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Formanda veste uniforme de faxineira para homenagear mãe em ensaio de fotos

Mãe atua como faxineira e teve ajuda da filha para terminar os estudos - Ana Comparini/Divulgação
Mãe atua como faxineira e teve ajuda da filha para terminar os estudos Imagem: Ana Comparini/Divulgação
do UOL

Jean Sfakianakis

Colaboração para o UOL, em São Paulo

02/03/2021 12h10

Uma jovem encontrou uma maneira diferente de homenagear sua mãe durante a sessão de fotos da formatura da faculdade. Roberta Mascena, de 25 anos, pegou o uniforme de faxineira de Marlene Cordeio de Oliveira sem avisá-la e o vestiu sob a beca que usava para o ensaio.

Filha de nordestinos de Afogados de Ingazeira, no sertão de Pernambuco, Roberta queria surpreender sua mãe, que pagou parte da sua graduação até conseguir uma bolsa de estudos semi-integral na Universidade Metropolitana de Santos.

"Sempre pensei em retribuir tudo por eles de alguma maneira, acho que o que eles fizeram por mim, independente da obrigação que eles tinham como pais, foi muito significativo", disse Roberta ao UOL.

A homenagem foi combinada com a fotógrafa do ensaio: "Pedi para ela registrar o momento em que eu tirava a beca e minha mãe viria tirar as fotos", conta a formanda. Marlene abriu um sorriso e os olhos marejaram. A história entre as duas e o mundo escolar vem de longa data.

Marlene interrompeu os estudos aos 13 anos de idade por precisar trabalhar. Sem o ensino médio, trabalhou como cuidadora de idosos e de faxineira durante a juventude da filha. Certo dia, a chefe de Marlene a incentivou a retomar os estudos.

"Eu estava no ensino fundamental e aproveitava para ajudar ela com o que eu podia, eu fazia o meu melhor para conseguir, ela era extremamente empenhada na escola", diz a filha, que ajudou sua mãe a concluir os estudos pela EJA (Educação para Jovens e Adultos) na Escola Barão do Rio Branco, em Santos.

Roberta posa com a mãe após ensaio  - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Roberta posa com a mãe após ensaio
Imagem: Reprodução/Instagram

O futuro de Roberta e da mãe

Agora professora ,após concluir o curso de Pedagogia, Roberta quer participar de projetos sociais e atuar com a formação de crianças em "vulnerabilidade social". Ela se mudou para Ubatuba, no litoral norte de São Paulo, onde presta serviço voluntário voltado à área agrícola.

"Eu gostaria muito de continuar na vida acadêmica, pesquisas científicas, essas coisas. Estou conhecendo outras culturas voluntariando aqui em Ubatuba em um espaço agrícola", relata.

Já a mãe pausou sua carreira de estudante, mas pode retomar em um futuro breve. De acordo com Roberta, Marcelina gosta de Direito e de Medicina, mas não pretende iniciar um curso especializado. A filha pega no pé: "Discordo que ela tenha que parar de estudar", opina.

Plano era mais grandioso

Roberta planejava algo maior que a homenagem na sessão fotográfica, mas teve que mudar o rumo por conta da pandemia de covid-19, que não permite aglomerações. "A colação de grau foi online, então só pude fazer a homenagem na sessão de fotos", diz.

O fotógrafo comentou com a jornalista da faculdade que colocou no site da faculdade. Não fiz para repercutir em nenhum lugar, fiz para mostrar o quanto ela é importante para mim. Se eu pudesse, faria algo para homenagear todos os pais", relata a professora.

Apesar de ter um sentimento especial pelas funções de faxineira, e taxista (profissão do seu pai), Roberta ressalta importância dos professores. Foi graças a eles que me tornei uma profissional crítica, uma profissional honrada. Todos são importantes, eu quero engrandecer minha profissão", encerra.

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