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Distribuição lenta de vacinas contra Covid-19 no Brasil expõe indígenas a risco

04/03/2021 16h31

Por Fabio Zuker

SÃO PAULO (Thomson Reuters Foundation) - Quando Merremii Karão foi convidada a uma clínica da cidade de Canindé (CE) em meados de janeiro para receber sua vacina contra Covid-19, outros membros de sua comunidade indígena do Ceará ficaram esperançosos de que em breve também seriam imunizados.

Mas enquanto Merremii foi fotografada recebendo a injeção, o que rendeu imagens que foram distribuídas à mídia, nenhum outro membro do povo Karão-Jaguaribaras do vilarejo de Feijão recebeu a vacina, disse Gleidison Karão, um líder da comunidade.

"Eles usaram a imagem (de Merremii) para dizer que tudo estava indo bem, mas não começaram a vacinação de verdade aqui", disse ele à Thomson Reuters Foundation por telefone.

Especialistas de saúde alertam que os povos indígenas são mais vulneráveis à Covid-19 do que a população brasileira em geral devido a fatores que vão da falta de cuidados de saúde à cultura de divisão de moradias e alimentos.

O Ministério da Saúde diz que todas as comunidades indígenas rurais são parte de uma distribuição prioritária de vacinas.

Mas líderes indígenas de territórios ainda não reconhecidos formalmente pelo governo, como os Karão-Jaguaribaras, dizem que seus povos ainda não estão recebendo injeções.

Povos indígenas que moram em cidades tampouco estão incluídos no grupo prioritário, dizem líderes, o que faz com que os médicos temam que eles levem o vírus aos seus vilarejos.

Dados do Ministério da Saúde ressaltam o ritmo mais lento do que o esperado da vacinação dos povos indígenas do país.

Até 4 de março, cerca de 213 mil indígenas brasileiros haviam recebido uma primeira dose da vacina desde que o programa começou, em janeiro.

É um pouco mais da metade dos 410 mil indígenas que o governo disse que pretende vacinar no grupo prioritário.

De acordo com o censo mais recente, realizado em 2010, cerca de 890 mil indígenas vivem no país, mais de um terço deles em cidades.

Isso leva a crer que só cerca de metade da população indígena do Brasil está no grupo prioritário do governo para a primeira rodada de vacinações.

Alguns líderes e ativistas indígenas dizem que a decisão governamental de não incluir todos os indígenas na primeira fase prioritária da vacinação reflete a incapacidade mais generalizada do país de proteger as comunidades indígenas durante a pandemia.

Já a decisão de excluir indígenas residentes em áreas urbanas da atual rodada de vacinações pode ser um risco em particular, disse Ana Lucia Pontes, especialista de saúde indígena e membro da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).

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