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Conheça Kyal Sin, jovem de 19 anos morta em protesto que virou símbolo da resistência em Mianmar

05/03/2021 16h12

Desconhecida até o início desta semana, Kyal Sin se tornou uma heroína em seu país, Mianmar, a antiga Birmânia. A imagem da garota, que pouco antes de sua morte, vítima das balas da polícia, usava uma camiseta com os dizeres "Vai ficar tudo bem", viralizou. Desde então, os birmaneses, mas também a comunidade internacional, se interessam pela história da jovem.

Kyal Sin tinha 19 anos e era apaixonada por dança e artes marciais. Conhecida como "Anja", a jovem sempre morou em Mandalay, segunda cidade de Mianmar, a antiga Birmânia, onde seus pais têm um salão de beleza.

Ela não era particularmente interessada pela política. Como muitos birmaneses de sua geração, Anja votou pela primeira vez em 8 de novembro nas eleições legislativas, que foram vencidas de forma esmagadora pela Liga Nacional para a Democracia (NLD), partido de Aung San Suu Kyi. E como muitos jovens, no dia do voto, ela postou orgulhosa uma foto em sua página do Facebook beijando o dedo com tinta para mostrar que tinha ido às urnas. "Cumpri meu dever de cidadã (...) votei com o coração", escreveu ela.

Mas menos de três meses depois, a Junta Militar depôs a líder Aung San Suu Kyi, alegando irregularidades nas eleições, e a população decidiu não aceitar o golpe. Kyal Sin rapidamente se juntou ao movimento de desobediência civil, aparecendo nas redes sociais com bandeiras nas cores da NLD e exibindo a saudação de três dedos, sinal que se tornou o emblema da resistência pacífica.

Mas ela era consciente dos riscos que corria, em um país acostumado a uma repressão sangrenta, como em 1988 e 2007. Poucos dias antes de sua morte, Kyal Sin postou nas redes sociais um texto informando seu tipo sanguíneo e dando seu consentimento para uma doação de órgãos caso algo acontecesse.

"Vai ficar tudo bem"

Em algumas reportagens rodadas durante os protestos, a jovem aparece sentada nas ruas, protegida por barricadas improvisadas. Desarmada, ela contava apenas com sua presença nas manifestações para demonstrar seu descontentamento.

Em uma dessa imagens, gravada na quarta-feira (3), a câmera mostra o momento exato em que a polícia ataca os manifestantes com tiros e bombas de gás lacrimogêneo. O vídeo também mostra o instante em que Anja sai correndo em busca de um abrigo. Fotógrafos imortalizaram a cena, na qual é possível ver o pânico em seus olhos, em contradição com o slogan "Vai ficar tudo bem" em sua camiseta. Essa foi a última imagem da jovem, morta minutos depois pelas balas da polícia.

A notícia do assassinato de Kyal Sin comoveu o país. "Ela tomou a decisão de ir para a linha de frente. Era muito corajosa", relatou Shwe Hlaing, um estudante de 24 anos. "Ela arriscou sua vida pela democracia", disse em entrevista à RFI.

O lema de sua camisa se tornou viral nas redes sociais após o anúncio da sua morte: "Você é nossa heroína", "Você já está brilhando nas estrelas" e "Continuaremos a luta até o fim", postam os internautas ao lado de imagens da jovem.

Na quinta-feira (4), milhares de pessoas compareceram em seu funeral. "Não haverá perdão para vocês até o fim do mundo", cantou a multidão em frente ao caixão cercado por flores.

Até esta sexta-feira (5), mais de 50 vítimas fatais já haviam sido contabilizadas durante os protestos em Mianmar.

(Com informações da AFP)

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