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Traficantes usam política de Biden para impulsionar migração, afirma chanceler de Honduras

09/04/2021 21h14

Washington, 10 Abr 2021 (AFP) - O ministro das Relações Exteriores de Honduras, Lisandro Rosales, disse nesta sexta-feira (9) que os traficantes de pessoas usaram a política de imigração do presidente americano, Joe Biden, para impulsionar o fluxo de migrantes sem documentos para os Estados Unidos.

O chanceler indicou também que "afeta muito" o governo de Honduras o fato do presidente Juan Orlando Hernández ter sido acusado por tráfico de drogas em um tribunal de Nova York, quando "tudo o que fez" foi lutar "de frente" contra o crime organizado.

Segue um resumo da entrevista do chanceler hondurenho à AFP após um diálogo bilateral em Washington entre delegações de alto nível de ambos os países sobre migração, anticorrupção e reconstrução após os furacões Eta e Iota:

- As prisões de pessoas sem documentos dispararam ao longo da fronteira sul dos Estados Unidos. Os traficantes aproveitaram a chegada de Joe Biden ao poder para levar os migrantes?

"Infelizmente, os números mostram que sim. Em novembro, havia 10.000 hondurenhos detidos na fronteira sul dos Estados Unidos e em março, 41.000, com um aumento após a posse do presidente Biden (em 20 de janeiro). Os coiotes aproveitaram a mensagem de que a questão da migração seria abordada de forma abrangente e isso os fez usar as crianças como escudo humano."

- Quantos menores hondurenhos cruzaram ilegalmente para os Estados Unidos?

"Temos um número preliminar não oficial de cerca de 4.000 nos últimos dois meses, mas está aumentando a cada dia."

- A que você atribui essa nova onda de migração?

"O que vemos é que 98% dos detidos na fronteira sul são provenientes das áreas impactadas pelos (furacões) Eta e Iota (de novembro passado), que em Honduras deixaram prejuízos de cerca de 2 bilhões de dólares."

- O que você conversou com Ricardo Zúñiga, enviado de Biden para o Triângulo Norte da América Central?

"Ele demonstrou um interesse especial pela migração, obviamente, mas também pelo plano de reconstrução e como os Estados Unidos podem ajudar. Acredito que devemos aproveitar a reconstrução para gerar oportunidades que mantenham os cidadãos hondurenhos em seu país."

- A congressista americana Norma Torres implorou a Biden que não desviasse fundos para a América Central devido à "corrupção" e "má governança".

"Há 31 anos os Estados Unidos decidiram canalizar seus recursos por meio de ONGs e agências que possuem no país. Não recebemos um centavo do governo dos Estados Unidos diretamente. O que queremos é que 100% ou 98% das ajudas cheguem a quem precisa. Reduzir a burocracia e fazer projetos alinhados às necessidades dos países anfitriões."

- À sombra do narcotráfico -- O presidente Hernández foi indiciado por tráfico de drogas em um tribunal de Nova York, no qual seu irmão e ex-deputado foi condenado à prisão perpétua por esse crime. Como isso afeta o governo de Honduras?

"Afeta muito, porque causa dano à reputação de instituições que provaram exatamente o contrário. Em 2011, 87% das drogas que entraram nos Estados Unidos passaram por Honduras e agora apenas 3%, então obviamente o negócio de alguém foi prejudicado e eles querem vingança. O problema é que assassinos confessos ganham credibilidade em um tribunal dos Estados Unidos e isso lhes permite dizer o que querem contra um presidente que só fez agir direta e frontalmente no combate ao crime organizado."

- O irmão do presidente não é o responsável pelo tráfico de drogas?

"Não tenho como saber os detalhes, mas o presidente Hernández fez o oposto do que foi dito nos julgamentos. Desde 2014, há 41 hondurenhos presos por tráfico de drogas nos Estados Unidos em decorrência da lei de extradição que foi aprovada quando ele era presidente do Congresso."

- Zúñiga é filho de um diplomata e militar hondurenho e neto de um ex-candidato presidencial hondurenho. Você conhecia ele?

"Sim, claro, muito bem. O pai dele trabalhou muito próximo ao meu pai, que foi general das Forças Armadas. Eu o conheço desde criança. Eu o considero muito capaz, muito preparado e muito ciente da situação em Honduras."

- E por que Zúñiga não viajou para Honduras como fez para Guatemala e El Salvador?

"Porque tínhamos essas reuniões agendadas em Washington desde 4 de fevereiro."

- Não tem a ver com a sentença do irmão do presidente por tráfico de drogas?

"Não tem absolutamente nada a ver com isso."

- O senhor solicitou aos Estados Unidos que concedessem um novo Status de Proteção Temporária (TPS) para os hondurenhos, além do que está em vigor desde 1999. Há progresso?

"O secretário (de Segurança Interna dos Estados Unidos, Alejandro) Mayorkas me disse esta semana que estão analisando as datas para conceder um novo TPS a Honduras devido às tempestades. Ele não nos deu uma data, mas esperamos que seja logo."

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