Indignação no Afeganistão após assassinato de três mulheres
Jalalabad, Afeganistão, 3 Mar 2021 (AFP) - Indignação, raiva e medo voltaram a ser amplamente compartilhados nesta quarta-feira (3) no Afeganistão, onde ocorreu o funeral de três jovens funcionárias de uma emissora de televisão assassinadas no dia anterior.
As três mulheres, com idades entre 17 e 21 anos, trabalhavam no serviço de dublagem da rede de televisão Enekaas em Jalalabad (leste) e foram baleadas e mortas em dois ataques separados após o fim do expediente.
"Perdi minha irmã. Hoje a enterro com todos os seus sonhos. Ela queria ir para a universidade, estudar direito", explicou à AFP Rohan Sadat, irmão de Sadia Sadat, durante o funeral em Jalalabad.
Seu primo Mohamad Nazif se pergunta "por que eles atacam jovens inocentes". Aos 18 anos, Sadia Sadat ingressou na Enekaas "para ganhar dinheiro e sustentar sua família", disse à AFP.
Os assassinatos seletivos de jornalistas, juízes, médicos, políticos, religiosos e ativistas de direitos humanos tornaram-se mais frequentes nos últimos meses no Afeganistão.
Os meios de comunicação, e a Enekaas em particular, pagaram um alto preço. Em dezembro, uma apresentadora da rede, Malalai Maiwand, foi baleada e morta junto com seu motorista em Jalalabad, a caminho de seu escritório.
Pelo menos nove funcionários da imprensa foram mortos desde o início de novembro, de acordo com o Comitê de Proteção de Jornalistas Afegãos (AJSC).
"Três meninas inocentes foram assassinadas em plena luz do dia no centro da cidade", lamentou um de seus colegas, que pediu anonimato.
- "Isso tem que acabar" -"Mas devemos continuar lutando contra a ignorância. A única coisa que pergunto ao Talibã é por que eles nos matam", comentou à AFP. "O governo também deve levar a sério a segurança dos jornalistas".
Essa onda de assassinatos ocorre após o início, em setembro, em Doha das negociações de paz entre o Talibã e o governo afegão, com o objetivo de encerrar duas décadas de guerra.
O grupo Estado Islâmico (EI) assumiu a responsabilidade pelo duplo ataque de terça-feira, assim como por outros anteriores.
Mas o governo afegão e os Estados Unidos continuam culpando os talibãs pelos assassinatos seletivos, embora estes recusem as acusações.
Os serviços secretos afegãos suspeitam que a rede Haqqani, grupo ligado ao Talibã e que realiza suas operações mais complexas, esteja por trás dessas mortes.
Esses serviços estimam que os talibãs estão satisfeitos que o EI, que mantém presença no leste do país apesar de ter sido enfraquecido nos últimos anos, receba o crédito.
Muitos analistas acreditam que o Talibã busca desacreditar o governo e silenciar qualquer pessoa que se oponha à sua visão fundamentalista da religião.
As mulheres, cujos direitos fundamentais foram violados durante o regime do Talibã entre 1996 e 2001, não foram poupadas desses ataques.
"A comunidade da mídia afegã sofreu muito. Mulheres afegãs são alvejadas e mortas com muita frequência (...) Isso tem que acabar", tuitou Shaharzad Akbar, chefe da Comissão Independente de Direitos Humanos.
Para a embaixada dos Estados Unidos, "os autores tentam obstruir a liberdade de expressão em um país onde a mídia floresceu nos últimos 20 anos".
As negociações de paz no Catar estão paralisadas e a violência continua aumentando no Afeganistão.
Washington ordenou, por sua vez, a revisão do acordo firmado em fevereiro de 2020 em Doha com o Talibã e que prevê a retirada total das tropas estrangeiras até maio.
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