Avanço da covid-19 no Brasil se tornou ameaça global, dizem cientistas
Um dia depois de o Brasil registrar o total de 1.726 mortes por covid-19, número mais alto desde março, dois dos jornais mais importantes do mundo, o britânico The Guardian e norte-americano The New York Times, publicaram reportagens com cientistas alertando que o avanço da doença no país se tornou uma ameaça global, com o risco de gerar novas e mais letais variantes do vírus.
Ao The Guardian, o médico e neurocientista Miguel Nicolelis exortou a comunidade internacional a cobrar o governo brasileiro por não conter a doença que já matou mais de 257 mil habitantes.
"O mundo deve falar com veemência sobre os riscos que o Brasil representa para a luta contra a pandemia. De que adianta resolver a pandemia na Europa ou nos Estados Unidos, se o Brasil continua a ser um terreno fértil para esse vírus?", questionou.
"É que se você permitir que o vírus se prolifere nos níveis em que está proliferando aqui, você abre a porta para a ocorrência de novas mutações e o aparecimento de variantes ainda mais letais", acrescentou ele.
O jornal lembra que a variante P.1., surgida em Manaus, já está presente no Reino Unido.
"O Brasil é um laboratório a céu aberto para o vírus se proliferar e eventualmente criar mutações mais letais. Isso é sobre o mundo. É global", continuou.
Na entrevista, Nicolelis afirmou ainda que a crise do Brasil representa um risco internacional, bem como doméstico, e disse que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que se posiciona contra o distanciamento social, promoveu remédios cuja eficácia não é comprovada, como a hidroxicloroquina, e menosprezou o uso de máscaras se tornou "o inimigo público global nº 1 da pandemia".
As políticas que ele não está colocando em prática colocam em risco o combate à pandemia em todo o planeta Miguel Nicolelis sobre Bolsonaro
"Minha previsão é que se o mundo ficou chocado com o que aconteceu em Bérgamo, na Itália, e com o que aconteceu em Manaus há algumas semanas, ficará ainda mais chocado com o resto do Brasil se nada for feito", disse ele.
Vacinação lenta
O jornal The New York Times destacou que o Brasil começou a vacinar grupos prioritários de sua população em janeiro. "Mas o governo não conseguiu garantir um número grande o suficiente de doses. Os países mais ricos abocanharam a maior parte do suprimento disponível, enquanto Bolsonaro tem sido cético quanto ao impacto da doença e das vacinas", diz um trecho da reportagem.
O Brasil chegou aos 7,1 milhões de vacinados contra a covid-19 ontem. Pelo menos uma dose de vacina foi aplicada em 7.106.147 de brasileiros — o correspondente a 3,36% da população nacional.
A pneumologista da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Margareth Dalcolmo disse que o fracasso do Brasil em montar uma forte campanha de vacinação preparou o cenário para a crise atual.
"Devíamos vacinar mais de um milhão de pessoas por dia. Essa é a verdade. Não estamos, não porque não sabemos como fazer, mas porque não temos vacinas suficientes", disse ela.
Ester Sabino, pesquisadora de doenças infecciosas da USP (Universidade de São Paulo) que estuda a variante brasileira, alertou que outros países devem prestar atenção à situação do país.
"Você pode vacinar toda a sua população e controlar o problema apenas por um curto período se, em outro lugar do mundo, aparecer uma nova variante. Vai chegar lá um dia", explicou ao jornal norte-americano.
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