autoritária).

- Rafael Santos (direita).

- Hernando de Soto (direita ultraliberal).

- Daniel Salaverry (conservadorismo provinciano).

- César Acuña (direita populista).

- Alberto Beingolea (democracia cristã).

- George Forsyth (centro-direita com ares "modernos").

- Julio Guzmán (centro liberal).

- Yonhy Lescano (esquerda econômica, direita social).

- José Vega (ultranacionalista e xenófobo, difícil de classificar, mas com características que são claramente conciliáveis com a esquerda tradicional).

- Daniel Urresti (militarismo populista, difícil de classificar, mas com características que são claramente conciliáveis com a esquerda tradicional).

NADA ESTRANHO.

Estes candidatos competem entre si por votos provenientes dos mesmos setores da população, o que fez com que as posições se inclinassem tanto para a direita que o centro moderado acabou ficando na margem esquerda dentro deste panorama.

No entanto, isso é "normal" em um país onde tanto o conservadorismo social tradicional e religioso como o "consenso" em defesa do livre mercado são muito fortes.

"Não é estranho. Estas candidaturas mostram que o cenário político do Peru tende para a direita. A esquerda é bastante escassa. Em geral, isso ocorre porque no Peru, desde o fujimorismo (movimento em torno do ex-presidente Alberto Fujimori), existe um consenso entre as elites a favor do livre mercado, apoiado pelo crescimento econômico e pela redução da pobreza nos primeiros 15 anos deste século", afirmou à Agência Efe o analista político Mauricio Zavaleta.

Para o especialista em partidos políticos, essa apropriação de valores de "direita" pode ser vista tanto na existência de candidatos que expressam claramente a sua posição como em vários outros "que não dizem, mas são".

FUJIMORISMO AMEAÇADO.

A ampla gama de candidaturas, que sem dúvidas diminui as chances desses candidatos chegarem a um segundo turno devido à divisão de votos, acabou enfraquecendo o fujimorismo político, um modelo de direita que tentou unificar todas as vertentes políticas ligadas a esta ideologia em um único partido.

"Eles se anulam, nesta eleição é muito claro que não conseguem crescer porque todos competem entre si. Isto é também um fracasso da elite empresarial, comercial e social de direito por não facilitar ou coordenar o lançamento de um candidato. Eles não têm um candidato único", disse Zavaleta.

Este cenário foi atribuído pelo analista, particularmente, a Keiko Fujimori, filha de Alberto Fujimori. Em 2016, ela ficou a poucos votos de ganhar a presidência e conseguiu obter uma esmagadora maioria parlamentar que não soube como administrar.

"O desafio do fujimorismo era criar um partido popular de direita, com Keiko como herdeira de Alberto Fujimori. O drama agora é que ela agiu de forma irresponsável e desperdiçou quase todo o seu capital, e esta grande coalizão de direita desmoronou", explicou Zavaleta.

Com isso, a ala mais dura do fujimorismo, em sintonia com os elementos mais reacionários do praticamente extinto Partido Aprista, do falecido Alan García, vê como opção López Aliaga, enquanto "o setor A/B, mais de direita do que de centro, mas da Lima moderna, pró-mercado e pró-direitos, encontrou De Soto".

FENÔMENO ALIAGA.

A irrupção de López Aliaga na corrida presidencial, com a sua mensagem de ultra-direita sem complexos, acirra esta disputa. O milionário ultra-conservador, membro da Opus Dei, celibatário e "apaixonado pela Virgem Maria", abertamente provocador, ocasionalmente antissistema e defensor de uma forma "trumpista" de fazer política, com um uso muito flexível da verdade, acabou fazendo sucesso.

O candidato cresceu rapidamente nas pesquisas de intenção de votos com um discurso hostil, agressivo e populista que oferece tanto inimigos a vencer como soluções rápidas para os graves problemas dos peruanos.

No entanto, ele também parece ter atingido um limite ao não conseguir penetrar nos setores populares e ao ter ofendido empresários e conservadores com algumas de suas afirmações e ações.

LESCANO E CANDIDATO DE EXTREMA-ESQUERDA DESPONTAM.

Neste cenário, surgiu uma oportunidade para Yonhy Lescano e Pedro Castillo, que nas últimas pesquisas de intenção de voto aparecem tecnicamente empatados com Keiko Fujimori na liderança.

O primeiro atrai tanto simpatizantes da esquerda quanto da direita conservadora e que parece não ser totalmente impopular.

"Ele não é um candidato progressista, é socialmente conservador e economicamente heterodoxo. Mas é também uma figura que apela à reivindicação nacional e que é 'anti-imperialista' na linguagem do século XX, mas no seio de um partido reformista de centro-direita como o Ação Popular", afirmou o especialista.

Já Castillo desponta como estranho no ninho na disputa marcada por nomes da direita e mostra nuances radicais.

O professor e sindicalista é candidato pelo partido Peru Livre, de extrema-esquerda, e tem como uma de suas propostas de campanha convencer o Congresso a convocar uma Assembleia Nacional Constituinte para mudar a Carta Magna vigente desde 1993. Perguntado recentemente sobre o que faria se os deputados rejeitassem a proposta, ele cogitou até mesmo dissolver o parlamento.

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