Cerca de 10.000 possíveis vítimas de pedofilia na Igreja na França desde 1950
Paris, 2 Mar 2021 (AFP) - O número de menores vítimas de abusos sexuais na Igreja Católica na França desde 1950 pode chegar a "pelo menos 10.000", de acordo com uma estimativa ainda provisória anunciada nesta terça-feira (2) pelo presidente de uma comissão independente encarregada de investigar os casos.
A Comissão Independente sobre Abusos Sexuais na Igreja (Ciase), criada em 2018 pelo episcopado e instituições religiosas após vários escândalos, havia estimado em junho passado "3.000 vítimas" em uma primeira contagem feita a partir de chamadas telefônicas recebidas após seu pedido por testemunhos.
Um número que "certamente não reflete o todo", disse seu presidente, Jean-Marc Sauvé, que afirmou nesta terça à AFP que "este número pode aumentar para pelo menos 10.000".
"Muitas vezes os acontecimentos remontam à década de 1950 e desde então as pessoas morreram ou, aos 80 anos, já não estão com vontade de falar", acrescentou.
Mas "a grande questão que se coloca é: que percentagem de vítimas atingiu? 25%, 10%, 5%? ou menos?", questionou Sauvé.
"Isso faz parte do trabalho que está em andamento na comissão", acrescentou, especificando que o número de 10.000 seria ainda refinado.
Em junho, Sauvé estimou que o número de agressores poderia chegar a 1.500, mas desta vez não evocou novos números.
"Em algumas congregações católicas e comunidades religiosas foi estabelecido um verdadeiro sistema de abusos (...) Mas se trata de uma minoria", declarou.
A comissão de inquérito apresentará suas conclusões no final de setembro.
Sauvé enfatizou que seu relatório fará "um diagnóstico global" e responderá à pergunta "como chegamos a este ponto, para além das graves falhas (e) transgressões individuais de padres e religiosos?"
O documento também se pronunciará sobre como "a instituição como um todo não cumpriu suas responsabilidades" e avaliará "sua atuação, a oportunidade e a pertinência de suas respostas".
Porque, disse ele, "os abusos adquiriram uma dimensão institucional".
A Igreja Católica em todo o mundo foi abalada por uma onda de escândalos de abuso de menores, que levaram à abertura de investigações judiciais.
Na França, um dos casos mais notórios é o do ex-padre Bernard Preynat, que abusou sexualmente de cerca de 70 escoteiros entre as décadas de 1970 e 1990. Ele foi condenado em março de 2020 a cinco anos de prisão.
Esse caso, revelado em 2015, atingiu a máxima autoridade da igreja francesa, o cardeal Philippe Barbarin, que foi acusado, e por fim absolvido, por não ter denunciado esses atos ocorridos em sua diocese.
Barbarin renunciou ao cargo em 2020, a fim de "virar a página" nesse caso altamente simbólico sobre pedofilia e seu encobrimento dentro da Igreja Católica na França.
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