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Justiça condena 'cérebro' do Estado Islâmico na Alemanha a 10 anos e meio de prisão

24/02/2021 09h43

Celle, Alemanha, 24 Fev 2021 (AFP) - O pregador iraquiano Abu Walaa, apresentado como o "cérebro" do grupo Estado Islâmico (EI) na Alemanha, foi condenado a 10 anos e meio de prisão por um tribunal deste país por ter radicalizado jovens e ajudado a preparar uma ação violenta.

Ahmad Abdulaziz Abdullah Abdullahh, conhecido como "Abu Walaa", era julgado há mais de três anos por um tribunal de Celle, norte da Alemanha, em um processo cercado por drástico dispositivo de segurança.

O pregador de 37 anos foi considerado culpado de pertencer a uma organização terrorista, de financiar o terrorismo e ajudar a preparar ações violentas. A sentença do tribunal foi um pouco inferior ao pedido da Promotoria de 11 anos de prisão.

Três cúmplices foram condenados a penas de entre quatro e oito anos de prisão.

Abu Walaa era, segundo a acusação, "o representante na Alemanha" do EI e tinha "contatos diretos" com seus dirigentes. Também era o "cérebro da rede" que enviava combatentes para Síria e Iraque.

- "Sem rosto" -O pregador estabeleceu na mesquita de Hildesheim (Baixa Saxônia) uma unidade de recrutamento e pelo menos oito pessoas, sobretudo jovens, viajaram ao Oriente Médio, incluindo irmãos gêmeos alemães que cometeram um atentado suicida no Iraque em 2015.

Walaa chegou à Alemanha como demandante de asilo em 2001 e foi detido em novembro de 2016, após uma longa investigação do serviço de inteligência.

Era muito discreto e conhecido como "pregador sem rosto" porque em seus sermões transmitidos on-line, com grande audiência, nunca mostrava o rosto diante da câmera. Também era acusado de ter pregado a jihad na mesquita de Hildesheim, atualmente fechada.

Entre as pessoas que frequentaram o grupo estava pelo menos um dos três adolescentes que, aos 16 anos, colocaram uma bomba em abril de 2016 em um templo sikh da Alemanha. O atentado deixou três feridos, um deles em estado grave. Todos foram condenados à prisão em 2017.

Anis Amri, o tunisiano que cometeu o atentado com um caminhão no mercado de Natal de Berlim (12 mortos em dezembro de 2016), parece ter frequentado esta rede e mantido contato com um dos acusados, o alemão-sérvio Boban Simeonovic, um engenheiro químico que, ao que parece, o recebeu em uma escola islâmica de Dortmund.

O solicitante de asilo tunisiano, morto a tiros pela polícia italiana depois de fugir da Alemanha, também passou por uma mesquita de Berlim conhecida por seus vínculos com o jihadismo e onde Abu Walaa fez pregações. Mas as autoridades não conseguiram estabelecer um contato direto entre os dois homens.

A acusação foi baseada sobretudo no depoimento de uma fonte do serviço de inteligência internos da Alemanha que, durante meses, coletou indícios e provas contra o pregador iraquiano. Como teme por sua vida, esta testemunha foi liberada de prestar depoimento no tribunal.

Outra fonte importante, um combatente jihadista decepcionado que retornou dos 'ex-territórios' do EI, também aceitou cooperar e contar como a rede de Abu Walaa o enviou para o Oriente Médio através da Bélgica e da Turquia.

Mas para o advogado de Abu Walaa, Peter Krieger, as acusações foram baseadas em declarações de uma testemunha que não é confiável porque foi condenado como membro do EI. "A testemunha principal é um golpista", disse.

O terrorismo de extrema-direita se tornou a principal ameaça para a segurança na Alemanha, mas a nebulosa jihadista permanece ativa no país.

Três irmãos sírios, suspeitos de preparar atentados com explosivos, foram detidos no início do mês na Alemanha e na Dinamarca.

Desde 2009, as autoridades alemãs impediram 17 tentativas de atentado deste tipo, a maioria após o ataque em 2016 em Berlim, segundo o ministério do Interior.

O número de islamitas considerados perigosos na Alemanha quintuplicou desde 2013, e alcançou 615, segundo o governo.

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