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Economia do Brasil tem em 2020 maior contração desde 1996 sob impacto do coronavírus

03/03/2021 10h24

Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier

SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A economia brasileira registrou em 2020 a maior contração em 24 anos sob o impacto das medidas de contenção ao coronavírus, e embora tenha terminado o ano com pontos positivos enfrenta agora um pano de fundo de incertezas.

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil despencou 4,1% em 2020, depois de crescimento de 1,4% em 2019, na maior queda desde o início da série histórica do IBGE iniciada em 1996.

O resultado informado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira interrompe três anos de crescimento, quando o PIB acumulou alta de 4,6%.

Mas foi melhor que a projeção oficial do Ministério da Economia, de uma queda de 4,5% em 2020. Entretanto, na véspera o ministro da Economia, Paulo Guedes, havia falado em uma contração menor do que 4%.

Mesmo sob o impacto da pandemia, a economia ainda encolheu menos do que na era Collor. De acordo com o IBGE, antes de 1996 a metodologia para cálculo do PIB era outra, mas dados do Banco Central apontam que em 1990, primeiro ano da Presidência de Fernando Collor de Mello, o PIB contraiu 4,35%.

"No ano de 2020 a economia foi completamente afetada pela pandemia e por suas consequências", disse a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.

"O patamar do PIB no quarto trimestre é equivalente ao fim de 2018 e início de 2019. Estamos 1,2% abaixo do ritmo da economia na pré-pandemia", completou Palis.

Embora o ritmo de recuperação da economia diante da pandemia tenha mostrado perda de força no final do ano passado, ainda foi melhor do que o esperado. No quarto trimestre, o PIB apresentou expansão de 3,2% sobre os três meses anteriores, contra expectativa em pesquisa da Reuters de crescimento de 2,8%, depois de uma expansão recorde de 7,7% no terceiro trimestre.

“O resultado menor do quarto trimestre ainda é uma continuidade da recuperação da economia, até porque o terceiro trimestre subiu muito por conta de uma base muito deprimida. Não voltamos ao padrão pré-pandemia, mas estamos crescendo de novo", completou Palis

No primeiro trimestre a economia apresentou retração de 2,1%, despencando 9,2% entre abril e junho, quando as medidas de contenção contra o coronavírus paralisaram a atividade no país.

Depois de atingir o fundo do poço em abril com a quarentena, o ritmo de recuperação passou a ganhar força no final do segundo trimestre. Entretanto, novas medidas em todo o país que voltaram a fechar empresas e o número constantemente alto de casos e mortes pela Covid-19 voltaram a pesar sobre a atividade.

A lenta recuperação da pandemia fica evidente no recuo de 1,1% do PIB no quarto trimestre na comparação com o mesmo período de 2019, contra expectativa de uma queda de 1,6% nessa base de comparação.

SERVIÇOS

Em 2020, somente a Agropecuária apresentou sinal positivo, com crescimento de 2,0%, puxada pela soja (7,1%) e café (24,4%), que tiveram produções recordes na série histórica.

Ainda do lado da produção, o setor de Serviços, que tem o maior peso na economia e foi o mais afetado devido à sua dependência do contato social, teve recuo de 4,5%.

Serviços ainda é o setor que mostra mais dificuldades para retornar ao nível pré-pandemia. O menor resultado no setor veio de outras atividades de serviços (-12,1%), que são os restaurantes, academias, hotéis.

Já a Indústria apresentou queda de 3,5% no ano passado, sendo que somente a construção despencou 7,0%. Somados, serviços e indústria representam 95% da economia nacional.

Do lado das despesas, os gastos das famílias sofreram as maiores perdas no ano, de 5,5%, resultado mais baixo da série histórica, diante da piora no mercado de trabalho e o distanciamento social.

As despesas do Governo caíram 4,7%, também um recorde com fechamento de escolas, universidades, museus e parques, enquanto a Formação Bruta de Capital Fixo, medida de investimento, teve queda de 0,8%

Em relação ao setor externo, as Exportações de Bens e Serviços tiveram queda de 1,8%, enquanto as Importações encolheram 10,0%.

Já o quarto trimestre teve como destaques as expansões de 2,7% de Serviços e 1,9% da Indústria na comparação com os três meses anteriores. Por outro lado a Agropecuária encolheu 0,5%.

Do lado das despesas, a Formação Bruta de Capital Fixo disparou 20,0% no período, enquanto as Despesas das Famílias cresceram 3,4% e as do governo aumentaram 1,1%.

INCERTEZAS

Depois de toda a turbulência enfrentada em 2020, este ano começa com incertezas que vão do cenário fiscal à lentidão da vacinação contra o coronavírus.

A retomada econômica foi impulsionada em grande parte pelo pagamento de benefício a informais vulneráveis, e o governo ainda não tomou uma decisão sobre a renovação do auxílio, embora haja pressão no Congresso para isso.

A renovação do auxílio acende a luz vermelha para as já complicadas contas públicas no país, o que se soma à deterioração do quadro inflacionário e ao desemprego ainda elevado. A expectativa pelas esperadas reformas completam o quadro.

O Banco Central já eliminou de sua comunicação o "forward guidance", mecanismo pelo qual mantinha o compromisso de não elevar os juros desde que algumas condições estivessem satisfeitas. Com a Selic a 2% e diante das incertezas, o BC se reúne em meados de março avaliando novas informações sobre o cenário econômico e a pandemia.

Dados recentes levantam sinais de alerta para o início de 2021, principalmente em relação à confiança. Para este ano, a pesquisa Focus do BC realizada com uma centena de economista aponta expectativa de expansão de 3,29%.

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